A atleta baiana Brenda Morais se destacou no MS International Cup - Dourados, conquistando o título de campeã na categoria Absoluto Faixa Roxa. A vitória teve um significado especial para a lutadora, que enfrentou desafios dentro e fora do tatame nos últimos meses. Além do esporte, Brenda também se dedica à medicina, cursando a graduação no Paraguai.
Desde a infância, a atleta teve uma relação próxima com o esporte. Praticou futebol, capoeira e vôlei, sempre demonstrando interesse por atividades físicas. Em 2017, começou a treinar Muay Thai com o objetivo de lutar MMA, o que a fez perceber a necessidade de aprender jiu-jitsu. No entanto, o primeiro contato com a modalidade não foi dos mais fáceis. “Comecei com uma certa resistência ao esporte por não gostar muito do contato físico exagerado e por não conhecer. Foi apenas começar para conhecer e gostar, tanto que hoje pratico apenas o jiu-jitsu e deixei o Muay Thai de lado”, conta.
A conquista no MS International Cup veio após um período de incertezas para a atleta, que estava se recuperando de uma lesão e chegou a considerar uma pausa no esporte. “Esse, de quase todos, foi um dos títulos mais importantes, por estar voltando de uma lesão significativa e por ter pensado em dar um tempo no esporte. Ter me consagrado campeã ali foi a resposta de muita oração que fiz a Deus. Ele me mostrou que ali é o meu lugar”, relata. No momento da luta, Brenda afirma que toda preocupação desaparece e que o foco se torna apenas competir. “Minha luta é diária, cinco segundos antes de entrar no tatame para competir. Mas quando entro, esqueço tudo e me divirto, dou o meu melhor.”
Mesmo não tendo ido ao Paraguai com o objetivo de competir, Brenda acabou levando o jiu-jitsu consigo. “Vim para cá com o objetivo de apenas cursar medicina e lutar aqui é uma honra, um privilégio, um hobby que pretendo levar comigo onde eu estiver”, afirma. Atualmente, ela participa de competições organizadas pela Federação Sul-Mato-Grossense de Jiu-Jitsu (FSMJJ) e diz se sentir em casa nesses eventos.
Conciliar o esporte com a faculdade exige disciplina, algo que Brenda mantém com uma organização rigorosa. “O jiu-jitsu é meu estilo de vida, a medicina é minha vida. Creio que, organizando e sabendo o espaço e a importância de cada um, não tem como dar errado”, destaca. Para ela, o esporte também ajuda a enfrentar os desafios da futura profissão. “O jiu-jitsu é uma filosofia de vida. Assim como no tatame, na vida e na faculdade temos algumas dificuldades e obstáculos onde consigo fazer a analogia de: ‘O que eu faria se fosse um armlock, uma raspagem?’ E assim lido da melhor maneira.” Além disso, os treinos funcionam como um alívio para a pressão acadêmica. “Quando estou no tatame, esqueço e me desprendo temporariamente da pressão que é a faculdade e a carreira médica em si. Como diz a frase clichê: corpo cansa, mente descansa.”
Nos momentos de dificuldade, seja nos estudos ou no esporte, Brenda busca manter a confiança e acreditar que tudo acontece no tempo certo. “Creio que tudo é como tem que ser. Apesar de me preocupar em alguns casos, oro, entrego a Deus e confio que tem algo melhor por vir e assim tem sido. O nosso destino já está escrito e tudo que é para ser nosso, será”, afirma.
Além da rotina intensa de treinos e estudos, a atleta encontra tempo para outras atividades que gosta. “Gosto de estudar, ler, academia, cozinhar, ver filmes, viajar, dançar, cantar, comer. Quando não estou em época de competição, me permito ter uma vida mais social”, conta.
Sobre o cenário do jiu-jitsu feminino no Brasil, Brenda vê uma evolução constante e um crescimento cada vez maior da participação das mulheres no esporte. “É gratificante ver cada vez mais mulheres no jiu-jitsu. Além da questão física, autoconfiança e segurança, a parte mental é muito influenciada pelo esporte. Temos grandes nomes femininos representando muito bem nosso país, a nível nacional e mundial, e a tendência é aumentar. O jiu-jitsu mostra que podemos ser o que quisermos, estar onde quisermos e que nada pode nos parar.”
Para aquelas que têm interesse em começar na modalidade, mas ainda não deram o primeiro passo, a atleta reforça a importância de acreditar no próprio potencial. “Tudo um dia foi um começo. Apenas comece, acredite ser capaz e vença todo e qualquer obstáculo que surgir. A dificuldade é criada na mente e só a mente pode desconstruir”, aconselha. Mesmo para quem não tem interesse na prática esportiva em si, ela destaca a importância do jiu-jitsu como defesa pessoal. “Usando as palavras do meu sensei na Bahia: melhor saber e não precisar usar do que precisar e não saber.”