Campo Grande (MS) - O Senado promoveu no último dia 14 de outubro uma audiência pública na Comissão de Educação, Cultura e Esporte para discutir a participação do Brasil nos Jogos Olímpicos de Pequim. A reunião também serviu para ressuscitar o projeto que pode dar fim às contínuas reeleições em entidades esportivas.
A idéia partiu do senador Flávio Arns (PT-PR), que sugeriu que o Estado pressione as entidades a alterar suas regras. "Poderíamos estabelecer que, para ter acesso a recursos públicos, as organizações deveriam limitar a reeleição de seus dirigentes a dois mandatos".
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), presidente da comissão, enviou o tema para estudo e afirma que irá recolher a assinatura dos 18 membros da comissão antes de iniciar a tramitação do projeto. "Sempre fui favorável a só uma reeleição em entidades esportivas, sindicatos e também para o cargo de senador e deputado. Defendo isso há 20 anos", diz.
O projeto é aprovado por Lars Grael, ex-membro do Ministério do Esporte, que participou da audiência de ontem, e se esquivou de falar sobre a reeleição de Carlos Arthur Nuzman para novo mandato no Comitê Olímpico Brasileiro - eleito pela primeira vez em 1995, ficará no cargo até 2012. O COB realizou eleições no último dia 2 após publicar edital em dois jornais que não estão entre os maiores do Rio e avisar dirigentes, por fax, entre nove e três dias antes do pleito.
A reportagem do site Esporte Ágil foi atrás dos dirigentes sul-mato-grossenses para saber o que eles acham sobre o assunto. Por telefone, foi tentado contato com 13 presidentes de federação, dos quais sete falaram, enquanto os outros seis caíram nas caixas de mensagem - Godofredo da Silveira Neto (Biribol), Francisco Cezário de Oliveira (Futebol), Renê Saueia Martinez (Futsal), Josimário Derbli (Handebol), Reginaldo Melo de Senna (Basquete) e Valdemar Scacalossi (Tênis).
Confira as opiniões:
César Paschoal, presidente da Federação de Judô (FJMS)
"Particularmente sou a favor de limitar em uma reeleição. A FJMS nunca teve um presidente que ficou mais do que dois mandatos seguidos. Em 28 anos de fundação, apenas um foi reeleito em Assembléia Geral [Francisco Helney]. O professor João Rocha também foi presidente por dois mandatos, mas em períodos distintos".
José Eduardo Amâncio da Mota, o "Madrugada", presidente da Federação de Vôlei (FJMS) há 12 anos
"Eu concordo, mas a mesma questão deveria ser estudada também para deputados e vereadores. Deve-se verificar quem vai conduzir o processo, deixar a federação com pessoas competentes. Acho meio difícil [a lei tornar-se realidade], porém é questão de querer".
Orlando Silvestre Filho, presidente da Federação Sul-mato-grossense de Xadrez (Fesmax) há 18 anos
"O ideal seria um ciclo olímpico, uma reeleição, e depois que a pessoa saísse, como dizia a antiga Lei Pelé. Mas é complicado, o pessoal pede para que você continue".
Waldemir Terra, recém-eleito presidente da Federação de Automobilismo (Fams)
"Acho que tem que ter mudança, sempre. Tem que ver se passa [pelo senado], mas eu acho que é a coisa certa a se fazer".
Firmo Henrique Alves, presidente da Federação de Motociclismo (Femems) há 8 anos
"Depende de qual entidade, de qual presidente. A democracia é plena, se a pessoa está exercendo um bom cargo ela deveria sair? O que é ruim sai automaticamente. Sou a favor da democracia, e acho dificil [a lei vingar], porquê não são muitas pessoas dispostas a fazer isso, deixar seu trabalho e estar disposta a assumir um cargo. Unir essas duas coisas é complicado. Acho que cada pessoa tem sua época, lógico que sem generalizar, mas às vezes você obriga um cara bom a sair, ao mesmo tempo que tem pessoas eternizadas num cargo e que não são tão boas assim".
Sarita de Mendonça Bacciotti, presidente da Federação de Ginástica (FGMS) há 4 anos
"Isso é um problema. Uma presidente da Bahia, por exemplo, queria sair e não tinha quem colocar em seu lugar. Nem sempre tem pessoas para assumir a federação. Eu seria uma pessoa contra isso [a proposta do senado]".
Claúdia Mendes Saliba, presidente da Federação de Desportos Aquáticos (Fedams) há 8 anos
"Apesar de eu ter mais de duas gestões, sou a favor porquê eu acredito que sempre uma renovação é saudável para o esporte. Tem pessoal que vai sapatear muito [quem já está a muito tempo nos cargos] apesar de terem feito coisas boas, mas quem sabe com essa alternativa não poderia ter sido melhor?". Saliba garantiu ainda não concorrer mais às eleições.