“Meu pai… acelera aqui, freia aqui… é só vai!”. A lembrança é de Lamayson Gabriel Schirmann Bronstrup, piloto de motocross nascido em Crissiumal (RS), que desde muito pequeno já sentia a emoção de viver sobre duas rodas. Aos oito anos, ainda sem noção da dimensão que o motocross teria em sua vida, ganhou a primeira moto. A cena da entrega é viva na memória: “Nunca me esqueço, fomos no mercado após comprar a moto e como só tínhamos um carro pequeno ela veio no meu colo no banco de trás… meus olhos brilhavam”.
Hoje com 22 anos e morando em Mato Grosso do Sul, Lamayson é tricampeão estadual da modalidade, além de ter sido vice-campeão em uma das temporadas. A trajetória, no entanto, começou longe das competições. “Naquela época não cheguei a ir em nenhuma prova, só andava pela fazenda mesmo”, relembra. O tempo de brincadeira deu lugar ao esporte sério, competitivo e exigente – física e mentalmente.
Apesar do retrospecto vitorioso, Lamayson afirma que o caminho foi exigente e que o maior desafio sempre veio de dentro. “Sempre me cobrei muito em deixar na pista o meu melhor, o meu sangue, o meu 100%, mesmo que não estivesse bem, mesmo que estivesse dolorido”, diz. A cobrança, segundo ele, nunca partiu da família, mas de um compromisso pessoal em honrar cada treino e cada largada com dedicação máxima.
O piloto também carrega com orgulho os três títulos estaduais, cada um com seu peso e significado. “Sou muito grato pelos três títulos pendurados na parede. Ambos têm valores que só eu sei o custo para adicionar na minha estante”, comenta. A conquista do primeiro campeonato, no entanto, tem um lugar especial em sua trajetória: “Na final foi uma energia e tanto… levantamos placas, estouramos champanhe e comemoramos muito. Estava toda minha família e minha equipe, que sempre esteve presente nos levantamentos de troféus”.
Lamayson cresceu no interior do Mato Grosso do Sul e passou a maior parte da infância em uma fazenda. Foi nesse ambiente que desenvolveu sua conexão com a moto. Anos mais tarde, já com o motocross como parte essencial da vida, passou a dedicar muitas horas aos treinos, não apenas na pista, mas também com preparação física, com bicicleta e corrida, e mental, especialmente nas semanas que antecedem as provas. “Sempre fui focado e, ao longo da carreira, coloquei muitas horas na moto”, afirma.
Mesmo em um esporte de alta intensidade, Lamayson conta que nunca sofreu lesões graves. Ele atribui parte disso à espiritualidade e à preparação emocional que realiza antes de cada prova. “Tenho por hábito, sempre que inicio uma prova, quando estou à frente do gate, me ajoelhar por um tempo. Neste momento peço proteção a Deus e que eu nunca faça minha mãe chorar”, revela.
As pistas também têm significados distintos para o piloto. A de Figueirão é especial: “Considero uma das pistas com um carinho a mais, pelo terreno, pelas condições e pela vista do público. É um espetáculo de etapa!”. Já a etapa de Sonora, para ele, é a mais desafiadora. “Trata-se de um lugar com temperaturas elevadas e uma pista bem técnica, que exige cautela e, ao mesmo tempo, precisa ser corrida”.
Com a bagagem que carrega, Lamayson tem buscado retribuir o que o esporte lhe proporcionou. Quando pode, passa conselhos aos mais novos, compartilha aprendizados e tenta trazer mais gente para o mundo das trilhas. “Sempre tento trazer mais pessoas para o esporte, pois depois que está dentro, nunca mais perde o vício. As pessoas podem até dar um tempo, mas ficar sem, jamais”.
Sobre ídolos, ele não esconde a admiração por um piloto em especial: o numeral 11. “Me inspiro bastante nele, não só como atleta, mas como pessoa. Busco sempre aprender um pouco com ele, com o carinho do público e sua tocada experiente”.
Aos 22 anos, Lamayson projeta os próximos passos com clareza. Quer ampliar o leque de competições e disputar provas fora de Mato Grosso do Sul. “Busco aumentar meu raio de campeonatos para os próximos anos, elevar o nível, assim como já vinha fazendo”. Para ele, não existe aposentadoria no motocross: “Sem dúvidas, num futuro, veremos o 888 nas categorias MX3, MX4, MX5, MX55… pois nunca é um adeus”.
Mesmo jovem, o piloto já enxerga com maturidade o crescimento da modalidade no estado e valoriza o trabalho feito pela federação. “Vejo que o esporte sul-mato-grossense vem ganhando espaço. A federação tem feito um ótimo trabalho, sempre buscando elevar o nível do campeonato, trazendo profissionalismo ao esporte. Isso é bom pra todos”.
Com uma história marcada pela gratidão, disciplina e paixão pelas trilhas, Lamayson Bronstrup segue acelerando com os olhos no futuro e as raízes bem firmadas no que o trouxe até aqui. “Nunca foi só sobre vencer. Sempre foi sobre honrar o que eu amo fazer”.