Bate-Bola | Rosália Silva/Da redação | 06/02/2009 14h19

Bate-Bola: Luis Eduardo Farrell

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Farrell

Aos 55 anos, Luis Eduardo Farrell é o idealizador e o atual presidente da Federação de Karatê Tokay-Kan de Mato Grosso do Sul. Ex-atleta de Karatê Kenshi-Kai, modalidade em que foi formado pelo mestre Yoshinori Okumoto, Farrell viu-se diante de um dilema com a partida do professor para o Japão. Procurou manter-se praticando o esporte, mas por não se adaptar aos outros estilos, criou uma entidade de Karatê Tokay-Kan. Esta história que deu início à Federação e os planos da entidade para este ano estão nesta entrevista que concedeu ao Esporte Ágil.

No calendário da Federação para este ano está o Campeonato Estadual de Karatê Tokay-kan, Campeonato Centro-Oeste e Campeonato Brasileiro de Kakuto Karatê. Disputas que ganharam um aliado a mais após a realização do curso de arbitragem em 2008.

Farrell pratica karatê desde o ano de 1972. Faixa preta e 6º Dan, hoje ministra aula na Academia Farrell, uma homenagem ao seu pai, grande incentivador da prática esportiva. E foi assim, tranquilamente, que o professor respondeu ao seguinte bate-bola:

Esporte Ágil - Gostaria de saber mais da história da modalidade, como ela veio para cá? Como começou?
Farrell - Tenho que começar a falar por mim para que possa chegar até o Karatê Tokay-Kan. Comecei nos anos setenta, me formei no karatê de contato, que se chama Karatê Kenshi-Kai, que passou por um período muito difícil depois de minha formatura, onde houve a implosão. Porque o mestre, Yoshinori Okumoto, foi embora para o Japão e aqui o karatê ficou dividido. Então, por uma questão de pensamentos diferente, de um professor com outro professor mais graduado, eu preferi sair do Karatê Kenshi-Kai. Fui para o karatê tradicional, me aceitaram, mas lá também não deu certo porque o karatê tradicional estava passando por um momento difícil também. Eles estavam saindo de uma organização internacional, chamado Wuko, onde não havia o contato pleno, da modalidade, só de simulação de golpes e o meu era contato pleno, por isso não deu certo, eu saí. Como naquela época, mudou a lei, a Lei Pelé, a Lei Zico, houve a possibilidade de o Estado fomentar as práticas formais e não formais. Eu resolvi criar uma organização chamada Karatê Tokay-Kan.

Esporte Ágil - Aqui?
Farrell - Aqui. Naquela época, lá pelos anos oitenta, existia o CRD, o Conselho Regional do Desporto. Eles criaram uma comissão e foram analisar a nossa prática e a possibilidade de ser reconhecida mais uma organização do karatê. Foi aprovado, levou um tempo, foi demorado. O pessoal vai lá, analisa, vê os treinos, assiste à parte prática, parte filosófica, de cuidados com a anatomia e fisiologia. Fizeram tudo isso e nós recebemos uma nota até boa. Foi mandado para Brasília e aprovaram o reconhecimento da modalidade da Karatê Tokay-Kan. Passamos os anos oitenta e noventa trabalhando e houve a possibilidade de se criar a Federação, no ano de 2003. Mas voltando um pouquinho atrás, até para pudesse se criar a federação, criamos a Organização Brasileira de Tokay-kan. Depois é que houve a possibilidade de criar a federação. E ainda nós não criamos a nossa confederação própria. Até, porque, ficamos naquele antigo... vamos esperar existir em três ou quatro estados, porque por enquanto só aqui existe o Karatê Tokay-Kan, para que possamos criar a nossa confederação brasileira.

