Bate-Bola | Osvaldo Sato/Da redação | 04/06/2008 13h20

Bate-bola: Guigo Villanueva

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Guigo Villanueva e sua equipe, a GVJJ, na nova sede da academia, na Vila Planalto. Guigo Villanueva e sua equipe, a GVJJ, na nova sede da academia, na Vila Planalto. (Foto: Osvaldo Sato/Esporte Ágil)

Guigo Villanueva

O faixa-preta de jiu-jitsu Guigo Villanueva é treinador da "arte-suave" (o jiu-jitsu) e também profissional de educação física. Durante sua formação, treinou por três anos na Academia Carlson Gracie, com o treinador Luiz Bebeo, ao lado de grandes nomes do jiu-jitsu e MMA mundial, como Paulão Filho, Vitor Belfort, Zé Mário Sperry, Wallid Ismail e Ricardo Arona. Desde 1999, possui sua própria equipe, a Guigo Villanueva Jiu-jitsu (GVJJ), que participa de todas as competições estaduais, tenho ganho diversos títulos, além de realizar também eventos abertos, como o Open GVJJ de Jiu-jitsu, que teve em maio sua segunda edição.

Em entrevista ao Esporte Ágil, Guigo, que também é vice-presidente da Federação de Jiu-jitsu de Mato Grosso do Sul, falou sobre o crescimento da modalidade no Estado, sobre sua história na Carlson Gracie, sobre sua equipe, e sobre o panorama do jiu-jitsu em Mato Grosso do Sul.

Esporte Ágil - Como você começou no esporte?
Guigo Villanueva -
Comecei no judô, aos seis anos, sempre gostei de artes marciais, lutas de todos os tipos. Lutei também kung fu, karatê, muay thai, mas no dia que conheci o jiu-jitsu, me encontrei na minha modalidade. Sempre digo isso para as pessoas: o jiu-jitsu vicia. Em 94, já em Campo Grande, comecei no jiu-jitsu com o professor Alan, um dos primeiros professores na cidade, que foi também foi mestre do professor do Ocídio, que criou a primeira federação de jiu-jitsu. Eu passei a treinar com o Claudionor (visando o evento de vale-tudo), quando eu era azul, mas me tiraram a azul, isso em 95. Me colocaram para fazer um teste contra o Dilsinho, eu pesava 65kg e ele uns 100 kg, não sei se foi um bom parâmetro, mas então me tiraram a faixa. Lutei o vale-tudo, fiz duas lutas, a primeira venci com menos de dois minutos, e a segunda perdi, mas fiz a luta mais demorada do evento, contra o Santana, faixa roxa de jiu-jitsu, e o pessoal viu que poderia devolver minha azul. Na minha academia, quando algum atleta chega com alguma faixa, eu sempre respeito, mas caso ele esteja em um nível menor dos que os da academia, aconselho dizendo que se ela quiser continuar com a faixa, tem todo direito, mas se quiser evoluir, competir em bom nível, deve voltar a faixa. De 97 a 99, tive o privilégio de treinar na Carlson Gracie, no Rio de Janeiro, com o professor Luis Bebeo, ao lado de caras como o Paulão Filho, Vitor Belfort, Zé Mário Sperry, Wallid Ismail, Ricardo Arona. Lá recebi a faixa roxa. Em 99 voltei para Campo Grande para cursar a faculdade de educação física e comecei com minha equipe, a Guigo Villanueva Jiu-jitsu. Peguei a faixa marrom em 2002, me formei em 2003, e em 2005 recebei a faixa-preta do professor De La Riva, que também é formado pelo Carlson Gracie, mas também tem sua equipe de jiu-jitsu.


Esporte Ágil - E como você pensou em cursar educação física para ser um melhor treinador?
Guigo Villanueva -
Quando eu cheguei em Campo Grande, coloquei minha equipe para fazer frente aos dois professores que detinham a rivalidade na cidade, que eram o Claudionor e o Isaías. Em 99, ganhei o Estadual na faixa roxa, contra o então melhor atleta da faixa, que era o China, da equipe do Claudionor. Venci, antes, o Nilson Pulgatti. Porém, o Claudionor e o Isaías tinham esse diferencial de já serem faixa-preta. Eu era faixa roxa, mas sempre recebi atletas porquê muitos queriam saber as histórias e a experiência que adquiri enquanto aluno da Carlson Gracie. Mas eu achava que precisava de mais um diferencial, então a faculdade de educação física foi importante para isso, para mostrar que o jiu-jitsu não é um esporte apenas de cascas-grossas. Tenho certo orgulho disso, pois fui um dos primeiros professores de jiu-jitsu a me formar em educação física, e agora muitos buscam esse caminho. Sempre houve um preconceito grande ao jiu-jitsu, e sempre lutei para que isso acabasse, minha monografia foi sobre o jiu-jitsu, buscando mostrar também o lado científico do esporte.
Atualmente, as pessoas já não relacionam o jiu-jitsu apenas com o vale-tudo, mas antes isso era comum. Essa relação só existe porquê o jiu-jitsu é realmente muito eficiente em lutas de MMA, mas ninguém luta apenas com o jiu-jitsu, pois o MMA é muito profissional, um esporte definido com regras, diferente do que era realizado no início, anos 80 e até meados de 90, quando o jiu-jitsu realizava muitos desafios em outras academias, contra outras artes marciais e lutas, trazendo pontos negativos, como a inimizade entre as diversas lutas. Isso tudo começou com os Gracie, que realizavam estes desafios no RJ, nós também fazíamos estes aqui em Campo Grande, era usual da época. Por um lado foi bom, demonstrou a eficiência do jiu-jitsu contra as outras artes marciais, mas também trouxe muitos pontos negativos. Agora, estamos nos especializando, já não existem mais os desafios, os professores de jiu-jitsu estão buscando se formar em educação física, o esporte está evoluindo e o jiu-jitsu derruba cada vez mais a discriminação. Cito outros professores que se formaram depois de mim, como o Amaral, presidente da Federação, o Claudionor, o Marcos Barbato (faixa marrom), o Maurício da Lótus, eu fico orgulhoso, pois fui um dos primeiros a fazer educação física, para mostrar um trabalho sério e lutar contra o preconceito ao jiu-jitsu.

