Bate-Bola | Rosália Silva | 14/02/2005 20h49

Marcelo Nunes fala dos projetos da Federação de Boxe

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Bate-Bola com Marcelo Nunes, 39 anos,

O jornalista Marcelo Nunes, 39 anos, agora está à frente da Federação de Boxe de Mato Grosso do Sul. Ele que começou como radialista esportivo em 1985, hoje é o editor de esportes do Primeira Hora, começou um projeto na Difusora AM e ainda arruma tempo para apresentar um programa sobre lutas na TV Educativa nas noites de sábado.

Segundo ele o boxe é uma paixão: "eu gosto tanto do boxe que eu tenho um desafio, quero desenvolver o boxe, quer fazer que Campo Grande seja um dos principais centros de pugilismo do Brasil e que possa disputar com condições de igualdade com o Pará, São Paulo e Bahia". À frente da Federação ele terá quatro anos de mandato, mas já promete novidades que diz não poder ainda revelar e que serão implementadas neste ano.

Uma de suas primeiras conquista pode ser a vinda pela primeira vez da Copa Centro-Oeste de Boxe para o Estado, uma vez que os detalhes estão quase certos com a Confederação Brasileira. Outro objetivo a ser alcançado é a conquista de uma sede para a Federação, chegar a 300 atletas filiados e competindo, a implantação de um ranking da modalidade e a formação das seleções A e B, com atletas de todas as categorias, que representarão MS em torneios no Brasil e internacionais.

O Campeonato Estadual está programado para julho, um mês depois da Copa Primeira Hora de Boxe. A disputa em MS será em forma de circuito, passando pelas cidades de Coxim, Campo Grande, Sonora e Ponta Porã. Marcelo Nunes também explica que a Federação está buscando parcerias para realizar eventos, "não posso reclamar do governo do Estado, que tem apoiado demais, nem do município que agora tem o João Rocha e o Nelsinho Trad, que gosta demais do boxe inclusive. Mas não posso ficar só na dependência do setor público, tenho que partir para o setor privado. E já têm algumas empresas que andei conversando e vão entrar nesta caminhada com a gente", afirmou.

Mas o novo dirigente sabe que a tarefa não é fácil, já que o boxe não é uma modalidade como o karatê ou o judô, que são vistos como disputas mais "leves". Marcelo Nunes explica que enquanto uma luta nas outras modalidades dura em média cinco minutos, o boxe o tempo de competição é de cerca de vinte minutos, "o atleta tem que ter mais concentração". Além de ter que vencer a idéia de ser um esporte violento. Confira a entrevista:


Esporte Ágil - Como você começou a se envolver com o esporte? Foi no jornalismo ou você já foi atleta?
Marcelo Nunes - Na verdade eu jogava bola e gostava muito de praticar esporte. Mas eu nunca fui um especialista em futebol ou qualquer modalidade esportiva.

Esporte Ágil - Você chegou a participar de competições?
Marcelo Nunes - Não, sempre foi por esporte mesmo. Agora, a comunicação esportiva foi que entrou na minha vida. Eu sempre fui um estudioso do esporte, um teórico, um analista do esporte de um modo geral e não só do futebol. Eu comecei em 1985...

Esporte Ágil - Mas você começou a trabalhar já como jornalista esportivo?
Marcelo Nunes - É, na área esportiva. Aliás, na comunicação eu já fiz tudo. Eu nunca abandonei a comunicação esportiva, sempre estive dentro dela. Atuei em muitas editoras, como política, mas a minha especialidade é o esporte. Foi em 1985, quando eu comecei no sistema de som da Rodoviária. Lá foi quando eu conheci o Arthur Mário, que na época já era jornalista esportivo conhecido. Ele me convidou, fui trabalhar com ele na Rádio Cultura e aí comecei fazendo rádio lá.