Esporte Ágil - Então não tem em outros estados, só aqui? A federação e a prática?
Farrell - Só aqui. Agora, o karatê de contato sim. O Karatê Tokay-Kan é uma organização, é o estilo. A modalidade que é o karatê de contato. Vários estilos de karatê de contato seguem essa modalidade. Existe, a exemplo do Karatê Tradicional, que tem a sua própria confederação e as federações estaduais, assim como o Karatê Kyokushin Kai Kan, existe a nível mundial também. A exemplo também do Karate Wuko, que a princípio eles perderam um pouquinho a identidade, até porque foram criadas mais de duas modalidades, que era só uma que era o karatê. As novas leis, brasileira e mundial, criou-se mais duas, que foi a tradicional e de contato, que antes era só wuko. Então, eles perderam a identidade e colocaram o Karatê Olímpico. Como a palavra olímpico atrai a atenção para Olimpíadas, então ficou uma modalidade que estava induzindo as pessoas a um julgamento errôneo.

Esporte Ágil - Mas todas podem ir para as Olimpíadas?
Farrell - Não. O karatê não é olímpico. Ele está entre as seis modalidades que vão se apresentar para serem olímpicas. Estamos em uma luta danada para que a nossa seja, mas é uma briga dos grandes, mundial, para depois levar para o COB (Comitê Olímpico Brasileiro) para transferir para o COI (Comitê Olímpico Internacional). Interessante é que todas essas organizações são grandes, a nossa não. Então, o que foi criado aqui no Brasil: existia a Associação Brasileira de Karatê, que agregava todas as organizações que estavam aprovadas, porém, não tinham condições de criar suas federações próprias e, por consequência, suas confederações. Depois que ela foi criada é que veio a possibilidade de se transformar na Confederação Brasileira de Kakutô Karatê. Ela é eclética, trouxe assim todas as organizações de estilos karatê para ela nortear a prática no País. Não tem assim, uma confederação brasileira de kyokushin, confederação brasileira de karatê tradicional. Existe a Confederação Brasileira de Contato, porém, ela não agrega todos os estilos. É só quem pratica o karatê de contato. Por exemplo, nós criamos a nossa organização Karatê Tokay-kan, nós não podemos... Aliás, nós até podemos, se nós conciliarmos a Confederação Brasileira de Contato teremos que deixar de existir. Some Tokay-kan, é somente karatê de contato. A maioria não aprova isso, por isso nasceu a Kakutô Karatê. E eu sou representante aqui no Estado de Mato Grosso do Sul, sou um dos conselheiros da Confederação Brasileira. Então, dessa maneira é que nasceu o Karatê Tokay-kan em Mato Grosso do Sul.
 
Esporte Ágil - E quantos clubes são filiados hoje à Federação?
Farrell - São vinte e três clubes. Campo Grande nós temos a Associação Farrell de Karatê, no qual eu ministro aula, dá a impressão de que ela é minha, mas não é. É uma história do karatê. Quando eu era praticante ainda, atleta, muito forte por sinal! Meu pai era o incentivador. E meu pai era tratado de Farrell... Farrell... o sobrenome. Eu falei "pai, vou me formar faixa preta e se puder formar uma academia vou colocar Farrell, em sua homenagem". Então ficou assim, muita gente me trata de Farrell, até meu filho também. É o sobrenome. E além da Farrel, está filiada à Federação o Clube Campestre Ypê, a Academia olhos de tigre, Garra de Tigre, Academia Cosmos. Só aqui existem oito. Depois, no interior do Estado vem Ribas do Rio Pardo, Brasilândia, Água Clara, Corumbá, Dourados, Itaquiraí, Iguatemi e Ponta Porã, acho que não me esqueci de nenhum.

Esporte Ágil - Agora, neste ano, está previsto o Metropolitano em Campo Grande, o Estadual em Corumbá e o Centro-Oeste e Brasileiro em Campo Grande. Estas são as principais atividades da Federação para este ano?
Farrell - São, estes são os eventos oficiais. Um sonho nosso, era sediar... estava olhando nosso primeiro projeto, em 2003, de realizar o nosso Centro-Oeste. Não conseguimos de maneira nenhuma, apesar de que a lei esportiva de maneira nenhuma exige, mas como gostamos de realizar tudo em parceria com o governo do Estado e com o município. A gente gosta de tudo certinho. De forma que para o Centro-Oeste, precisamos de quatro federações.  Mato Grosso do Sul, Goiás, Mato Grosso e também Tocantins. Nós não tínhamos condição de conseguir Goiás e Tocantins. Tínhamos Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Conseguimos de Goiás, que vem com nome da Prefeitura, que está tomando conta do karatê lá, conseguimos o Karatê Interestilos. É interessante, a interestilos agrega vários estilos de karatê, de contato, contato pleno, contato total. Eles participam. Com isso, eu tenho como homologar nos órgãos públicos esse evento.
 
