Editorial | Gabriel Neri | 26/11/2020 07h32

Maradona: o maior dos argentinos

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O dia 25 de novembro de 2020 ficou marcado para sempre como a data que Diego Armando Maradona nos deixou. O eterno camisa 10 da Seleção Argentina morreu em decorrência de uma parada cardiorrespiratória no começo da tarde na Grande Buenos Aires aos 60 anos, completados no último dia 30 de outubro.

Diego Maradona, filho de Diego Maradona (1927-2015) e Dalma Salvadora ‘Tota’ Franco (1930-2011), ou simplesmente Diego, como é chamado na Argentina, foi muito mais que um gênio, que um craque dentro de campo. Fora de campo, foi tão grande quanto ou até maior. Maradona sempre teve seu posicionamento político, alinhado à esquerda, como sua canhota imortal. E também temos de lembrar que ele foi inesquecível nos estádios apesar das drogas e do álcool, não por causa deles.

Dieguito, o Pibe de Oro (menino de ouro, traduzido do espanhol), sempre será lembrado como o maior dos argentinos. Ora, um homem que carregou um país de 30 milhões de pessoas nas costas na Copa do Mundo de 1986, no México, não desaparecerá. Naquela mesma Copa, antes de levantar o título sobre a Alemanha, fez seus dois mais famosos gols: o gol com la mano de Dios (a mão de Deus, tradução do espanhol) e o gol do século contra a Inglaterra.

Antes de fazer história com a camisa azul e branca da Argentina, começou sua carreira no pequeno Estrella Roja e depois passou pelos Los Cebollitas. A passagem para o profissional foi no Argentino Juniors. Com sua ascensão, teve várias propostas para sair de seu primeiro clube no profissionalismo e escolheu ir para o Boca Juniors. Pelo time da Bombonera, encantou tanto que foi para a Europa jogar no Barcelona, Napoli, onde viveu seu auge na carreira, e no Sevilla. A volta à Argentina foi no Newell’s Old Boys e o encerramento foi no Boca no ano de 1997.

Pela Seleção, por pouco, não foi convocado em 1978 para a Copa sediada na Argentina, que teve o time sede como campeão. Na década seguinte, fez tudo o que foi possível, campeão, vice, melhor jogador de Copa, capitão e ídolo argentino. Em 1990, deu o passe para Claudio Caniggia eliminar o Brasil com um gol que virou música. Nos Estados Unidos, na Copa de 1994, foi flagrado no doping pelo uso de efedrina e nunca mais usou a camisa albiceleste como jogador.

O maior dos argentinos nos mostrou que não estava longe da realidade. Por isso é chamado de Diego pelos hermanos. Maradona é muito distante, o primeiro nome evoca a proximidade. É como se tivessem um vizinho como ídolo, um amigo que pode chegar a qualquer momento para um almoço.

Até por isso, pela sua humanidade, pagou o preço das drogas com vários tratamentos e quase perdeu sua vida em alguns momentos. Maradona fez tratamento em Cuba, onde chegou a ficar em coma. Nessa relação com a ilha, conheceu Fidel Castro e o considerou como um segundo pai. Após ficar entre a vida e a morte, tornou-se de esquerda e apoiou vários líderes latino-americanos como Evo Morales, na Bolívia, Lula, no Brasil, Cristina Kirchner e Alberto Fernández, na Argentina e Nicolás Maduro, na Venezuela. Por ironia do destino, Maradona nos deixou no mesmo dia que se completou quatro anos da morte de Fidel Castro.

Humano como nós e Deus, como Maradona nos ensinou que um menino pode driblar todo o mundo e ser grande. Diego foi enorme, ainda é e para sempre será. Ele teve problemas como todos nós temos. Foi amado, odiado, glorificado, escrachado e também Deus de uma igreja, a Igreja Maradoniana.

Na sua fase final no futebol, foi treinador da Argentina entre 2008 e 2010, depois passou pelo Al-Wasl e Al-Fujairah, dos Emirados Árabes Unidos, e pelo Dorados de Sinaloa, do México. Por fim, foi para o Gimnasia y Esgrima de La Plata, da Argentina. Seu último jogo comandando a equipe foi na Bombonera, na rodada final da Superliga Argentina 2019-2020. Ele foi homenageado pela torcida do Boca que estava lá para “alentar a Marado” (apoiar Maradona) e sair campeão. Carlitos Tévez fez o gol do título usando a 10 de Maradona no último jogo do Boca com público antes da pandemia.

Quase nove meses depois, os estádios argentinos e o Beira-Rio, que se iluminou de azul e branco, acenderam as luzes para homenagear Diego Armando Maradona, com exceção da Bombonera, que só ligou a luz do camarote onde o D10s via os jogos. Nesta quinta-feira, ele será velado na Casa Rosada, sede do Governo da Argentina. O Pibe da Villa Fiorito, filho de Dona Tota e Diego, nasceu na pobreza e chegou ao céu.

Descanse em paz, Diego Armando Maradona!

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