Bate-Bola | Rosália Silva | 14/10/2004 20h21

Para Emerson Cação falta pouco para o rugby se popularizar

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Para Emerson Cação falta pouco para o rugby se popularizar

Mesmo morando em São Paulo, o jogador de rugby Emerson Cação não esquece a sua terra natal. Seu principal sonho é ter no Estado, equipes fortes que realizem torneios e tenham destaque nas competições que disputarem. Cação e mais três apaixonados pela modalidade fundaram em 21 de novembro de 2001 o Campo Grande Rugby Clube. Cada um dos amigos conheceu o esporte em lugares diferentes. Rodrigo Rondon (CURDA - Club Universitário de Rugby de Assunción-PY) começou a jogar no Paraguai; Emerson Cação (Rio Branco R.C./SP) via os jogos por tv por assinatura; Rodrigo Paniago e Hamilton de Nadai (ESALQ-Piracicaba/SP) jogavam em São Paulo. Hoje, o clube criado por eles possui atletas nas categorias adulto, juvenil (sub-19) e infantil (sub-17). A modalidade já conseguiu se organizar também em Corumbá, com o Corumbá Rugby Clube. Um dos destaques de MS fica por conta de Elton Lopes Novaes, atleta convocado para a Seleção Brasileira juvenil, agora em 2004. Apoiado pela Associação Brasileira de Rugby, que é vinculada ao Comitê Olímpico Brasileiro, o Campo Grande Rugby Clube conta com atletas que são estudantes das principais universidades de Campo Grande: UCDB, Uniderp e UFMS. O Clube desenvolve, ainda, o Projeto Escola de Rugby, com prática semanal aberta à população no Belmar Fidalgo, uma das escolas de rugby do Brasil. Ainda sem ter apoio de patrocinadores, os jogadores não deixam de participar de eventos nacionais, como o torneio de seven-a-side em Florianópolis (fevereiro de 2002); Amistoso Internacional com o De La Assunción/PY (2002); Torneio de Seven-a-side de Atibaia (2003); Super 3 de Rugby (2004), Amistoso Internacional com o CURDA/PY (2003); Torneio de Seven-a-side de Ribeirão Preto (2003); Torneio de Seven-a-side de Campo Grande (2004) e amistosos com Sem Fronteiras Rugby do Distrito Federal, Presidente Prudente, Corumbá. Além de ter sido semifinalista da Copa do Brasil neste ano. Entre os ídolos deste esporte que ainda é uma novidade entre os brasileiros, Cação cita Jonny Wilkinson, abertura camisa 10 da Inglaterra (3ª do ranking mundial), e Carlos Spencer, abertura camisa 10 da Nova da Zelândia (1ª do ranking mundial). Depois de ter vindo a Campo Grande, para votar nas eleições municipais no último dia 3 de outubro, Cação concedeu a seguinte entrevista ao site Esporte Ágil:

Esporte Ágil - Como você conheceu o rugby?
Emerson Cação - Assistindo aos jogos por tv a cabo. Em 91, eu fui para o Rio Grande do Sul, era escoteiro na época, e num dos acampamentos tinha um jogo de rugby, de brincadeira. Eu gostei. Mudei para São Paulo, um tempo depois, e no grupo de escoteiro tinha alguns atletas de rugby. Eles me convidaram e comecei a treinar no Rio Branco, um time de São Paulo. E assim estou até hoje.

Esporte Ágil - E aqui em Campo Grande, como chegou a modalidade?
Emerson Cação - Eu jogava no Rio Branco e tinha um amigo meu, ele era daqui e estudava na Esalq em Piracicaba (SP). Ele e mais outro cara de Campo Grande jogavam rugby. Ele me achou pela internet, no site do Rio Branco e me escreveu perguntando se eu era o Cação de Campo Grande. E o Paniago comentou que também o Rodrigo Rondon, que era um cara que tinha acabado de chegar de Assunção e que também tinha jogado durante cinco anos no Paraguai. Com isso, já eram quatro campo-grandenses, dava para fazer um time na cidade. Eu vinha para cá no dia 13 de outubro de 2001, trouxe uma mala lotada de uniformes, bolas. Conversei com o Rodrigo e no outro dia, já estávamos no Clube Estoril, que foi o clube que abriu as portas no começo para a introdução do esporte aqui. No primeiro ano, 2002 inteiro, a gente treinou no Estoril. Além de ser um ponto de referência, tínhamos espaço no informativo da entidade e no site.

