Uma decisão da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro tomada na noite de terça-feira consolidou uma das maiores polêmicas dos últimos anos no automobilismo brasileiro. Os legisladores aprovaram, por unanimidade, o Projeto de Estruturação Urbana para Jacarepaguá, onde localiza-se o Autódromo Internacional Nelson Piquet, determinando a extinção de quase metade do traçado para obras visando os Jogos Pan-Americanos de 2007.
As obras que a Prefeitura do Rio planeja para construir um complexo olímpico dentro do autódromo farão com que o circuito tenha apenas 55% de seu traçado intacto. Apenas o setor Sul da pista fica sem alterações. As curvas Um, Pace, Suspiro, Nonato e Oposta desaparecem, dando lugar a um parque aquático e uma arena esportiva. Dos atuais 4.933 metros, sobrariam cerca de 2.700. Além de mutilado, o circuito ficará fechado por dez meses em 2006.
Diogo Pachenki, atual campeão brasileiro da Stock Car V8 Light, define a decisão da Câmara como "um erro muito grave". "A Vila Olímpica vai trazer muitos benefícios para o País, claro, mas existem outras opções. Além do mais, o Pan vai vir para o Brasil agora e só volta daqui a uns 50 anos. Corridas, nós temos todos os anos, e de todas as categorias", lembra o paranaense, que em 2004 conquistou no Rio três das oito vitórias que o levaram ao título.
Para Ingo Hoffmann, recordista de vitórias e títulos na Stock Car, "acabar com metade da pista é o mesmo que acabar com toda ela". "O automobilismo é, seguramente, um dos esportes que mais dá projeção ao Brasil no mundo inteiro, e mesmo assim os políticos o tratam como produto de sexta categoria", desabafa. "Muitos patrocinadores têm suas sedes no Rio de Janeiro, a pista tem uma grande influência nisso. Sem falar de toda a história do autódromo", lembra.
Sandro Tannuri, companheiro de equipe de Ingo na Stock Car, concorda com o absurdo que envolve a situação. Representante do Rio na categoria, ele vê o autódromo da cidade como um dos mais seguros do Brasil. "Temos um traçado muito seletivo e uma construção privilegiada, que permite uma visão total da pista. A obra do Pan vai ocasionar uma perda, ou de pista ou de segurança. Eu não vi o projeto dessa obra, mas o que está acontecendo é absurdo", avalia.
João Campos, tetracampeão brasileiro da Pick-up Racing, entende que há duas situações a serem vistas. "É preciso respeitar e preservar a tradição que o Rio tem no automobilismo, mas um autódromo não se sustenta só com corridas. É preciso estudar fórmulas para se aproveitar o espaço de uma pista nos intervalos das corridas, criar opções, é assim na Europa e no Japão", exemplifica o gaúcho, frisando que "nada justifica acabar com a pista de corridas".
Gilson Scudeler, tricampeão brasileiro de motovelocidade na categoria Supersport, observa que a decisão da Câmara "é péssima para o desenvolvimento do esporte". "A pista do Rio é a única do Brasil homologada para receber provas internacionais de motociclismo. Falta um pouco de infra-estrutura, mas, em termos de pista, é uma das melhores do mundo, um circuito muito técnico. É inacreditável que estejam fazendo isso, cai como uma bomba", afirma.