Esporte Ágil - E agora você então voltou as suas origens, porque você também está na Difusora AM?
Marcelo Nunes - Depois de um bom tempo, parei em 1999, já fazia cinco anos. Voltei com o Arthur Mário. Sempre tive convites, mas não tinha tempo, uma correria, a Federação de Boxe, o Jornal Primeira Hora, a televisão e tanta coisa na minha vida. Voltei mais pelo Arthur Mário.

Esporte Ágil - Como você vê a cobertura jornalística do esporte em nosso Estado?
Marcelo Nunes - Olha, tem muita gente que reclama, mas o espaço para o esporte aqui é grande. A divulgação tem sido muito grande, tanto é que tem sites, que é o Esporte Ágil e outros, além disso, tem os jornais que dão total cobertura ao esporte regional, a TV Morena tem um espaço especial para o esporte regional, a TV Educativa, outros canais não tem um espaço específico para o esporte, mas também têm divulgado. Não há o que reclamar, a cobertura tem sido muito boa.

Esporte Ágil - Agora você esta na Federação de Boxe de MS. Antes de você ser presidente o Jornal Primeira Hora sempre deu muitas notícias sobre a modalidade, era por sua causa?
Marcelo Nunes - Não especialmente com o boxe, mas com as modalidades de luta. Porque eu achava que as modalidades de luta estavam renegadas, ficavam no segundo plano. Eu via as modalidades coletivas com muito espaço na mídia. Eu também já gostava de lutas e além disso divulgava a carência de divulgação. Eu via muita divulgação no karatê e judô, e as outras modalidades não eram tão divulgadas. E eu comecei a entrar no meio, a divulgar, divulgar... E o boxe eu entrei a partir do momento certo que vi a batalha de alguns companheiros, no caso do Sebastião Aparecido, o Tiãozinho, um dos caras mais conhecidos do boxe aqui. Esse cara promovia boxe aqui e em todo evento levava um "ferro": ele montava e desmontava o ringue, casava as lutas, ia atrás dos lutadores. Era um sofrimento danado, ninguém apoiava ele. Eu comecei a ver a luta dele e a apoiar, isso foi em 1999, mais ou menos. Dava cobertura e via bons lutadores, com boas qualidades técnicas, porém não tinham apoio. Aí foi que eu comecei a ajudar o Tião.

Esporte Ágil - A Copa Primeira Hora de Boxe foi uma idéia sua ou da direção do jornal?
Marcelo Nunes - Eu já queria promover um evento do boxe pelo jornal. Isso surgiu com o objetivo de divulgar mais o boxe, porque o Sérgio Cruz, o dono do jornal, ele dá total liberdade para as pessoas trabalharem. Aí o Raul (Ratier) que era o presidente da Federação de Boxe, me perguntou porque eu que estava envolvido não promovia a Copa Primeira Hora. A idéia partiu do Raul, foi ele quem deu a idéia. Eu comentei com o Sérgio Cruz, que na mesma hora falou, "vamos fazer". Começamos e já está na quinta edição. Esse ano vamos fazer em junho.

Esporte Ágil - Qual a média de inscritos no torneio?
Marcelo Nunes - De quarenta a cinqüenta. A Copa Primeira Hora é atualmente o principal evento do boxe no Estado. E são praticamente cinqüenta inscritos porque é aberta a competidores que tiveram no máximo duas lutas. É para estreantes. E, além disso, no final do evento fazemos um desafio. Os campeões aqui do Estado contra os campeões dos outros estados.

Esporte Ágil - E qual a realidade do boxe no interior, quais os municípios mais organizados?
Marcelo Nunes - Agora está começando a surgir em Ponta Porã, que está ficando forte e estamos incentivando lá, arrumando os equipamentos, oferecendo estruturas. Coxim é forte e se brincar Campo Grande começa a perder espaço para Coxim. Sonora também é forte. Aquidauana e Corumbá a modalidade começa a surgir e queremos implementar mesmo, mas é que ainda estamos carentes de técnicos, temos que ter um tempo para formar técnicos.

