Xadrez entra no radar de investimentos esportivos do governo federal
O brasiliense Luiz Eduardo Fonseca, de 12 anos, sempre foi um desafio para a sua mãe, a piauiense Janaína Chaves. Deficiente visual de nascença, ele era muito ansioso e intempestivo. No cotidiano, contestava qualquer sugestão ou ordem e tinha dificuldades em reconhecer autoridade e responsabilidade. "Fizemos terapia por aproximadamente dois anos e quase foi dado o diagnóstico de Transtorno Opositivo Desafiador", contou a mãe. O cenário mudou quando o jovem foi apresentado ao xadrez, durante um atendimento a crianças com altas habilidades em uma escola da rede pública de Ceilândia (DF). Luiz Eduardo conseguiu canalizar seu potencial na mistura entre tabuleiro, cronômetro, rainhas, reis, cavalos, bispos e torres.
Convidado por mestres a desenvolver suas habilidades no esporte, passou a disputar torneios com outros deficientes e mesmo atletas sem limitação visual. Aprendeu estratégias, estudou aberturas e momentos específicos do jogo e hoje viaja para vários cantos do país. "Ele ainda é resistente ao 'não', mas não tem mais a intempestividade de antes. O xadrez foi um presente na nossa vida", celebrou Janaína.
Classificado na categoria de esportes da mente, o xadrez vai passar a ter atenção estratégica do governo federal. A sinalização foi dada no início da noite desta quinta-feira (10) pelo ministro da Cidadania, Osmar Terra, na Cerimônia de Abertura do Aberto do Brasil Terra Viva, em Brasília. O torneio reúne até domingo (13) 180 dos melhores enxadristas do país e convidados de cinco países. "O xadrez vai entrar para a prioridade dos esportes brasileiros. Vai ter aporte de recursos públicos. É um esporte que desenvolve habilidades matemáticas, aprimora o raciocínio lógico, auxilia a pessoa a prever acontecimentos e a ter soluções para problemas. É completo nesse aspecto, porque também ajuda na formação de disciplina, na focalização", enfatizou o ministro.
De acordo com Osmar Terra, a intenção é ajudar a massificar a prática e a ampliar a qualidade dos praticantes. "Queremos estimular nas escolas, nos municípios, nos estados. Incentivar campeonatos nacionais para termos uma massa crítica, uma quantidade maior de atletas. Embora já tenhamos um xadrez de primeiro mundo, podemos fazer mais.”
Radar - Também presente no evento realizado em um hotel no centro da capital federal, o futuro secretário especial do Esporte, Marco Aurélio Vieira, afirmou que as zonas de intersecção entre esporte, cultura e desenvolvimento social, concentradas no Ministério da Cidadania, permitem ampliar o espectro de modalidades no radar federal.
"Nossa ideia é fazer uma revisão do planejamento estratégico para incluir esportes que não vinham tendo a devida atenção dos brasileiros, notadamente os da mente, os eletrônicos e os radicais. O foco vai ser um equilíbrio entre o que é esporte de alto nível e o que é educacional e de lazer. Não podemos descuidar do alto nível, que traz medalhas em Olimpíadas, mas queremos equilibrar os esforços de maneira racional, de forma a plantar o futuro", ressaltou Vieira, que também foi enxadrista na infância.
Segundo o presidente da Federação Brasiliense de Xadrez, Raimundo Félix, a atenção governamental tem o potencial de elevar a modalidade a novos patamares. "É, para nós, motivo de alegria e honra, porque dificilmente ocupamos a prioridade de investimentos. O xadrez está entre os esportes mais inclusivos que existe. Podem jogar crianças, adultos, idosos, homens, mulheres e deficientes visuais sem qualquer restrição", listou.
Retrato dessa inclusão foi o jogo de estreia de Luiz Eduardo no Aberto do Brasil. Aos 12 anos, ele encarou – com seu tabuleiro adaptado para deficientes visuais e cronômetro que grava as jogadas em áudio – o experiente paulista Denrik Cabral, de 38 anos, sem limitações visuais. "No início, quando comecei, foi complicado, porque eu não sabia nada de estratégia. Hoje, para mim, o xadrez significa conhecer novas pessoas, melhorar sempre o raciocínio e viajar bastante", relatou Luiz.
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