Esporte Ágil - O jiu-jitsu de Mato Grosso do Sul está em que nível, comparado ao restante do País?
Guigo Villanueva -
Estamos bem à frente em qualidade. É engraçado fala isso, você pode me perguntar se isso é possível. Todos os anos eu vou ao Rio de Janeiro, levou alunos meus para treinar, conhecer as academias de meus parceiros lá, como na Carlson Gracie, De La Riva, Saporito, e sempre os atletas de lá passam raiva com meus atletas, sempre saio elogiado, pois atletas meus de faixa azul fazem frente com atletas de roxa, marrom. Isso acontece porque lá tem centenas de academias, e com a quantidade, os treinamentos não ficam tão focados. Aqui, são menos alunos, mas que treinam muito e boas academias. Aqui temos muitos campeões, como o Robertinho Abreu, que está ganhando tudo nos EUA, o Marcel Goulart, que está também nos EUA, o Renan da Iron, que está mandando ver nos eventos, tem o Taedes aqui em Corumbá, da Iron, que pra mim é um dos grandes nomes do jiu-jitsu do Estado atualmente.
Considero o Rio de Janeiro o maior celeiro de atletas no jiu-jitsu, e tem também Manaus com ótimos atletas, mas a gente se compara com eles. Quando levo meus alunos para o RJ, os mestres de lá dizem que estou segurando faixa de meus atletas, mas eu não faço isso, eu trabalho sempre para melhorar sempre a qualidade técnica do atleta. As boas academias de Campo Grande trabalham assim. Eu tenho um critério: para passar um aluno de faixa, por exemplo, para a roxa, ele tem que estar no nível do Japa, tenho ele como referencial, para assim outro atleta pegar a roxa. O Japa é um dos melhores atletas da roxa no Estado, ao lado do Dilon, da Fight Sports, fazem lutas acirradas. Nosso parâmetros e nosso nível técnico são altos, para podermos brigar com os grandes pólos de jiu-jitsu brasileiros e, consequentemente, do mundo.

Esporte Ágil - Deixa um recado para os lutadores que forem ler essa entrevista.
Guigo Villanueva -
Esse Centro de Treinamento é onde queremos fincar nossos pés, colocamos uma fachada bonita e estamos trabalhando. Tenho a maioria dos meus atletas na faixa branca e estou orgulhoso pelo seu crescimento e resultados. O que eu quero é com os faixas-brancas, quero ensinar estes atletas. Aqui em Campo Grande há muitos bons atletas, mas que pulam daqui pra lá, e estes não me interessam. Isso eu deixo bem claro, não é arrogância, mas eu prefiro que cada graduado fique em sua própria academia. Mudar de academia prejudica o próprio atleta e seu treinador, acho que se for pra mudar de academia, melhor até parar de treinar. Gosto de ensinar o jiu-jitsu e, graças a Deus, tenho recebido diversos novos atletas, iniciantes, que estão aprendendo. Treinamos a semana toda, fazemos também intercâmbio com o pessoal do judô, dos senseis Luciano Bittencourt e também do sensei Reginaldo. Tenho um projeto desenvolvido junto à Escola Vespasiano Martins e os atletas já estão ganhando títulos, o que me deixa muito orgulhoso. Quero graduar eles na azul, na roxa, na marrom e, quem sabe um dia, na preta. Sei que é difícil, porquê todos tem suas responsabilidades, estudos, trabalho, mudam de cidade, fatores que afastam o aluno da academia, não é só a "creontagem", termo criado pelo mestre Carlson Gracie pra definir esse mau costume das pessoas mudarem de academia. O atleta tem que honrar sua academia, esteja ela bem ou mal. Se el está mal, lute para que melhore. Tem atleta que diz: "aqui não tem mais treino pra mim". Poxa, você é bom mesmo hein, acabou o treino para você, então está na hora de fazer algo, arrume um jeito de ajudar seus professores a melhorar os treinos da equipe. Isso é esporte! Quando eu ganhei o estadual de 99, só tinha faixas brancas na minha academia, e eu não tinha outro lugar para treinar, meu treino era com os brancas. Quem faz o treino é o próprio atleta. Esse papo de dizer que não tem treino para seu nível, é conversa de creonte, que significa traidor, que não valoriza seu dojo, sua academia, seu local de treino. Esse recado eu queria passar, para que acabe essa creontagem, faça com que sua equipe cresça, não a abandone numa fase difícil. Se você aprender essa fidelidade como atleta, quando tiver sua esposa, sua família, aumentam suas chances de ser fiéis a ela também. A gente tem que aprender a brigar para melhorar as coisas, não abandonar na primeira dificuldade, e isso a gente pode aprender na academia, com o jiu-jitsu.

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