“Tenham paciência, aceitem o tempo do processo para conseguir construir o físico. Lembrem-se: carroça não puxa boi!”. A frase é de Brenner da Costa Camilo, fisiculturista e treinador de Campo Grande, que defende que o esporte exige disciplina, constância e visão de longo prazo. Aos 40 anos, ele construiu sua trajetória conciliando a vida de atleta e a de preparador físico, e hoje vê no estilo de vida do fisiculturismo um caminho que vai muito além das competições.
Nascido em 1984, em Guaratinguetá (SP), Brenner iniciou no fisiculturismo em 2012, quando participou da 1ª Copa Roberto Ribeiro, em Campo Grande. “Após participar do primeiro campeonato, onde consegui um bom resultado físico com uma preparação de 18 dias, comecei a treinar especificamente para posteriores competições, pois vi no esporte algo que me fazia competir comigo mesmo, físico e mentalmente”, lembra.
No início, as dificuldades foram semelhantes às de muitos atletas amadores. “A falta de incentivo e apoio, até da família muitas vezes, a falta de dinheiro para fazer uma boa preparação com alimentos de qualidade, exames e acompanhamento médico”, conta. Segundo ele, o processo é longo e exige preparo não apenas físico, mas também psicológico. “É um trabalho feito por meses, que leva o corpo a um limite muito grande, principalmente mental, onde às vezes até um acompanhamento psicológico se faz necessário”, afirma.
Com o tempo, Brenner passou a equilibrar a rotina de atleta com a de treinador. Ele admite que a fase inicial foi marcada por insegurança. “Quando iniciei também como preparador, a falta de experiência tanto em me preparar quanto em ser responsável pela preparação de outras pessoas trazia uma certa ansiedade. Hoje, após praticamente 13 anos dentro do fisiculturismo, competindo e preparando atletas, consigo ter um equilíbrio, conseguindo bons resultados tanto comigo quanto com meus atletas.”
O fisiculturista destaca que a motivação atual está no estilo de vida. “A motivação que eu tenho hoje é simplesmente pelo amor ao estilo de vida. Eu me mantenho com físico competitivo o tempo todo desde que iniciei. Fazer dieta, a rotina de atleta, é um estilo de vida e hoje consigo conciliar muito bem com meu trabalho de treinador físico particular”, explica.
Sobre a preparação, Brenner afirma que houve mudanças significativas desde o início da carreira. “Quando comecei, as dietas eram muito mais difíceis, até pelo conhecimento limitado dos preparadores da época. Hoje, os períodos são mais longos, 13, 14, 16 semanas em dieta para uma competição. Isso me permite comer muito melhor até a fase final.” No treino, a abordagem também varia conforme o momento. “Em off season, os treinos são mais volumosos, com maior carga. Já no cutting, com menos calorias, uso periodização, amplitudes diferentes, isometrias e mais variáveis para que no final da preparação o físico esteja com todos os detalhes necessários.”
Entre os resultados conquistados, Brenner destaca 2019 como um ano especial. “Fiquei em 3º colocado no Campeonato Brasileiro da NABBA Brasil e em 4º no Campeonato Brasileiro da IFBB Brasil, que na época eram federações muito grandes”, recorda.
Apesar da evolução do esporte no Brasil, ele afirma que os estereótipos ainda pesam sobre o fisiculturismo. “Muitos acham que é tudo baseado em quantidade de hormônios anabolizantes. Quando se permite conhecer ou até mesmo se preparar, vê que a parte hormonal é o menor dos problemas. Se manter em dieta é muito difícil, deixar de comer aquilo que gosta, deixar de participar de eventos sociais e familiares causa estresse, às vezes até problemas de relacionamento”, explica. Para ele, a mídia digital tem ajudado a mudar esse cenário. “Hoje, através de blogueiros e canais do YouTube, é mais fácil fazer com que as pessoas abram a cabeça e entendam que o que faz do atleta um atleta é o estilo de vida dele.”
Brenner também observa que o excesso de informação disponível hoje é um desafio para os iniciantes. “O problema é a sobrecarga informativa muito grande, tanto de treinamento quanto de uso hormonal. O que vemos são atletas cada vez mais jovens com problemas sérios de saúde, alguns indo até a óbito. Ao meu ver, o excesso de informação é um dos maiores problemas. A escolha de um bom treinador nesse momento inicial se faz muito importante para que ele te conduza e ensine o básico.”
Atualmente, Brenner concilia sua rotina de treinos com a preparação de outros atletas. “Estou preparando três atletas para o Power Classic 2025, que ocorrerá em Campo Grande no dia 13 de dezembro, pela Federação NPC”, diz. Ele também segue como competidor. “Pretendo competir no dia 27 de setembro no Muscle Contest Campo Grande, para acompanhar minha namorada, Fernanda Claudino, que também irá competir na categoria Wellness.”
Ao falar com jovens que sonham em seguir no fisiculturismo, Brenner reforça que o caminho exige paciência e responsabilidade. “O fisiculturismo é um esporte de quem permanece no processo por mais tempo, pois assim você consegue a maturidade muscular e preserva sua saúde ao máximo. No dia seguinte após o campeonato, todos nós temos que trabalhar, voltar para nossas casas, famílias e filhos. Ser atleta é um estilo de vida, não necessariamente estar no palco. O dia do palco é apenas uma diversão para quem realmente ama o esporte”, conclui.