Bate-Bola | Da redação | 01/12/2005 18h39

Bate-Bola: Edson Araújo

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Edson Araújo

Edson Araújo foi atleta durante doze anos. Como ciclista conquistou vários títulos para Mato Grosso do Sul, participou de voltas internacionais e chegou a integrar a seleção brasileira de ciclismo. Quando deixou a carreira de atleta, Edson se tornou técnico e dirigente da modalidade e hoje preside a Federação Sul-mato-grosense de Ciclismo. Ele comenta aqui as dificuldades de manter a Federação e responde as criticas que recebeu dos presidentes da Liga MS de Ciclismo em outubro deste ano, em entrevista realizada pelo Esporte Ágil.

Ele nos fala também que há uma carência de atletas de ciclismo em Mato Grosso do Sul, já que os últimos destaques de nosso Estado integram hoje equipes paulistas, onde são remunerados. Isso acontece devido à falta de estrutura que Mato Grosso do Sul oferece para que esses atletas possam se manter através do esporte.

Esporte Ágil - Há quanto tempo você preside a Federação de Ciclismo de Mato Grosso do Sul?

Edson - Fiquei um ano em 1998, depois entrei como vice. O presidente renunciou e assumi em seu lugar desde 2000 até 2004. Neste ano iniciei meu novo mandato. Houve uma evolução muito grande no ciclismo sul-mato-grossense, posso dizer que fiz a diferença como técnico e ex-atleta.

Esporte Ágil - De onde veio o interesse em presidi-la?

Edson - Meu interesse se deu devido à carência de governantes. Trabalhar com ideais alheios sem ganhar nada é muito difícil, ainda mais sem haver um recurso básico para se trabalhar. O dinheiro da Federação vem das anuidades dos clubes. A gente tem cobrado R$ 150,00 por ano dos clubes. É uma verba simbólica que dá para bancar somente despesas de papéis e cartuchos de tinta. Participamos de leis estaduais de incentivo ao esporte, como o FIE, que hoje beneficiam o país inteiro, pois vários Estados solicitaram a cópia dessas leis e as aplicam até hoje, como é o caso de Goiás, São Paulo e Mato Grosso. Muita gente quer presidir a Federação, mas não sabe como conduzi-la. A Federação é uma instituição que agrega os clubes e tem o dever de fomenta-los e realizar o Campeonato Estadual e, se tiver caixa, fazer também uma seleção para levar ao Campeonato Nacional. Algumas pessoas aqui do Estado confundem um pouco essas questões exigindo que a Federação realize coisas que não estão ao seu alcance, sem respeitar a hierarquia que existe. São pessoas ignorantes que não possuem total conhecimento e procuram a imprensa para falar um monte de besteiras.

Esporte Ágil - Você já praticou ciclismo?

Edson - Fui atleta durante 12 anos, corria pela extinta equipe da Perkal. Já conquistei vários títulos para Mato Grosso do Sul, participei de voltas internacionais e da seleção brasileira. Depois acabei assumindo como dirigente, mesmo porque, na época em que eu era atleta sofri muito na mão de dirigentes irresponsáveis. Eu fui o primeiro técnico a ser campeão brasileiro e fizemos com que os quatro primeiros campeões sul-mato-grossenses se tornassem campeões nacionais no velódromo, sendo que ainda não temos este tipo de pista aqui no Estado e sentimos uma falta enorme.

Esporte Ágil - O que é o velódromo?

Edson - É uma pista olímpica na qual são realizadas 11 modalidades diferentes de competições ciclísticas. São distribuídas nas Olimpíadas 66 medalhas e acho que no Brasil não faltam bons atletas porque temos poucos velódromos e muita gente que tem o biotipo adequado para este tipo de pista. No último brasileiro de velódromo conseguimos colocar dose atletas do nosso Estado no cenário nacional, sendo que 6 conseguiram medalhas de ouro. Existe um intercâmbio muito bom entre a Federação de Mato Grosso do Sul e as Federações paulista e paranaense. Agente costuma mandar os atletas com antecedência para treinar nas pistas de velódromo de São Paulo.

Esporte Ágil - Os presidentes da Liga MS de Ciclismo afirmaram que a Federação trabalha em prol de interesses próprios e realiza poucas competições. O que tem a dizer sobre isso?

