Bate-Bola | Rosália Silva | 21/12/2004 19h22

Pelezinho hoje coordena o setor de esportes da UCDB

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Bate Bola com Júlio César de Souza, o Pelezinho, 42 anos,

Pelo nome de batismo poucos conhecem Júlio César de Souza, 42 anos, mas pelo apelido Pelezinho ele conseguiu respeito dentro do esporte sul-mato-grossense. O ex-meia-direita do Operário, hoje comanda a Escolinha Pelezinho e o Setor de Esportes da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco). Formado em Educação Física, ele é um dos professores do curso que forma novos profissionais da área pela Católica. Entre as atividades anuais que conseguiu emplacar no calendário esportivo de Campo Grande estão as duas Copas de Futsal da Escolinha Pelezinho, uma em cada semestre, reunindo 32 equipes em quatro categorias em disputa. Além da Olimpíada UCDB e a Copa UCDB, que é aberta a equipes externas. Com equipes adultas de destaque formados por estudantes e outros destaques da Universidade em várias modalidades, Pelezinho e outros representantes de equipes do Estado optaram por não participar da próxima edição da Copa Morena de Futsal, uma vez que a organização do torneio não admitirá a inscrição de equipes que levem o nome de instituições. Um retrocesso para o esporte, que tem na realização dos torneios um modo de conseguir patrocínios e divulgar o colaborador. "Tem que ter retorno para a empresa participar, e se cortar o nome da instituição ninguém vai querer investir, porque esta é uma mídia espontânea". Já sobre uma possível participação na nova Fundação Municipal de Esporte, Pelezinho afirma não saber de nada. Confira a entrevista deste esportista, torcedor do Palmeiras e Operário, ao site Esporte Ágil:

Esporte Ágil - Como você começou a praticar esportes, já foi no futebol?
Pelezinho - Desde pequeno, estudava no colégio Dom Bosco e jogava futebol de salão futebol de campo, também fiz atletismo. Na verdade experimentei várias modalidades: natação, handebol e sempre fui muito voltado ao esporte. Fui crescendo, tinha talento para jogar futebol e fui convidado pelo Operário com 15 anos e depois para o profissional, joguei no Operário por seis anos. Depois sai, mas nunca deixei de trabalhar com esporte, fiz Educação Ffísica e fui técnico de futsal por bastante tempo. E depois fui para uma área mais administrativa, com a criação da escolinha parei de dar aula e passei administrar. Fui coordenador do Colégio Auxiliadora, do Colégio Dom Bosco e depois fui para a UCDB, onde estou há 10 anos.

Esporte Ágil - Você ainda é treinador?
Pelezinho - Não, só dou aula no curso de Educação Física, mas para treinamento não tenho mais tempo.

Esporte Ágil - Você pegou uma época boa no Operário?
Pelezinho - Nossa, foi a época de estádio cheio, quando Operário era reconhecido nacionalmente. Quando parei de jogar em 1986, coincidentemente o futebol começou a cair e agora está difícil.

Esporte Ágil - O que falta hoje no Estado, principalmente para o futebol ter o destaque que teve anos atrás?
Pelezinho - Falta uma estrutura melhor, trabalhar a parte de organização. Nossas equipes aqui não têm organização nenhuma. Fazer um trabalho bom de base, organizar os setores infantil e juvenil. Eu vejo que os atuais diretores ainda têm uma visão ultrapassada, que desde a época de Operário, eu conversava com os diretores que era necessário dar uma olhada com mais carinho para as categorias de base. Hoje o guri que surge vai para fora, aqui no Estado não tem estrutura que o possibilite ficar.

Esporte Ágil - Quais foram os títulos que você ganhou como jogador?
Pelezinho - Bastante. Esses campeonatos estaduais, Taça Campo Grande, Taça Corumbá, participamos do Bbrasileiro, não ganhamos lógico, mas sempre tivemos uma boa representatividade. O Operário de dez competições ganhava nove.

Esporte Ágil - Hoje, você ainda joga?
Pelezinho - Jogo de vez em quando. Mas deixei de gostar de jogar bola com 22 anos. Eu jogo mais no social, jogo a Copa da Pelada em Ponta Porã. Aqui só quando fazem encontros de craques e me convidam, aí eu vou jogar. Mas não faço questão, gosto mais de assistir às partidas, estar presente, mas de jogar mesmo eu não sou fominha.