Esporte Ágil - Então, este vai ser o primeiro evento do Centro-Oeste?
Farrell - Vai ser o primeiro. Depois de quase cinco anos nós vamos realizar nosso sonho. Outro que estamos vendo a possibilidade e que estamos muito empolgados é levar o Estadual para Corumbá. Que é uma cidade muito carente da prática da modalidade esportiva de lutas. Muito carente. Não sei o que há lá, se é questão política, o que é. Agora após o Carnaval, não sei se vamos agendar ainda em fevereiro, ou logo no início de março, com o prefeito. Para ele também nos ajudar, ser nosso parceiro, para levar o campeonato para lá. Já levamos um ano para lá, não me lembro se em 98, mas já tivemos um Campeonato Estadual em Corumbá.

Esporte Ágil - Agora voltando um pouco para o ano passado, qual a avaliação do ano de 2008 para a modalidade?
Farrell - Todo ano, que realizamos nossos eventos, o fechamento, eu faço uma análise e acabo ficando muito feliz e dizendo que o ano foi melhor que o ano passado. Nós tivemos grandes revelações. Fico muito feliz, vou falar sobre o Metropolitano. Eu tenho que torcer para todos, mas quando a minha academia, que é onde eu ministro aula, sai campeã no geral, temos essa parte que ficamos felizes nisso. Mas no geral foi muito bom, todas as academias foram muito bem classificadas, levaram bastantes títulos. Até porque no karatê de contato são trinta e seis categorias. É muita categoria, entre crianças, adultos, seniores. No Estadual, Dourados teve classificação boa. Se não me falha a memória, Água Clara ficou em segundo lugar. Nós da Capital ficamos em primeiro no Estadual. No Brasileiro, aí foi o clímax da avaliação do karatê de contato do nosso Estado, porque foram sete estados que se fizeram presentes. E Mato Grosso do Sul, eu não tenho assim na memória, mas parece que foi tudo trinta... trinta... trinta e poucas medalhas que foram conquistadas. Ou seja, nós praticamente levamos tudo. Então, a pontuação de MS foi cento e setenta e tantos. Nós ficamos em primeiro lugar. Comparando, que karatê de contato tem vários estilos e cada estilo quer ser mais forte que o outro. O que prevalecia ser o mais forte era o Karatê Kyokushin. Hoje é o Tokay-Kan. Antigamente falava-se em Karatê Kyokushin, era respeito total. Tipo assim, quem está no futebol, não sei se o Corinthians, o São Paulo, o respeito porque os caras são bons. Então, éramos assim. Treinamentos, os professores treinando mais, conseguindo mais apoio dos empresários, do governo do Estado e do município para que os atletas possam estar mais tempo na academia. Houve a evolução do karatê de contato, não vou dizer só do Karatê Tokay-kan. Porque no Estado existe o Karatê Tokay-kan, Karatê-Dô Shito-Kai, Lenshi Kan, Kensei Kai e Budo-Kai. Essas cinco organizações de karatê de contato. Então, estamos desenvolvendo um trabalho muito bom. Resumindo tudo, nota mil, não foi nem dez, em relação a tudo. Aos professores, em reunião, parabenizei a todos. Até porque no ano de 2008 conseguimos realizar outro sonho. Através deste governo, conseguimos parceria para um curso de formação de árbitros. Esse foi o fulminante no final, porque foi em novembro, nós estamos preparados com um número de equipe de Estado. Nós carecíamos muito, tínhamos que trazer de outros estados e da Confederação Brasileira. Isto tem um custo alto. O governo deu essa mão e formamos trinta e oito árbitros. Cinqüenta se inscreveram, mas alguns ficaram no meio do caminho, tiveram que parar, mas tivemos quase quarenta formados. Somando, o ano de 2008 foi excelente para nós.

