Campo-grandense vira ídolo de clube da Polônia
Zagueiro Edil Barros, de 28 anos, marcou gol decisivo para levar o Concordia Elbląg ao primeiro título de sua história.
Sabe-se que o sonho da maioria dos futebolistas do Brasil é jogar na Europa algum dia. Se for em um clube conhecido internacionalmente, melhor ainda. Se não, a experiência de pisar no Velho Continente é a que conta. Edil de Souza Barros, de 28 anos, natural de Campo Grande-MS, teve esta oportunidade.
Dentro do gramado, ele atua como zagueiro, mas também sabe fazer a função de volante quando solicitado. Barros tem 1,90 metro de altura e na capital sul-mato-grossense morava no bairro Nova Lima, na região Norte. O defensor já é conhecido pelos torcedores e fãs de futebol de Mato Grosso do Sul.
O atleta foi contratado, em 2016, pelo Miejski Młodzieżowy Klub Sportowy Concordia Elbląg que, traduzido para o português, significa "Clube Municipal de Esportes Juvenis Concordia Elbląg". O clube, fundado em 1986, tem sede na cidade de Elblag, no condado de Elbląg, na província (voivodia) de Vármia-Masúria. A cidade tem cerca de 126.985 habitantes e fica no extremo Norte do país, quase banhada pelo Mar Báltico. Elbląg está localizada a aproximadamente 283 quilômetros (cerca de três horas) da capital do país, Varsóvia.
Barros conta, em entrevista ao Esporte Ágil, que estava no Novo Futebol Clube, de Campo Grande, quando foi indicado por um amigo para conhecer a Polônia e, consequentemente, o clube. Este amigo é Paulo Santarosa, ex-goleiro e treinador, também da Cidade Morena. “Ele perguntou se eu não queria ir para conhecer, ver como era. Como meu contrato no Novo já estava acabando, decidi ir. Graças a Deus, deu tudo certo. No começo, tive dificuldade em me adaptar ao país, à cultura, à língua. Consegui contornar tudo. O clube me dá bastante assistência, é bem estruturado”.
Zagueiro ainda com camisa do Novo FC (Foto: Arquivo pessoal)
“Todo jogador sonha em jogar na Europa e no meu caso não é diferente. Eu planejava um dia vir jogar aqui e agradeço a Deus por isso ter acontecido. Tive a oportunidade e agarrei com minhas forças. Estou sendo bem visto”, afirma Barros que, desde que chegou ao continente, marcou 28 gols em 86 jogos, marca expressiva para um defensor.
O campo-grandense deslocou-se à Europa por meio de um projeto futebolístico. Uma espécie de “caça talentos”. Barros relata, no entanto, que o programa de captação de jogadores é desestruturado, daqueles que dão a impressão de ser uma “barca furada”, de deixar qualquer um ressabiado. “Me indicaram para o clube, fui e passei no teste. Não tenho vínculo nenhum com esse projeto mais, porque é muito bagunçado, não prometem o que dizem. Quando chegamos em outro país, é totalmente diferente do que disseram. Eu só vim porque confiava no meu futebol, sabia que tinha potencial, mas não recomendo esse projeto para ninguém”.
Apesar de atuar na defesa, Barros marcou significativo número de gols pelo Concordia
(Foto: Arquivo pessoal)
Por sorte, Barros revela que o presidente entendeu a situação exposta e aceitou assinar contrato, válido por três anos/temporadas. Depois do acordo com o dirigente, o zagueiro passou à fase de adaptação, principalmente ao clima, idioma e costumes do país do Leste Europeu. “A primeira coisa que aprendi foi a falar o polonês um pouco. Estou me virando sozinho, peço ajudo a alguns amigos poloneses que fiz aqui”.
“No começo, foi muito difícil me adaptar, porque a cultura e os costumes são diferentes. Aqui, tudo é organizado, não é igual ao Brasil. O clima acredito que seja o mais difícil, porque é muito frio. Cheguei a enfrentar 15 graus negativos, nevava muito. O estilo de jogo também é diferente, tem muito treinamento tático, é muito bom, evolui muito com o estilo deles, principalmente a me posicionar taticamente”, acrescenta o jogador.
Para jogador, principal dificuldade foi o frio intenso (Foto: Arquivo pessoal)
Os que muitos não sabem é que Edil é irmão de Edenilson de Souza Barros, o Kanu, velho conhecido dos que acompanham o futebol sul-mato-grossense. Atualmente, o atacante defende o Costa Rica Esporte Clube (Crec). Ele foi contratado para atuar com o clube na Copa Verde 2019. “Eu vim para a Europa junto ao Kanu, meu irmão. Ele foi para a Alemanha e eu fiquei nesse time na Polônia. Ele foi campeão na Alemanha”, destaca Barros.