Esporte Ágil - No começo quantas pessoas estavam treinando?
Emerson Cação - Para se ter uma idéia, os primeiros treinos eram com 5, 6 pessoas. No primeiro ano já tinha uns vinte. Hoje são mais de 200 pessoas, em várias categorias. Tivemos um time feminino, que ainda existe, mas está parado. Além dos times infantil, juvenil e adulto.

Esporte Ágil - Isso tudo no Campo Grande Rugby Clube?
Emerson Cação - Tudo, porque nasceu aqui. E agora em 2003 foi que surgiu em Corumbá.

Esporte Ágil - Sua família é daqui, por isso você mantém contato com Campo Grande?
Emerson Cação - Todo mundo da minha família é daqui. Eu também nasci aqui, fui para São Paulo só para estudar. Pretendo voltar um dia. Eu tenho um sonho: não joguei rugby aqui quando era moleque porque não tinha. O que estou fazendo é para que as crianças possam jogar desde pequenas. Eu quero, quando voltar com 45 ou 50 anos, poder assistir a jogos de rugby em Campo Grande.

Esporte Ágil - E agora vocês já contam com uma estrutura para treinar?
Emerson Cação - O Campo Grande Rugby Clube é o segundo do Brasil que tem campo próprio, com uma sede, área de lazer. Os outros clubes são maiores que o nosso, mas não tem o campo, eles usam outros, como o de futebol.

Esporte Ágil - Um campo de rugby é muito diferente que os das outras modalidades?
Emerson Cação - Esta é mais uma facilidade do rugby, que eu acho superdemocrático e fácil de praticar. Não precisa de nada para brincar e para treinar. Não precisa nem de bola específica, pode ser uma bola de meia, de futebol, de vôlei. Lógico, que a bola própria para praticar rugby oferece uma performance melhor e é a exigida nos torneios. Também não precisa de campo, pode jogar em quadra, cada um tem a sua adaptação: terra, areia, grama, espaço pequeno ou grande. O campo tem 70 x 100 metros no máximo, mas ele pode ter 80, 60. O ideal é o 70 x 100 e o ingol, que é uma área de gol de cinco metros para dentro da linha, para a pessoa apoiar a bola. Na regra oficial, tem esses três metros de cada lado para arriscar. E a trave é um H, que é mais fácil que o U do futebol americano. No futebol já tem a trave, coloca um pvc de cada lado, tem um H, depois é só retira-lo.

Esporte Ágil - Você acredita então que a modalidade pode se popularizar?
Emerson Cação - Pode não, vai com certeza absoluta. É um esporte de cavalheiros, tem uma filosofia e um espírito de equipe. Você não tem que disputar contra outra equipe, é sempre jogo com outra equipe. É isso a gente deixa bem claro para as crianças, se não tiver o time adversário não tem jogo. Existe um respeito muito grande dentro do rugby, se tem alguém contundido dentro de campo, quando o cara sai ele é aplaudido pelo time adversário, para agradecer por ter participado. O rugby tem várias particularidades que o tornam um esporte de honra. É um esporte que foram cidadão, caráter. Todo esporte leva o praticante para um caminho melhor, mas no rugby o cara entra num jogo viril e não pode se descontrolar. São quinze contra quinze, se um sai, acabou o jogo. E não tem estrelas, não pode depender de um Romário. E é um jogo muito mais democrático, em que aceita o gordo, gordinho, magrelão, rápido, forte, as várias formas físicas.

