Olimpíadas | Gazeta Esportiva.Net | 08/08/2008 16h35

Sem protestos e com bom tempo, China impressiona com show

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Pequim (China) - Promessa feita, promessa cumprida. Com um grande show no estádio Ninho de Pássaro, a China impressionou na abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, realizada nesta sexta-feira - o evento foi marcado por grande pirotecnia, além de diversos efeitos especiais.

Para alívio dos organizadores, o tempo estava bom e nenhum tipo de protesto relacionado às polêmicas posturas políticas do governo da China foi visto na festa, orçada em 160 milhões de reais. O público de 91 mil pessoas também não ousou chamar as atenções para si e não vaiou nenhuma delegação.

Pelo contrário: principais rivais no esporte, os Estados Unidos foram bastante aplaudidos, apesar das recentes declarações do presidente George W. Bush, que criticou a forma como a liberdade e os direitos humanos são tratados na China. Considerada uma província rebelde do país, Taiwan também foi muito ovacionada, assim como o Iraque, Coréia do Norte, Cuba, Rússia e Canadá (que tem uma grande comunidade chinesa).

Obviamente, as palmas mais fortes foram para a delegação da China, cujo porta-bandeira foi o jogador de basquete Yao Ming. O clima só ficou um pouco mais tenso durante o desfile da delegação do Japão, rival histórico dos chineses. O mesmo ocorreu com a França, cujo presidente Nicolas Sarkozy chegou a cogitar a possibilidade de boicotar a cerimônia - além disto, a passagem da tocha olímpica por Paris foi bastante conturbada.

Aliás, esta honra ficou com o ex-ginasta Li Ning, que foi içado até o alto do Ninho do Pássaro e  deu uma volta inteira no anel superior fingindo estar correndo até finalmente acender a tocha. Ele é dono de seis medalhas nos Jogos Olímpicos de 1984 (três de ouro), o primeiro que a China disputou - antes, o país se recusava a participar em protesto com a inscrição de Taiwan. Depois de meses de mistério, o nome foi revelado durante a cerimônia de abertura pela a agência de notícias Xinhua News, ligada ao governo chinês, que diz ter recebido um aviso do sistema da organização dos Jogos.

Pouco antes das 21h30 locais, a delegação brasileira entrou no estádio Ninho de Pássaro, sendo medianamente aplaudida. De acordo com o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), 181 membros da delegação saíram da Vila Olímpica para participar do evento. Duas vezes campeão olímpico, o velejador Robert Scheidt foi o porta-bandeira do Brasil.

"Fiquei arrepiado", confessou Scheidt. "Com exceção do pódio olímpico, essa talvez tenha sido a mais emocionante que vivi em uma Olimpíada", emendou o iatista, à TV Globo. Com o objetivo de se poupar para as competições ou por ainda não ter chegado a Pequim, muitos atletas do país preferiram não comparecer à festa.

Um dos 86 chefes de estado presentes à cerimônia, Lula acenou para os representantes nacionais - o chefe do Executivo brasileiro está no país para fazer campanha pelo Rio de Janeiro na disputa da sede dos Jogos Olímpicos de 2016.

O desfile dos 204 países participantes foi feito de acordo com o alfabeto de mandarim antigo, provocando situações inusitadas, como o fato de a Argentina e a Austrália ficarem no final da fila. Por outro lado, os chineses mantiveram a tradição e a Grécia, inventora dos Jogos, puxou a fila.

O som foi feito por cinco orquestras de diferentes continentes. Depois de darem a volta na pista os atletas se dirigiam a um pergaminho localizado no estádio. Antes, porém, eles pisavam em tintas, de maneira a marcar os pés no local.

Apesar de a primeira rodada do futebol masculino e feminino já ter sido realizada, a Olimpíadas mesmo começam no início da noite desta sexta (horário de Brasília), com a disputa das eliminatória da disputa de CCE do hipismo. A primeira medalha deve sair no início da madrugada, com a categoria até 48kg feminina de levantamento de peso - a China tem grandes chances de abrir a classificação geral na frente, já que Wang Mingjuan é a atual campeã mundial da prova.