Recuperação
Barros classifica 2019 como o ano perfeito para o Concordia Elbląg. Ele ressalta que o clube caiu para a quarta divisão na temporada passada, mas, na seguinte, a diretoria traçou planejamento para colocar a equipe novamente na terceira. O campo-grandense afirma que recebeu propostas de outras agremiações para sair, mas decidiu permanecer para ajudar a reestruturar o time. “Não podia deixar o time na situação em que estava, tinha que dar algo a mais para o time e, graças a Deus, consegui, dei a volta por cima”.
Edil tem frieza frente à baliza (Foto: Arquivo/Concordia Elbląg)
E realmente deu a volta por cima. Neste ano, o Concordia Elbląg garantiu o acesso à divisão de cima com três rodadas de antecedência, além de conquistar o título da Copa da Província, que engloba times da região. A competição tem participação de equipes da terceira, quarta, quinta e sexta divisão. Este foi o primeiro título da história do clube polonês.
O zagueiro explica que o campeão de cada província assegura vaga à Copa da Polônia, que reúne equipes do país inteiro, principalmente das duas principais divisões. Ele salienta que, portanto, há a possibilidade de encarar respeitadas agremiações polonesas, como Legia Warszawa, Arka Gdynia e Lech Poznań, dependendo do sorteio.
Campo-grandense esteve em quase todos os jogos do Concordia desde que chegou
(Foto: Arquivo/Concordia Elbląg)
O jogo mais marcante de Barros no país da costa do Mar Báltico foi a semifinal da Copa da Província, contra o Mazur Ełk, da terceira divisão. O Concordia perdia por 2 a 1. Na prorrogação, por volta dos 118 minutos, o zagueiro foi ao ataque, para o “tudo ou nada”, para tentar marcar na bola aérea. Foi quando sofreu pênalti, após carrinho do zagueiro adversário.
“Como sou o cobrador de pênaltis, a responsabilidade estava toda em meus pés. Dei aquela disfarçada, olhei para todo mundo, pensei: 'não posso errar esse pênalti'. Bati e fiz, empatei o jogo e fomos para as penalidades. Nosso goleiro foi muito feliz, defendeu três cobranças e classificamos para a final”, relembra Barros, ao Esporte Ágil.
Confira o vídeo com os gols da partida:
Para ele, o jogo mais complicado, “cascudo”, foi mesmo a semifinal, visto que, na decisão, venceram tranquilamente por 5 a 2. “A semifinal foi mais difícil, porque no último minuto conseguimos o empate e, nos pênaltis, a classificação. Esse é o jogo mais importante da minha carreira, nunca mais vou esquecer, o clube também não. Agora, no momento, sei que não tenho consciência do que foi esse gol no último minuto da prorrogação, mas mais para frente terei consciência, quando me aposentar. Fiz dois gols na partida ainda”.
Zagueiro foi comemorar com a torcida após gol decisivo na semi (Foto: Arquivo/Concordia Elbląg)
Ídolo e exemplo
Edil Barros faz parte da história do Concordia e ajudou a escrevê-la. O clube já chegou à segunda divisão, maior feito até faturar o troféu da Copa da Província. O sul-mato-grossense conta que, devido à entrega dentro de campo e por ter ficado em evidência no momento de glória do time, sua identificação com os torcedores é muito grande. “Não sei se vou sair tão cedo, porque eles gostam muito de mim. Minha relação com o clube, com a diretoria, torcida, jogadores é a mais bonita possível, todo mundo gosta de mim, sou um cara alegre, divirto todo mundo, motiva mais o clube”.
Dentre os principais fãs, estão as crianças, os jovens jogadores das categorias de base da instituição. “Sou mais querido por eles. Isso é uma motivação a mais para mim, tenho de ser exemplo. Graças a Deus, consegui dar esse título ao clube”.
Edil é idolatrado pelos adeptos do Concordia (Foto: Arquivo pessoal)
Além do carinho com todos, o que atrai é o salário, ou melhor, a valorização que o clube tem em relação aos seus atletas. É o que diz Barros. “Aqui paga bem, valoriza muito o jogador. Eles não veem a gente só como jogador, mas também como pessoa. Recebo meu salário certinho todo mês. Tenho meu salário normal e é uma boa quantia para mim, dá para sobreviver bem e ajudar minha família. Nesta parte, é bem diferente do Brasil”.
Jeito "brincalhão" cativou torcida e crianças da base (Foto: Arquivo/Concordia Elbląg)
“Eu desejo esse título a minha família, aos meus amigos que estão sempre comigo e à família do time Marabá, do futebol amador de Campo Grande, além da Luter Contabilidade, do Garcia, que me ajudou muito. Se não fosse ele, não estaria aqui”, finaliza o defensor.
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