A trajetória de Meire Ellen da Silva, de 42 anos, é marcada pela persistência e pela superação de desafios que vão além da rotina intensa de treinos e dietas. Nascida em 2 de janeiro de 1983, em Palmital, interior de São Paulo, ela realizou o sonho de ser fisiculturista após anos ouvindo que este era um esporte “para ricos”. “Meu sonho sempre foi ser fisiculturista, mas minha mãe me dizia que era coisa de rico. Hoje entendi o porquê”, comenta.

A atleta começou a competir em 2020, quando participou da Copa Mutantes, na cidade de Bonito, Mato Grosso do Sul, e conquistou um lugar entre as três melhores. No entanto, a pandemia interrompeu sua trajetória naquele momento. “Com a pandemia parei”, relembra. Depois desse período, retornou ao interior de São Paulo, onde encontrou melhores condições para dar continuidade à carreira esportiva.

“No interior de São Paulo tive acesso mais fácil. Dividimos viagem e só pagamos a competição mesmo. Tudo é muito caro, mas hoje, há três anos, venho ganhando NPC Musclecontest, campeã e overais, três vezes”, afirma. A NPC (National Physique Committee) Musclecontest é uma das maiores organizações de fisiculturismo amador do mundo e um dos principais caminhos para quem busca o status profissional no esporte.

A rotina de Meire Ellen é marcada por treinos intensos, trabalho e a constante necessidade de buscar recursos financeiros para custear as competições. “Devido ao trabalho, a rotina se torna bem corrida. A última semana sempre judia mais, devido ao corte de carboidratos e à super hidratação”, explica. Ela também destaca as dificuldades financeiras que enfrenta no dia a dia: “Desafios enfrentamos todos os dias, com os gastos e a rotina. Tudo eu pago com vendas de rifa e meu trabalho. Hoje patrocínio é muito difícil”.

Mesmo com as barreiras, Meire Ellen celebra o avanço do fisiculturismo feminino no Brasil. “O fisiculturismo feminino está ganhando espaço e muito reconhecimento, mas somos guerreiras, merecemos muito espaço. Um minuto de um espetáculo de beleza”, define. A atleta compete atualmente na categoria Women’s Figure, uma das mais tradicionais da modalidade, que busca valorizar a simetria, a definição muscular e a feminilidade das atletas. “Hoje minha categoria, Women’s Figure Zama Benta, é um espetáculo, representando muito o Brasil”, afirma.

Ao longo da trajetória, a fisiculturista aprendeu a lidar com a pressão estética, comum entre os praticantes do esporte. “Hoje a pressão estética não me abala muito. Já abalou bastante, hoje não mais. A busca de um corpo perfeito… Eu sempre busquei encaixar na categoria. Não é fácil, mas estou sempre em busca”, diz.

Em 2025, Meire Ellen se prepara para novos desafios. Ela está pronta para competir na Argentina, no próximo dia 12, e mira um objetivo maior: conquistar o tão sonhado Pro Card, que confere o status de atleta profissional no fisiculturismo. “Agora estou pronta para competição na Argentina e depois vamos tentar um Pro Card”, anuncia.

A dedicação ao esporte é integral. “Eu sou atleta 365 dias por ano, deixando muitas coisas para viver isso”, resume. E deixa um conselho para quem deseja seguir o mesmo caminho: “Seguir seu sonho compensa muito. Respira e vai”.

Além das vitórias e troféus, Meire Ellen carrega como maior motivação o apoio da família. “Tenho dois maravilhosos filhos. Minha mensagem sempre, a primeira nas competições, é deles. Eles têm 18 anos e 23, motivo de cada sonho realizado. Eles me apoiam muito, me ajudam muito para pagar, porque hoje é um custo muito grande nas viagens e competição. Família é meu alicerce: são meus filhos, amigos — poucos, mas que me apoiam bastante — e minha família”, destaca.

Aos 42 anos, Meire Ellen compartilha uma mensagem de perseverança, especialmente para as mulheres que desejam ingressar no fisiculturismo. “Eu falo: todas podemos chegar onde queremos. Não é um esporte barato, mas você consegue”, afirma.

Com uma trajetória construída sobre esforço próprio, disciplina e amor pelo fisiculturismo, Meire Ellen segue como exemplo de que é possível transformar sonhos em conquistas concretas, mesmo diante das adversidades financeiras e pessoais. Sua história reforça a importância do apoio familiar, da determinação diária e da busca constante por novos desafios no esporte.

Atualmente, ela segue sua preparação com foco total nas próximas competições, representando o Brasil e inspirando outras mulheres a acreditarem em seu potencial. “Respira e vai”, repete, como lema que traduz sua filosofia de vida e de atleta.