Santos (SP) - Antônio Carlos, um dos mais vitoriosos e polêmicos jogadores em atividade no país, anunciou sua aposentadoria nesta quinta-feira. Com títulos conquistados por todos os grandes clubes de São Paulo, ele fará sua última partida como profissional no domingo, pelo Santos, contra o Fluminense. O jogador viveu durante muitos anos na cidade de Dourados (MS), onde foi descoberto para o futebol.
Nesta quinta, após esbanjar disposição em um treinamento tático, Antônio Carlos dividiu com o técnico Wanderley Luxemburgo a palestra para os jogadores do Peixe, sentados em círculo pouco além do centro do gramado do CT Rei Pelé. Talvez um dos primeiros passos para a possibilidade de ser auxiliar do comandante em 2008.
Luxemburgo falou sobre a despedida de Antônio Carlos e logo passou a palavra ao veterano de 38 anos, que não conteve as lágrimas. "Começamos a aplaudi-lo em seguida. É um privilégio muito grande ter jogado com ele. Quando era pequeno, eu batia bafo com as figurinhas ele", sorriu o volante Rodrigo Souto, companheiro de quarto do zagueiro.
Ao lado do meio-campista, Antônio Carlos ainda estava com os olhos marejados. Ele contou que a decisão de se aposentar já havia sido tomada há cerca de um mês. "Mas eu não podia tirar os meus companheiros do foco do campeonato e desanimá-los. Não anunciei antes por isso", justificou o atleta, que então condicionara a renovação de seu contrato com o Santos à classificação à Libertadores e à permanência de Luxemburgo.
Segundo Antônio Carlos, a contusão no joelho que o tornou desfalque do Santos nos últimos seis meses foi fundamental para a decisão de se aposentar. "Tamanha era a minha vontade de me sair bem no Santos que acabei me machucando duas vezes. Mas Deus fez tudo certo na minha vida. Com esse tempo livre, pude ficar mais perto da minha família e me acostumar a estar longe dos gramados", disse.
Não que os familiares do zagueiro tivessem aprovado o fim da carreira. "Minha filha e meu moleque choraram muito. Minhas crianças ficaram tristes, mas é o que eu devo fazer. Um dia eu tinha que parar", conformou-se. O filho de Antônio Carlos, Giancarlos, de 7 anos, é presença constante nos treinamentos do Santos. Como o avô, ele também virou santista.
No domingo, Antônio Carlos reverá os parentes mais afastados em sua despedida do futebol. A mãe e os amigos que o jogador deixou em Presidente Prudente, interior de São Paulo, estarão na Vila Belmiro para assisti-lo. "Não sei como será. Mas, com certeza, vou chorar muito depois do jogo", previu o veterano, pouco antes de dar um dos seus últimos autógrafos como atleta.
Antônio Carlos encerrará a carreira com um currículo impressionante. Ele é o único a ganhar títulos estaduais por todos os grandes clubes de São Paulo. Além de seis Campeonatos Paulistas, venceu quatro Brasileiros, uma Copa Libertadores e um Mundial. Também não passou em branco na Itália e na Turquia, com conquistas nacionais por Roma, em 2001, e Besiktas, 2003. Sua única frustração é não ter participado de uma Copa do Mundo, motivo pelo qual guarda ressentimento de Mario Jorge Lobo Zagallo e Luiz Felipe Scolari.
Entre as outras marcas negativas do zagueiro, está o episódio de racismo em sua passagem pelo Juventude, do qual o volante Jeovânio foi vítima. Em 5 de março de 2006, Antônio Carlos desferiu uma cotovelada no então jogador do Grêmio, acabou expulso e deixou o gramado do estádio Alfredo Jaconi esfregando os braços, em referência à cor de pele do adversário. "Foi o pior momento da minha carreira. Pelo menos, serviu de exemplo para as pessoas", definiu.
As inúmeras outras confusões em que Antônio Carlos se envolveu se devem também à sua força em campo. "Fiz algumas besteiras, mas não me arrependo." Aos que o acusam de violento, o ex-zagueiro de São Paulo, Albacete, Palmeiras, Kashiwa Reysol, Corinthians, Roma, Besiktas, Juventude e, após domingo, do Santos também se proclama como um dos três mais técnicos das últimas duas décadas, tempo em que se dedicou à profissão.