O evento - Programada para começar às 8h08 da noite de Pequim (o oito tem grande simbologia na cultura chinesa, pois o som do número em mandarim, "Ba", é o mesmo da palavra "rico"), a festa foi iniciada alguns minutos antes. Além da grande beleza, a cerimônia chamou a atenção pelo grande número de referências feitas ao próprio país.

Apesar de ser normal que o país-sede queira se destacar, a primeira vez que o "mundo" apareceu foi quando já havia se passado cerca de uma hora. Antes, o país fez uma apresentação sobre sua história, mas ignorou o período que classifica como "vergonhoso", caso das invasões estrangeiras, do governo do líder comunista Mao Tsé-Tung e da chamada Revolução Cultural.

A idéia central da cerimônia foi fazer uma ligação entre as maravilhas da China Imperial e a da China Moderna sempre regida pela referência da "harmonia". Por volta das 20 horas locais, apagaram-se as luzes do estádio Ninho de Pássaro. Na sequência, houve uma rápida queima de fogos, sucedida por uma contagem regressiva com 2008 com luzes distribuídas pelo gramado em formato de números.

Ao mesmo tempo, 2.008 percussionistas tocavam fous (tambor feito de saibro e bronze) e citavam o seguinte lema: "Estamos felizes em receber amigos de longe". Na sequência, fogos de artifício no formato de pegadas apareceram do céu de Pequim - eles vieram desde a Praça da Paz Celestial até o estádio Ninho do Pássaro.

Iniciaram-se então as referências às invenções chinesas com a pólvora e 20 fadas asparas acendendo os anéis olímpicos na cor prateada no centro do estádio. Então, 56 crianças representando todas as etnias chinesas, inclusive a tibetana, trouxeram a bandeira do país em uma tentativa de simbolizar a união da China.

Elas entregaram a bandeira a militares, que as hastearam - bem-preparados, os chineses solucionaram o problema de não haver vento no local colocando um sistema de ventilação na ponta do mastro para mantê-la tremulando. Em seguida, foi executado o hino da China.

Outra invenção local, o papel foi representado por um grande pergaminho aberto no centro do gramado. 300 homens entraram no gramado como se fossem discípulos de Confúcio. Eles se dividiram pelos cantos do estádio, quando começou uma apresentação de caracteres no centro do estádio. Mostrando perfeita sincronia, eles representavam tipos móveis de impressão, outra invenção do país, e fizeram a palavra Kè, que significa "harmonia".

Movimentando-se perfeitamente como ondas, foi realizada uma referência à Grande Muralha, um dos símbolos da China. Flores de pêssego, que representam a paz, ornamentavam a sequência. No final, foi revelado que todos os movimentos eram feitos por humanos e não por computador, para delírio do público.

A Ópera de Pequim, a Rota da Seda, o passado marítimo, a bússula e as principais dinastias do país não foram esquecidas. No final desta parte, um pássaro foi feito no centro do campo, representando o próprio estádio e a paz. Os bailarianos então se uniram de forma a formar uma imagem do Ninho do Pássaro, tudo ao som do pianista chinês Lang Lang, um dos mais conceituados do mundo.

Apesar de hoje serem um dos países mais poluidores do mundo, a China também fez referência ao culto de seu povo pela natureza. Paralelamente, centenas de artistas praticando a arte do tai chi chuan se posicionaram ao redor de crianças vestidas como se fossem à escola, que pintavam no centro do pergaminho. O desenho lembrou o planeta Terra.

Um imenso globo terrestre então foi erguido e, para falar sobre a modernidade do país, um astronauta chinês apareceu içado por cordas. Em seguida, um artista local passou a cantar, enquanto centenas de imagens sorridentes de crianças de diversas etnias foram abertas no campo. Iniciou-se aí o desfile das delegações, que precedeu os discursos do grande momento do dia: a hora de acender a tocha olímpica. Uma grande queima de fogos encerrou a festa.

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