Editorial | Da redação | 12/08/2007 15h53

Agosto: Uma boa casa constrói-se a partir da base

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Fecharam-se as cortinas dos Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro. A delegação de atletas brasileiros conquistou um total de 161 medalhas, sendo 54 de ouro, 40 de prata e 67 de bronze, o melhor resultado do Brasil em Pan-americanos. No quadro de medalhas, terminamos a competição na terceira posição, atrás dos campeões dos EUA e dos vice-campeões cubanos. Foram muitas emoções com as conquistas de nossos atletas, como as do surpreendente Tiago Pereira, que fez brilhar nossos olhos com seis medalhas de ouro e oito no total. Tantas outras medalhas foram conquistadas, mas agora deveríamos abrir uma séria discussão sobre como foi realizada esta competição. A averiguação das suspeitas de superfaturamentos em obras, desvios, licitações que podem ter sido fraudadas, não podem ser sufocadas pelas comemorações dos gols, pontos e medalhas. Outra pergunta que devemos fazer é se nossos governantes tem previsão de gastarem a exorbitante quantia de 3,5 bilhões de reais no desporto de base, no desporto escolar e em escolas de iniciação esportiva, afinal, nestas sim o esporte cumpre seu papel de inclusão e educação, sua mais nobre finalidade.

Quando a proposta do Pan Rio 2007, a previsão de gastos com o Pan era inicialmente de R$ 380 milhões. Segundo o ministro dos Esportes, Orlando Silva, ao final do Pan, os gastos totalizaram 3,5 bilhões de reais. O prefeito do Rio de Janeiro discorda e fala sobre um gasto de 1,9 bilhão de reais. Independentemente das versões da prefeitura do Rio ou do Governo Federal, do valor previsto ao gasto, existe uma gritante diferença. O governo, que, a princípio, não precisaria contribuir com quase nada, teve que investir mais de um bilhão de reais para que as obras fossem concluídas, porque atrasadas elas já estavam há meses. Se não fosse o dinheiro do contribuinte o Pan não aconteceria, ou se acontecesse, seria uma imensa tragédia, mostrando a incompetência do Brasil em realizar eventos esportivos desse porte.

É claro que, como brasileiros, todos nós nos emocionamos com as vitórias na ginástica, na natação, futebol, vôlei, handebol, atletismo, basquete, futsal, judô, karatê, taewondo, tênis, entre tantas outras conquistas de nossos compatriotas. Outros fatores positivos com este Pan foram o fomento ao turismo, pois muitas pessoas que sequer sonhariam em vir ao Brasil, desembarcaram aqui para competir ou acompanhando os atletas. O evento fez bem para o ego do brasileiro. Pode melhorar a imagem do brasileiro no exterior, porém os torcedores poderiam ter colaborado e não protagonizado o vexame que o país sofreu nas competições de ginástica, atletismo e outros; nas disputas individuais, o torcedor pode até não torcer pelo atleta que está competindo, mas vaia-lo é sinal evidente de má educação.

Sobre os gastos exorbitantes com o Pan - "os fins não justificam os meios", contrariando Maquiavel. Temos o direito de saber como e porquê foram gastos tantos bilhões dos cofres públicos, ou seja, dos nossos bolsos. Temos o direito também de reivindicar que as construções, uma vez em pé, devam ser usadas para o esporte de base e que não sejam demolidos ou privatizados, como o prefeito do Rio mostrou intenção de fazer com o velódromo, único do país. A opinião do ministro dos esportes, Orlando Silva, parece ser a mais coerente, de transformar algumas instalações, como a de Deodoro, em centros nacionais de treinamento geridos pelas confederações, com financiamento da União e apoio da iniciativa privada, através da lei de incentivo ao esporte. Assim, utilizamos a "herança" do Pan para investirmos no esporte de base e incentivar uma prática vital na inclusão e educação de nossas crianças. A comunidade desportiva tem que fiscalizar as ações dos governos para que toda a estrutura construída não seja desperdiçada, afinal, é tudo de "primeiro mundo". Que os estádios, quadras, campos sejam agora de nossas crianças, de nossos filhos, pois a "herança" sempre ficará para eles.

Jogos Parapan-americanos - De 12 a 19 de agosto, 1.300 atletas de 25 países, acompanhados por 700 membros de delegações, competirão em dez modalidades. Toda a estrutura dos Jogos Pan-americanos será utilizada. A delegação brasileira contará com 238 atletas e 121 profissionais de apoio, entre técnicos e médicos. No futebol sete, a seleção brasileira é atual vice-campeã paraolímpica (2004) e no Parapan, terá oito atletas de Campo Grande, sendo cinco do Caira e três do Cemdef. Os outros dois representantes de MS disputam as modalidades de atletismo e judô, sendo que todos chegam à disputa como favoritos à medalha de ouro. A Funesp auxiliou no envio dos atletas ao Rio de Janeiro e pode-se notar uma movimentação da administração municipal, através da fundação de esporte e da Secretaria de Educação, em motivar a prática do paradesporto nas escolas e auxiliar também os atletas que já chegaram ao alto-rendimento.

No discurso de todas as pessoas envolvidas no paradesporto está uma constante, de que o paradesporto é uma das melhores formas de incluir o deficiente físico e auxiliar em sua educação. E basta notar os sorrisos de alegria e satisfação de cada um deles ao praticar os esportes para perceber que o esporte é uma ferramenta fundamental para uma sociedade menos desigual.

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