Bate-Bola | Osvaldo Sato/Da redação | 04/06/2008 13h15

Bate-bola: João Luiz de Aguiar Fernandez

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João Luiz é coordenador do CT de Ginástica da Funesp e treina times de handebol. João Luiz é coordenador do CT de Ginástica da Funesp e treina times de handebol. (Foto: Osvaldo Sato/Esporte Ágil)

João Luiz de Aguiar

O profissional de educação física João Luiz de Aguiar Fernandez tem mais de 25 anos de histórias para contar sobre o esporte amador campo-grandense. Carioca, veio para a capital sul-mato-grossense no início dos anos 80 e por aqui trilhou sua carreira na educação física, treinando equipes de handebol e também atuando junto às federações de handebol e ginástica artística.

Como atleta, foi medalhista nos Jogos Escolares Brasileiros (JEBs) e nos Jogos Universitários Brasileiros (JUBs). Como treinador, comandou diversas equipes campeãs, tendo também comandado as seleções do Estado na disputa de edições dos JEBs, a principal competição escolar do País. Atualmente, além de continuar treinando as equipes de handebol, ele é o responsável pelo Centro de Treinamento de Ginástica da Funesp, que conta com 350 crianças, num processo de grande desenvolvimento da modalidade na Capital. Em entrevista ao Esporte Ágil, ele falou sobre sua história no esporte, o desenvolvimento da profissão de educação física e também sobre as modalidades de handebol e ginástica.

Esporte Ágil - Conte-nos sua história no handebol.
João -
Nasci no Rio de Janeiro e comecei a praticar judô muito cedo (cheguei à faixa marrom), natação, mas nunca havia ouvido falar de handebol. Participei de uma disputa de jogos escolares aos 15 anos, e o professor viu que eu tinha algum habilidade, por também ser canhoto. Em 1971 participei do meu primeiro JEBs (atual Olimpíadas Escolares), em 72 também fui convocado, coincindentemente o professor João Rocha, ex-presidente da Funesp, também estava nestes Jogos, e nós dois fomos medalhistas de bronze, ele no judô e eu no handebol. Nisso, chegou a época do vestibular, eu iria fazer engenharia, mas estava muito envolvido com o handebol, que decidi fazer educação física. Prestei vestibular na UFRJ em 1974, passei e já em 1974 disputei meu primeiro JUBs, sendo vice-campeão. Naquela época, o handebol não possuía nem Confederação ainda, era vinculado à CBF. Em 76 e 77 também participei dos JUBs, conquistando a terceira posição. Em 1977 estava formado, mas continuava jogando todas as competições possíveis, o handebol começava a ser implantado nos clubes, e meu primeiro clube foi o Bangu. Comecei a trabalhar na área da educação física e, em 1982, me mudei para Campo Grande. Minha primeira oportunidade de emprego aqui foi na Mace, e ali tive um grande desafio, fomos campeões por muitas vezes, e tive atletas em seleções escolares, fui técnico destas seleções, montamos equipe adulta, fui sete vezes campeão dos Jogos Abertos. Meu envolvimento com o handebol é grande, meus quatro filhos foram atletas do handebol, não por minha imposição, mas por vontade própria, foi uma época muito boa, onde havia uma rivalidade saudável. Participei da Federação, coordenei competições como os JABs, sou também árbitro. Atualmente, trabalho com o handebol à noite e, durante o dia, coordeno este Centro de Treinamento de Ginástica.

Esporte Ágil - E este trabalho no CT de Ginástica?
João -
Em 1989 surgiu a oportunidade de trabalhar na secretaria de esporte, apenas com o handebol. Gosto de dar aulas, me formei para isso, dei aula em diversas escolas estaduais e municipais, mas então montamos este projeto de handebol, comigo como técnico. Nisto, este CT estava com um ano, mas sendo administrado por uma pessoa que não era profissional de educação física. Fui então convidado para ficar sediado no CT e também poderia seguir com o projeto de handebol. Estou aqui na ginástica desde 89 e estamos colhendo bons resultados, aqui também funciona a Federação de Ginástica, e temos 350 crianças treinando e umas 400 esperando vaga. As escolas têm desenvolvido seu trabalho também, e isto é muito bom.

