São Paulo (SP) - Responsável pela revelação de inúmeros craques do futebol nacional desde sua primeira edição, em 1969, a tradicional Copa São Paulo de futebol júnior começa a ser disputada neste sábado com a participação de 88 clubes, divididos em 22 grupos, e termina no próximo dia 25, data de aniversário da capital paulista.
O número excessivo de times na competição, na qual quase faltam letras no alfabeto para dar nome aos grupos, ameaça a histórica condição de celeiro de jogadores de destaque do torneio. Algumas equipes são formadas por empresários, que praticamente transformam o evento em um balcão de negócios.
O assédio dos agentes, aliás, levou o Botafogo a desistir de jogar a Copinha em 2008. "A Copa São Paulo também caiu muito. Estou analisando a tabela, o São Paulo vai pegar o Gurupi, do Tocantins. O Flamengo, por exemplo, não está levando seu grupo principal", critica o gerente de futebol amador do clube carioca, Riedel Alves. "O assédio de empresários também é uma justificativa para não participarmos".
O técnico Adaílton Ladeira, do time júnior do Corinthians, enfatiza o discurso do dirigente botafoguense. "Não tem como esconder o jogador, nem como blindá-lo, quem quiser pagar a multa fica com ele. Inclusive a maioria dos meus atletas tem procurador", afirma o treinador, classificando Sorriso-MT e Ceilândia-DF, dois dos adversários do Timão na primeira fase, justamente como "equipes de empresários".
Mesmo inchado com quase cem times e sob a mira dos agentes, porém, a Copinha continua cumprindo a missão de revelar jogadores de destaque. No último ano, por exemplo, o zagueiro Breno, do São Paulo, ganhou notoriedade defendendo a equipe no torneio e rendeu, ao término da temporada, US$ 19 milhões de dólares ao Tricolor, sendo vendido ao Bayern de Munique.
Com isso, os jovens jogadores chegam para a disputa do campeonato motivados com a chance de subirem para o profissional. Os quatro grandes do estado anfitrião do torneio, aliás, contam com treinadores acostumados a recorrer à base na formação de seus times, casos de Muricy Ramalho, do São Paulo, e dos recém-contratados Mano Menezes, do Corinthians, Emerson Leão, do Santos, e Wanderley Luxemburgo, do Palmeiras.
Maior vencedor da história, com seis títulos, o Timão chega à 39ª edição da Copa São Paulo rotulado como um dos favoritos devido ao seu histórico no torneio (foi ainda sete vezes vice-campeão) e buscando apagar o fracasso do ano passado, quando fez campanha irrepreensível na fase inicial, mas acabou caindo logo no primeiro mata-mata, ante o Cruzeiro.
"Todos estão cientes da importância do torneio e sabemos que não somos favoritos. Temos que manter os pés no chão e a humildade porque aprendemos com a lição de 2007", comenta o zagueiro Renato, uma das principais apostas do time na Copinha.
O algoz corintiano na última edição, porém, vem a São Paulo com a intenção de levar o bi para Belo Horizonte. Às vésperas do início da competição, os comandados do técnico Enderson Moreira prometem encarar a Copinha como uma Copa do Mundo.
"A Copa São Paulo é a principal competição da categoria no nosso país e, para nós será novamente como uma Copa do Mundo. Penso, passo a passo, em buscar o bi da Copa São Paulo e depois continuar trabalhando muito para chegar de vez aos profissionais", afirma o zagueiro cruzeirense Wellington.
Já o São Paulo, vice-campeão em 2007, tenta repetir a boa campanha do ano passado para revelar "novos Brenos" - as principais apostas são os meias Sérgio Motta e Oscar, além do atacante Erick. Nos bastidores, o clube quer o título, mas admite que a prioridade é revelar novos talentos. "A nossa estrutura é uma grande vantagem para os jogadores", define o técnico Marcos Vizolli.
Diferentemente dos dois arqui-rivais da capital paulista, o Palmeiras busca, na Copinha, apagar os fracassos nas edições anteriores - é o único grande do estado que nunca conquistou um título da competição. "Os jogadores têm que colocar na cabeça que estão acima dos outros, já que jogam no Palmeiras. São os adversários que têm que se adequar, nós temos que nos impor", discursa o coordenador das categorias de base Jorginho, que nesta Copinha atuará também como treinador.
Além de Cruzeiro, São Paulo e Corinthians, o Fluminense, segundo maior vencedor da história do torneio, com cinco títulos, o Internacional, tetra, e Atlético-MG, tri, disputam a Copinha de 2008 na esperança de retomar o caminho de conquistas na categoria. De início, os três já são favoritos absolutos em suas respectivas chaves na primeira fase.
Curiosamente, mesmo contando com a participação de times de todos os estados do Brasil, apenas quatro federações (RS, MG, SP e RJ) já disputaram a final da Copa São Paulo. Reverter este tabu será a missão dos representantes dos outros estados em 2008.