Esporte Ágil - E qual é a realidade do futsal no Estado?
Pelezinho - O futsal em Mato Grosso do Sul evoluiu muito nos últimos anos. Hoje as nossas equipes têm condições de desempenhar bons campeonatos aonde quer que vá. Esse fim de semana mesmo, o futsal feminino nosso ficou entre os quatro melhores na Copa Brasil Sub-15. Competimos em igualdade com os outros. O diferencial nosso é que não temos o futebol profissional. Os times são amadores, as nossas equipes treinam de acordo com a possibilidade de cada um. Não existe uma carga de treinamento suficiente para possibilitar encarar de igual para igual. Mas tecnicamente evoluímos muito. São muitos profissionais de Educação Física se formando todos os anos e se empenhando nesta área e a própria valorização da Federação que hoje é uma das mais organizada e tem mais campeonatos, a motivação é maior. A própria Escolinha do Pelezinho é o principal apoio das equipes, a maioria absoluta dos jogadores que estão jogando hoje passou pela Escolinha. São 18 anos que fazemos um trabalho legal, proporcionando um embasamento técnico. Eu considero que a Escolinha Pelezinho colaborou e tem colaborado muito com a evolução do futsal no Estado.

Esporte Ágil - Quantas crianças estão hoje na Escolinha Pelezinho?
Pelezinho - São 150 crianças, de 5 a 14 anos, da categoria mamadeira até o infantil.

Esporte Ágil - E as meninas?
Pelezinho - Dentro deste processo eu tive a oportunidade de treinar por dois anos o futebol feminino. Não tinha o espaço físico, a gente trabalhava com o que podia, mas teve bons resultados. O feminino é muito diferente de treinar, porque elas são mais aplicadas, têm mais determinação. Acredito que daqui a cinco ou seis anos, o futebol feminino vai se equiparar, se aproximar do masculino. Hoje tem muitas crianças de dez anos jogando futebol e isso vai proporcionar uma qualidade maior. Nas Olimpíadas nos tivemos uma ótima apresentação do nosso time. Se você analisar a faixa etária, tudo novinha, de 17 a 20 anos. Isso dá uma expectativa boa de que o futebol feminino vai atingir em médio prazo um patamar muito melhor que o de hoje.

Esporte Ágil - Alguém da sua família pratica alguma modalidade esportiva? 
Pelezinho - Eu tenho uma irmã, a Rose, que foi campeã brasileira e sul-americana de atletismo. Hoje ela é profissional de Educação Física e está trabalhando como personal na Holanda. E a minha Rosangela joga basquete e futebol comigo, quando montei o time de futebol feminino a família jogou: sobrinha e irmãs. Meu pai e minha mãe, que faleceu no ano passado, não praticam, mas sempre gostaram. Meu filho gosta de esporte, mas não é bom de bola, é bom no judô e na natação, ele também tem jogado basquete e handebol, mas não tem essa tendência esportiva. Na verdade, o dom dele é mais tocar violão, dá para investir nele, mas na música.

Esporte Ágil - E dentro do setor de esportes da UCDB, qual é a política adotada?
Pelezinho - Nós temos duas vertentes, a da universidade que é dar prioridade para os acadêmicos fazerem atividades físicas, para isso faço anualmente a Copa UCDB e a Olimpíada da UCDB. Sendo que a Copa UCDB é um evento voltado pra os acadêmicos e para a comunidade, inclusive é uma competição interestadual, em que equipes de Ilha Solteira (SP) e Pereira Barreto vem jogar handebol, no basquete vem o pessoal de Corumbá e Dourados, no vôlei vem o pessoal de Araçatuba (SP). O futsal e futebol suíço são feitos mais internamente, porque tem público, é fácil de montar oito equipes. A Olimpíadas da UCDB é para participação, o nível técnico não é importante, apesar de que são oito anos de Olimpíadas e já conseguimos bons resultados tecnicamente. E temos também as equipes da categoria adulta, em todas as modalidades: vôlei, basquete, futebol e futsal, que estão entre as melhores equipes do Estado. Isso é trabalho de longo tempo que nós do setor de esportes conseguimos desenvolver. Na UCDB é o esporte universitário que mais participa dos campeonatos de federações, e obtivemos títulos estaduais e até nacionais como o vice-campeonato da Liga Centro-Oeste de Vôlei da categoria masculina no ano passado. Ainda no vôlei, feminino e masculino, somos tetracampeões estadual.