Esporte Ágil - Como você vê a evolução da educação física no País?
João -
Na época em que eu fiz o vestibular, a profissão já vinha evoluindo muito, mas as famílias ainda queriam que os filhos fossem engenheiros ou médicos, e as filhas, professoras. Eu sempre gostei de matemática e iria passar no vestibular para engenharia, mas meu histórico no esporte fez eu mudar de idéia, sempre pratiquei esportes porque meu pai estimulava, esportes diferentes.
O profissional de educação física deixou de ser o "profissional forte", por exemplo, todo movimento que existe na escola, chama o professor de educação física que ele resolve, festa, campanha. Mas eu sempre gostei disso, pois você tem um contato muito grande com os alunos. Atualmente, a evolução faz um profissional que foca a parte científica, do estudo do corpo, o que faz com que o profissional de educação física seja cada vez mais valorizado, pelo conhecimento adquirido. Hoje, as famílias se orgulham quando um filho resolve ser um profissional de educação física, porquê mostra que ele está preocupado com a condição da saúde da população.

Esporte Ágil - Você tem preferência por alguma modalidade?
João -
Quando trabalhei no Rio de Janeiro, dei aulas de natação, voleibol, educação física em escolas, treinávamos até de sábado e domingo. Em Campo Grande, foquei meu trabalho no handebol, porquê gosto e via nisso uma grande desafio. Tive um goleiro que, com 15 anos, jogou na seleção escolar até 18 anos, mas ele tinha 120 quilos. Não era por ele ser gordo que ele era um bom goleiro, mas ele tinha condições físicas, flexibilidade, agilidade, as pessoas o olhavam nos campeonatos e não esperavam muito, mas ele sempre surpreendia com ótimas atuações. Este era o desafio, pois muitos falavam que este ou aquele não tinha jeito para esportes, mas handebol você ensina, basta atleta e técnico terem vontade e dedicação. Criamos então uma cultura de handebol ali na Mace, pois os alunos começaram a ter muito interesse pela modalidade. Nunca deixei, porém, que o handebol ficasse acima dos estudos, senão os atletas corriam o risco de seus pais tirarem eles da escola e com toda razão. Teve um ano em que preparei uma equipe muito forte, mas não tinha reservas. O armador da equipe, muito rápido e inteligente, tirou notas baixas e o pai não deixou o guri competir. Dei razão para o pai, pois sempre tive essa preocupação de falar com os pais. Falei também com o aluno, disse que ele estava sendo punido, a equipe estava sendo punida, todos, porquê o esporte não impede ninguém de estudar.

Esporte Ágil - Fale-nos sobre a relação do esporte com a educação.
João -
Houve época em que o atleta era mal visto, porquê muitos achavam que deviam ter privilégios dentro da escola, isso dentro da realidade do colégio particular que cede bolsas para alunos-atletas. Na parte esportiva, esse aluno sempre está bem, mas na sala de aula ele tem que se adaptar à uma nova realidade, e isso às vezes, criava este conflito. A grande maioria dos alunos da rede pública que tiveram essa oportunidade, souberam aproveitá-la, formando-se em faculdade, e neste processo, a família e os professores são muito importantes. A educação física, o esporte, é fundamental na vida de todas as crianças, desde que seja bem orientação, o técnico tem que acompanhar, orientar, suas notas e desenvolvimento, trabalhando com a família. Já o atleta, tem que ser um cara inteligente, pois ele é diferenciado, precisa saber usar sua inteligência, no jogo e na sala de aula. Professores e família devem trabalhar juntos. Na Semed havia - acho que deve existir ainda - um trabalho onde o professor de educação física dava determinado exercício, com conteúdo de sala de aula, para que o aluno experimentasse o conhecimento teórico adquirido na sala de aula.

Esporte Ágil - O que há de bom e de ruim no esporte campo-grandense?
João -
Eu sempre fico admirado com a dedicação dos profissionais de educação física campo-grandenses. Em todas as modalidades, existem bons profissionais, muito dedicados ao que fazem. No handebol, que é um esporte muito dinâmico, presente na maioria das escolas, existem muitos profissionais empenhados. Já o que falta para o esporte de Campo Grande, é apoio para manter os atletas treinando o competindo, depois que ele sai da fase escolar, onde ele tem apoio e acompanhamento dos pais, escolas e até prefeituras. Quando o atleta entra na faculdade, ele pára de jogar, pois o esporte traz despesas para ele, mas é quando o atleta está começando a ficar pronto, amadurecendo. A dificuldade é esta, chega um ponto que não tem como seguir adiante. problema é do município, estado? Creio que não, alguma coisa tem que ser feita, tem que existir um apoio, seja por parte das empresas ou clubes. A política dos clubes aqui de Campo Grande é esta, investem pouco, universidades também, salvo uma ou outra modalidade.

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