Esporte Ágil - Vocês têm escolinhas aqui em Campo Grande?
Emerson Cação - Temos a escolinha de formação, por enquanto só com treinamentos no Belmar Fidalgo, das 19 às 21 horas, às terças e quintas-feiras e na sede do clube, às 14h30 do sábado. O Campo Grande Rugby Clube fica na Rua Getulina - Q30 L06, no Jardim Veraneio, próximo ao campus de Ciências Agrárias da Uniderp e do Cedesc/Funlec.

Esporte Ágil - O Brasil já tem times profissionais de rugby?
Emerson Cação - Não. O profissionalismo do rugby começou em 1995, mas hoje é o terceiro evento esportivo mais televisionado do mundo. Primeiro vem a Copa do Mundo de Futebol, as Olimpíadas e a Copa do Mundo de Rugby. Ele é superdifundido no mundo inteiro. As grandes potências são Inglaterra, Nova Zelândia, África do Sul, Austrália, França, Gales, Escócia, Itália, Argentina e Irlanda.

Esporte Ágil - E o Brasil?
Emerson Cação - É o trigésimo quarto. A primeira divisão do rugby tem vinte times. A segunda divisão tem mais vinte times e o Brasil está na segunda divisão. O Brasil começou a dar os primeiros passos mais firmes no rugby em 1975, tem pouco tempo ainda, apesar de ter chegado ao País pelas mãos de Charles Muller, no mesmo dia ele trouxe para São Paulo no SPAC, uma bola de futebol e outra de rugby. Mas o rugby pode não ter se popularizado porque as regras são muito complicadas, é um xadrez dentro de campo. Não é só chutar a bola e fazer o gol. No começo, o futebol era praticado só pela alta classe. Quando teve a guerra, todos os estrangeiros foram mandados embora para os seus países. Eles saíram, mas ficaram os funcionários dos clubes. Os funcionários entendiam o futebol, que era só pegar a bola e chutar para o gol. E o rugby eles não entendiam como funcionava direito. E ficou esquecido até 75, quando voltou mesmo.

Esporte Ágil - E tem times fortes no Brasil?
Emerson Cação - Tem seis times da primeira divisão que são muito fortes. Para se ter uma idéia, o Uruguai é um dos vinte melhores do mundo e tem cinco times na primeira divisão. O Brasil tem seis, três em São Paulo, o Rio Branco, o Bandeirantes e o SPAC. Aí tem um de São José dos Campos (SP), Niterói (RJ) e o Desterro de Florianópolis (SC). Temos uma divisão universitária muito forte em São Paulo, com mais de dezesseis universidades participando. Todas as universidades dão bolsas para os atletas de rugby. Jogando futebol não tem incentivo para estudar, mas no rugby tem. O nosso clube vai contratar um profissional para trabalhar com atletas daqui e um dos pontos que ele vai enfatizar é isso, de que se a pessoa quiser estudar em São Paulo pode ir porque lá eles oferecem bolsa.

Esporte Ágil - Você joga no Rio Branco Rugby Clube?
Emerson Cação - Jogo, comecei a treinar lá. Há dois anos estava em Curitiba (PR), joguei no time de Curitiba, mas sempre jogando por Campo Grande. O Rio Branco é a primeira divisão, o Curitiba a segunda e o Campo Grande a terceira. Teoricamente, não posso jogar no Rio Branco e no Curitiba pelo mesmo campeonato. A Copa do Brasil do ano passado, Campo Grande foi semifinalista. Curitiba ficou em quinto. Após eu ter me machucado não pude jogar pelo CGRC.

Esporte Ágil - Mas você tem outra profissão?
Emerson Cação - Sou gerente de marketing, trabalho com produtos, até a pouco eu cuidava de Maguary e das gelatinas Royal. Agora estou em São Paulo fazendo consultoria para uma empresa de esportes.