Esporte Ágil - Em 2008, então vocês receberam apoio da Fundesporte. Foi em recursos e de quantos foi o apoio?
Farrell - Valores: Campeonato Brasileiro, seis mil reais. E o curso sete mil e poucos.

Esporte Ágil - Tudo parceria com a Fundesporte?
Farrell - Isto.

Esporte Ágil - E este ano, vocês vão entrar com projeto também?
Farrell - No ano passado estive conversando com o presidente Júlio Komiyama, assim como todos os demais é muito prestativo. Quem me deixa com muitas saudades é o Rodrigo Terra, foi um ótimo presidente, nunca nos deixou na mão. Na época dele, chegávamos e dizíamos "precisamos disso e disso", ele respondia "Farrell, não posso te ajudar com isso, mas posso te ajudar com isto aqui". Durante o ano, se íamos dez vezes lá, não saímos com a mão vazia. Assim os demais presidentes também. O Lanzarini, que antecedeu o Júlio, também foi muito bom. O Komiyama também é uma figura muito importante.  Conversei com ele, mostrei a nossa necessidade em 2009, isso em outubro do ano passado, de sediar o Campeonato Centro-Oeste, e sediar novamente, se fosse interesse do governo do Estado, o Brasileiro. Que foi muito bom ter sediado, deu trabalho, mas tudo tem a correria de última hora. Mas conseguimos. Então ele nos pediu para apresentar e eu apresentei já no ano passado mesmo os nossos projetos. Inclusive, não só dos eventos, de realização de campeonatos, mas de inclusão social.  Porque a Federação mantém dentro da Associação Farrell de Karatê um projeto social chamado "Karatê formador de Cidadãos". Ali nós temos a criançada que treina, porque o karatê é uma modalidade cara. Não está ao alcance de todos. Para se ter uma idéia, um quimono hoje está em torno de cem reais. Uma criança de família de baixa renda não tem condições de adquirir um quimono. E as mensalidades das academias giram em torno de cinquenta a oitenta reais. Não tem condições. Depois, se sobressai nos treinos, vai ser escalado para campeonatos. E aí vem o "paitrocínio". Ou seja, é inviável para as crianças e adolescentes de baixa renda. Em 87, eu revolvi criar este projeto, Karatê formador de Cidadãos, em que meus amigos empresários me dão apoio, para manter essa criançada lá dentro, com as despesas da academia. E no ano passado, para este ano, pedi apoio também para o presidente da Fundação e estou no aguardo, para que possamos trazer mais crianças.

Esporte Ágil - Hoje participam quantas?
Farrell - Sessenta crianças, mas sempre há a evasão... E quem são os grandes parceiros nosso, são as escolas públicas. Nós temos entre nossos vizinhos, a Escola João de Paula, o diretor e coordenadores é quem escalam. Eles têm a maneira deles de escolha: "quem está com nota boa, vamos fazer karatê". Tem a Escola Italívio, a Maestro Frederico Libermann e a Coronel Antonino. São as quatro escolas que a gente mantém. Além das associações de moradores e clubes de mães, traz essa criançada de manhã e à tarde. E pedimos para este ano ganharmos apoio, já que no ano retrasado e no passado não foi possível. Vamos ver se é possível este ano. Espero que o governo seja um parceiro muito forte este ano, para que possamos alavancar o karatê de contato em nosso Estado.   

Esporte Ágil - Faltou perguntar algo mais?
Farrell - Outro parceiro nosso, tem sido a Prefeitura Municipal, através da Funesp. O atual presidente, o Carlos, tem nos cedido o Guanandizão para os nossos campeonatos. Para suportar um Brasileiro, tem que ser um ginásio do porte do Ginásio Guanandizão. Então, o presidente da Fundação, tem visto que o trabalho da federação é um trabalho sério. E tem nos cedido não somente o Ginásio, mas também o alojamento, a cozinha. Acredito que ele achou pouco, e nos cedeu o som e o pavilhão municipal. Ali, também temos encontrado as portas abertas. Agradeço muito a ele e também ao prefeito Nelsinho Trad. Acredito que 2009 não será diferente, teremos ali bastante receptividade nas nossas solicitações.

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