Edson - Quem entende do assunto sabe que são pessoas despreparadas. Não existe nenhum interesse próprio. Trabalho no ramo ciclístico, sou lojista, mas ninguém pode provar que coloquei o nome de minha loja para ser beneficiado em momento algum. O nome da minha loja nunca esteve agregado a evento algum. São pessoas que não sabem o que estão falando. Tenho que ignorar essas acusações. Realmente em outros anos acontecia isso, mas antes de eu assumir. Em 2004 eu quis sair da Federação, pois é difícil trabalhar sem remuneração alguma e sempre tendo que tirar dinheiro do bolso pra fazer a instituição funcionar. Nós queríamos passar a bola para esse pessoal da Liga, já que estão dispostos a trabalhar com o ciclismo. Mas eles ignoraram o fato de eu precisar renovar uma documentação necessária. Eu fiz uma reunião com eles e me disseram que já haviam fundado três clubes, isso foi proposital para que assumissem a Federação. Além do que, não quiseram me dar a ata para que eu renovasse o Secad, algo que eu necessitava até para que o próximo presidente estivesse apto e tranqüilo para exercer o mandato. Eles acharam que se me dessem a ata estariam me elegendo novamente. Esse era um processo necessário, mas eles ignoraram. Nós temos todas as prestações de contas feitas e possuímos destaque nacional. Somos a única Federação do Brasil que realiza uma volta internacional. Em outros Estados a volta também acontece, mas não são realizadas pelas suas Federações.

 
Esporte Ágil - O trabalho da Liga prejudica a Federação de alguma forma?

Edson - Eles alegam que a Federação não se preocupa com a participação de atletas nas competições, o que não é verdade. Nós queremos atletas sim, mas de forma legal. Para eles, é só o atleta chegar, se inscrever na Federação e amanhã já está correndo. Não é assim, existe um estatuto e uma regulamentação, o atleta não tem vinculo nenhum com a Federação e sim, com o clube. Do jeito que eles trabalham, parecem atletas de "final de semana", que não se preocupam com questões como um bom treinamento ou o uso de bons equipamentos, para que os atletas sejam ciclistas competitivos. Competindo da maneira deles, não há necessidade do atleta ser federado. A idéia deles é válida, já que fundaram uma instituição que agrega este tipo de atleta, eu só não concordo com o fato deles estarem tentando ocupar o lugar da Federação, querendo realizar eventos que cabem a nós executar.

Esporte Ágil - Quais eventos a Federação realiza durante o ano?

Edson - Fizemos, juntamente com a Sejel, os II Jogos de Verão. Depois realizamos a quarta Copa Metropolitana, que é um evento aberto aonde o atleta vem, participa de forma iniciante e opta se quer ser um atleta de rendimento ou não, para depois ser agregado a um clube que o inscreva na Federação e assim possa competir o estadual. Temos também a Volta Internacional do Pantanal, onde trazemos atletas de outros países e do Brasil inteiro e damos um privilégio maior para os atletas locais.

Esporte Ágil - Quantos clubes são filiados a Federação?

Edson - Sete clubes. Os clubes mais antigos estão sempre com a gente.

Esporte Ágil - Como está o nível de desempenho dos atletas de MS?

Edson - Hoje temos uma carência de atletas porque conseguimos que todos os destaques que havia aqui fossem agregados em equipes de São Paulo, onde são remunerados. Lançamos estes atletas em um mercado nacional, já que aqui no Estado não há uma estrutura para que possam se manter através do esporte. Não temos grandes empresas que lidam com o segmento de ciclismo e convencer empresas de outros ramos a investir nisso não é fácil. Como não temos estrutura, temos que exportar.

Esporte Ágil - Os atletas do Estado contam com apoio ou patrocínio quando vão competir fora?

Edson - Quando vão pela Federação conseguimos as passagens e, às vezes, um dinheiro extra para custear outras despesas. Outras vezes os clubes mandam seus atletas com recursos próprios, sendo que em alguns casos a Federação ajuda. Se no final do ano houver algum dinheiro em caixa, o passamos para quem estiver no ranking de quem participa de campeonatos fora do Estado, até porque, trabalhamos sem fins lucrativos.

 

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