Esporte Ágil - E você acha que daqui para frente a modalidade pode se profissionalizar e manter financeiramente jogadores?
Emerson Cação - Com certeza vai se profissionalizar. Existe uma empresa que se chama Sports Management, que tem seis profissionais que só vivem de rugby, não são atletas, são profissionais que coordenam o projeto rugby 2001. Esse projeto é financiado para formar atletas em escolas. Já são quatro grupos treinando em São Paulo, só crianças de 10 e 11 anos, que é para formar uma geração daqui a 10 anos. No futuro, teremos profissionalismo no Brasil. Temos um profissional que jogou na Itália e voltou. Tem uma pessoa que foi contratada para jogar na Austrália, só que não foi por problemas de visto e por não ter conseguido a papelada para inscrição a tempo. Nós temos atletas de nível internacional no Brasil. Principalmente na modalidade seven a side, que são sete contra sete, que é o que vai entrar na Olimpíada de 2008.

Esporte Ágil - E como está a expectativa de vocês sobre se tornaram praticantes de um esporte olímpico?
Emerson Cação - O rugby até 1924 era olímpico, saiu em função de algumas conjunturas. É uma modalidade muito demorada para jogos olímpicos, um torneio demora dois meses para chegar a um campeão. Já na seven a side, mesmo com vinte times de primeira linha, em um fim de semana se define o campeão. E se tem um esporte olímpico, recebe investimento do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), reconhecimento do público e vira notícia. Por exemplo, tem rugby de cadeira de rodas, inclusive na Paraolimpíada. Só que o Brasil não participou, não tem time para isso, e nem se comentou. São 16 esportes, o Brasil participou de 13, entre esses três está o rugby. Mas as federações, associações e clubes não estão esperando para que o esporte seja integrado às Olimpíadas para se popularizar ainda mais. Aqui começamos em 2002, já temos um time em Corumbá, estamos trabalhando com Três Lagoas, Nova Andradina, São Gabriel do Oeste, Ponta Porã e Dourados. A cada seis meses a gente faz uma clínica, um curso aqui tentando aumentar o número de praticantes. Mas não é fácil, uma pessoa sozinha, que não entende tanto das regras, começar um time de rugby. Tem que ensinar as técnicas, o passo a passo.

Esporte Ágil - E a organização de vocês aqui no Estado. Além do Campo Grande Rugby Clube?
Emerson Cação - Nós já temos a União, que não é oficial e se chama Rugby MS. A União tem o intuito de divulgar o rugby no Estado, com Campo Grande e Corumbá para formar a Federação. Temos a cara da instituição, a representatividade junto a ABR (Associação Brasileira de Rugby), mas ainda não tem Federação.

Esporte Ágil - E os projetos para o próximo ano?
Emerson Cação - Tem o projeto do Rugby 2011 que é tocado a parte. A ABR tem o projeto para descentralização da modalidade. Neste ano um dos jogos da Copa do Brasil foi aqui, patrocinado pela ABR. Eles fazem isso com várias equipes do Brasil inteiro. Eles têm o projeto de ampliar esse suporte técnico para divulgar o rugby, além de apoiar a regionalização. E a nossa regional é MS e Distrito Federal, que se junta, sem ser oficial, com Presidente Prudente (SP) e Londrina (PR). Tem a Liga Sul, tem São Paulo, e depois tem uma Liga Norte. No Rio de Janeiro era apenas um time, esse ano tem mais quatro. Em Minas Gerais nasceu de novo o Viçosa, dois times em Varginha, Belo Horizonte e Governador Valadares. Tem três times no Amazonas e três em Salvador.

Esporte Ágil - E daqui a quanto tempo nós vamos ter um Campeonato Estadual de Rugby?
Emerson Cação - Com as duas equipes vamos ter no ano que vem o primeiro estadual. Porque a gente pode fazer jogos de ida e volta, num melhor de três entre Campo Grande e Corumbá. E um campeonato com três equipes só em 2006, provavelmente com a equipe que está sendo formada em Três Lagoas.

Esporte Ágil - E os torneios fora?
Emerson Cação - Participamos sim de duas competições, a Super 3, disputada por três estados: Minas Gerais, Distrito Federal e MS. E a Copa do Brasil. Fora isso, temos cinco torneios sevens nacionais, que reúnem uma média de 20 a 26 equipes adultas. Um em agosto em Atibaia, novembro em Niterói, dezembro em São Paulo, janeiro em Florianópolis e março em São Roque. Neste circuito participam qualquer clube, qualquer nível.

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