Da Redação
A ginástica artística em Ponta Porã, no sul de Mato Grosso do Sul, ganhou forma a partir da iniciativa pessoal de uma jovem treinadora que encontrou na cidade um espaço vazio na modalidade. Gabriele Andrade Mir, nascida em Campinas (SP) em 14 de outubro de 1999, começou na ginástica acrobática aos 4 anos de idade e, pouco tempo depois, deu os primeiros passos na ginástica artística.
“Meu professor de educação física me chamou para participar de uma peneira de ginástica artística no Clube Campineiro de Regatas e Natação. Assim se iniciou minha trajetória na ginástica”, relembra. A partir dali, a modalidade passou a fazer parte de sua rotina e moldar seu caminho profissional.
Aos 17 anos, Gabriele se mudou para Ponta Porã e iniciou o curso de Educação Física. O contato com a nova cidade, no entanto, trouxe uma constatação: “Vendo que na cidade não havia ginástica artística, resolvi abrir um ginásio.” Assim nasceu o projeto que hoje leva o nome de LM Ginástica Artística, responsável por inserir crianças e adolescentes de Ponta Porã no universo da modalidade.
O trabalho de Gabriele, entretanto, enfrenta desafios constantes. Segundo ela, a ausência de apoio financeiro é um dos principais entraves para o desenvolvimento da equipe e da estrutura do ginásio. “Não temos apoio nenhum da prefeitura ou de patrocinadores, então, por ser uma modalidade cara, acaba sendo muito difícil a compra de aparelhos novos e investir mais em estrutura.”
Além das dificuldades financeiras, a técnica observa mudanças no comportamento das novas gerações em relação ao comprometimento com o esporte. “Hoje em dia está sendo cada vez mais difícil achar crianças e famílias que querem se comprometer com o alto rendimento, pois a carga horária de treino é alta e os treinos são bem desafiadores”, comenta.
Mesmo diante dos obstáculos, Gabriele mantém a convicção de que o esporte é uma ferramenta poderosa de transformação pessoal. “Buscamos sempre transmitir desde a iniciação até o alto rendimento que o esporte pode transformar vidas, pois ele te ensina a ser comprometido e determinado”, afirma.
A LM Ginástica Artística conta com turmas de iniciação e de alto rendimento, com metodologias adaptadas a cada perfil. “As alunas de iniciação têm um trabalho voltado para o lúdico e o bem-estar, sem cobrança por resultados. Os treinos são voltados para aprenderem os movimentos básicos da ginástica artística e não participam de campeonatos”, explica.
Já as atletas que seguem para o alto rendimento passam por um processo mais rigoroso. “A cobrança é muito maior, pois buscamos resultados em campeonatos. A carga horária é de 12 horas semanais. São meninas que vieram da iniciação e eu vi que tinham potencial para mais. Depois dessa análise, conversamos com os pais para ver se eles têm interesse e se vão acompanhar nossa linha de trabalho para transformar a aluna em uma atleta.”
Gabriele conta que identifica novos talentos por meio de uma observação ampla das capacidades das alunas. “Descubro novos talentos por vários aspectos: força, flexibilidade, coordenação motora e, principalmente, o comprometimento com os treinos.”
O esforço da equipe já trouxe resultados importantes para o esporte sul-mato-grossense. Um dos maiores destaques até agora veio com a atleta Lívia Ferreira Bernardino. “Nossa maior conquista foi a Lívia ter conquistado a medalha de segundo lugar no solo nos Jogos Escolares Brasileiros. Ela foi a primeira atleta do Mato Grosso do Sul na ginástica artística feminina a conquistar uma medalha neste campeonato”, conta com orgulho.
Além dos JEBs, as atletas da LM Ginástica Artística também participam de outras competições relevantes, como o Torneio Nacional de Ginástica Artística e o Campeonato Estadual. A rotina de preparação é intensa, mas, para Gabriele, o diálogo é essencial para lidar com a pressão. “As atletas de alto rendimento sempre têm uma pressão maior por conta dos campeonatos. É cada vez mais desafiador, mas sempre sou muito aberta em conversas com elas. Isso faz com que a gente tenha um equilíbrio.”
A treinadora destaca que os benefícios da ginástica vão muito além do desempenho competitivo. “A ginástica artística contribui em vários aspectos, trabalhando o desenvolvimento motor, a força, a flexibilidade e, o mais importante de tudo, a superação de cada aluna ao conquistar algum elemento novo. Isso faz com que ela possa se superar a cada dia.”
Com uma trajetória marcada pela iniciativa pessoal e pela paixão pelo esporte, Gabriele segue planejando o crescimento do projeto. “Nossos futuros planos são introduzir nossas atletas em campeonatos brasileiros em todas as categorias e tornar nosso ginásio um referencial de uma ótima escola de ginástica artística”, projeta.