Esporte Ágil - O que aconteceu este ano que nem a UCDB, nem o Dom Bosco entraram nos Jogos Abertos de Campo Grande?
Pelezinho - Já faz uns seis anos que o Dom Bosco e a UCDB não participam dos Jogos Abertos, porque eu não concordo com o sistema que é utilizado pela atual diretoria da Funcesp, no ano que vem deve mudar e se mudar poderemos disputar novamente. Não é uma atitude definitiva, é um direito das pessoas colocarem regras e também um direito de participar ou não. Tornou-se uma competição voltada mais para a questão financeira. Existe uma pontuação geral e sem desmerecer algumas modalidades, como a peteca que entrava nos jogos e tinha a mesma validade de um futsal que tinha 80 a 90 equipes. Não acho justo que tenha a mesma pontuação e sugeri na época que se separassem alguns esportes de lazer e os de rendimento, que inclusive no estadual (Jogos Abertos de MS) são algumas modalidades que participam. Sugeri uma equivalência ao estadual. As outras modalidades que estivessem nos Jogos Abertos de Campo Grande seriam disputadas normalmente, mas que tivessem pontuação paralela ou mesmo que não houvesse pontuação. O motivo que eles nos deram era de que queriam motivar e massificar outras modalidades. Também concordo, porque tem que fomentar o esporte amador de uma maneira geral, mas acho que dentro desta competição deveria ser feito um regulamento diferente. E não concordei e não participei, mas se mudar volto a participar.

Esporte Ágil - E os projetos para o próximo ano? 
Pelezinho - Este ano, lancei uma competição universitária, que já faço o trabalho com a UCDB e gostaria que as outras universidades também participassem dentro desse processo. Teve agora a 1ª Copa Universitária Intercursos de Futsal e conseguimos obter a participação de todas as universidades. Foi muito positiva, criou uma expectativa muito grande e no ano que vem terá a inclusão das modalidades de vôlei no feminino e masculino, o futsal além do masculino terá o feminino e uma modalidade individual que é o judô. Daqui a três anos, em 2007, quero fazer a Olimpíada Universitária, envolvendo todas as modalidades. Esta primeira foi um piloto e deu certo. E uma outra área que acho interessante de estar fomentando é o esporte entre empresas. Terminei na sexta-feira (17/12) a Copa Autobel de Futsal, entre nove equipes dos setores da empresa. O torneio criou uma expectativa muito grande entre eles, o que me fez acreditar que no ano que vem posso fazer a Copa entre Concessionárias: Matra, Autobel, Discautol. O esporte consegue transmitir para as pessoas uma satisfação pelo trabalho, uma motivação maior, tanto que o dono da Autobel já garantiu a realização da 2ª Copa. Eu vejo o esporte como uma forma preventiva, de educação para a saúde, na questão da marginalidade e um caminho para afastar os jovens das drogas. Essa é a nossa função, eu sou um educador, sou o que sou hoje através do esporte e tenho que proporcionar isso a outras pessoas também.

Esporte Ágil - Como está a discussão da nova Fundação Municipal de Esportes, já que o seu nome também foi cogitado?
Pelezinho - Falo e as pessoas não acreditam, mas eu não sei de nada. Eu concorri à Câmara de Vereadores, eu tenho uma convicção muito grande de que seria um excelente vereador, com as idéias que tenho o esporte ganharia muito com a minha eleição. Mas infelizmente não faço parte, vamos dizer, de uma população política atuante. Na verdade nunca me meti com política, na realidade eu entrei com a cara e com a coragem, não tinha padrinho político, dinheiro e acreditava no trabalho desenvolvido e a vontade de fazer, mas vi que não é o suficiente. Com relação a esta secretaria, eu sou técnico, não tenho dúvida da minha capacidade e acredito que como presidente desta fundação de esporte, com as idéias que tenho, com o meu conhecimento, claro que eu poderia fazer algo por Campo Grande. Mas eu não tenho expectativa nenhuma, eu até me divirto. Tem dois aspectos que acho interessante nesta história, o primeiro que vejo como significante para mim é o de me verem como uma pessoa capaz. Só o fato de terem lembrado de mim já me deixa satisfeito, é o reconhecimento de um trabalho. Outro fato, é que nunca sei de nada e as pessoas não acreditam nisso. Se soltar na minha mão, é claro que eu pego, tenho capacidade e vontade de desenvolver um trabalho pela população carente de Campo Grande.

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