Esporte Ágil - Mas já estão programados cursos?
Marcelo Nunes - Serão para árbitros e técnicos, agora em março. Aliás, o primeiro evento será  dia 12 de março, no Conjunto Mata do Jacinto: a Copa Metropolitana de Boxe, em que também vamos convidar lutadores de Ponta Porã e Coxim. O local ainda está para ser definido entre as escolas municipal ou estadual de lá. E depois de março, no segundo sábado de abril será no Conjunto União. Vamos levar o boxe para os bairros, o objetivo é divulgar o boxe. Temos bons atletas, mais eles precisam ser mais conhecidos. Temos atletas aqui em condições de disputar com grandes lutadores do centro do País. Só temos que dar mais condições.

Esporte Ágil - Você acha que esse é o seu principal desafio a frente da Federação?
Marcelo Nunes - O principal desafio é formar atletas, mas acho que alem de formar atletas, descobrir talentos, quero fazer com que o boxe seja um setor de inclusão social. Boxe não é só porrada, é um show, é um espetáculo. É a modalidade de luta mais popular do Brasil, tem regras, diante disso, queremos utilizar o esporte, o boxe como setor de combate a exclusão social.

Esporte Ágil - A partir de que idade os atletas podem competir, qual a categoria?
Marcelo Nunes - As crianças podem treinar a partir de oito anos, não tem problemas, mas o combate só a partir dos 13 anos. O boxe não é um esporte violento, é uma modalidade olímpica com muitas regras. Os lutadores que sobem no ringue só vão se estiverem muito bem preparados.

Esporte Ágil - O Boxe também disciplina os atletas?
Marcelo Nunes - Lógico, isso é fundamental. Acima de tudo isso. É como eu falei, utilizar o esporte como inclusão social.

Esporte Ágil - Quantos clubes estão filiados à Federação?
Marcelo Nunes - Hoje são cinco clubes, mas academias têm muitas e que não estão filiadas e que nós começamos o trabalho de regularização. Tem academias lá no Mata do Jacinto, a do Tião aqui na Dom Aquino, tem a Extreme Fight na Pedro Celestino, tem uma na 7 de Setembro. Deve ter umas dez academias com lutadores de competição.

Esporte Ágil - E quais são os destaques do Estado?
Marcelo Nunes - Temos aqui o Adilson Leguisanon da categoria meio-médio até 69 quilos e que disputou o Campeonato Brasileiro do ano passado e foi vice-campeão. Aliás, ele só não foi mais longe porque enfrentou um campeão paulista e um campeão brasileiro. Tem o Paulão Aguinarte que foi medalhista de bronze no Brasileiro da categoria pesado até 92 quilos. Tem o Rogério Albano da categoria 72 quilos meio-médio, o Tiago que está parado porque tinha algumas discordâncias mas com uma nova direção na Federação ele volta. O Edésio de Coxim é vice-presidente da Federação, ele tinha uma academia aqui e foi para Coxim e desenvolve o boxe lá. É um cara trabalhador do boxe. Também tem o Eduardo Maiorino, ele é lutador de muay-thai e lutador de boxe da categoria super-pesado, tem o Wande Lopes meio-pesado, esse são alguns dos nomes.

Esporte Ágil - E quais os projetos para estes quatro anos de mandato?
Marcelo Nunes - Em princípio eu quero buscar talentos, para isso vamos levar o boxe para os bairros e criar academias em setores estratégicos da cidade. Vamos promover grandes eventos. Já falei com o presidente da Confederação Brasileira de Boxe para trazer para cá o Campeonato Centro-Oeste de Boxe, está 99% definido que será aqui. E promover em dezembro uma competição de âmbito internacional. O Boxe dos Campeões, com lutadores da Argentina, Uruguai e Paraguai e lutadores daqui. E o Campeonato Brasileiro, que neste ano ainda não tem como trazer. Além de promover convênios, levar academias para os bairros da cidade e buscar garotos e levar para as academias, dar alimentação para eles, exigir o estudo das crianças. Enfim, estrutura a Federação. Porque o Raul foi presidente durante 12 anos. Eu diria que ele trabalhou demais pelo boxe durante seis anos, depois ele parou. Principalmente no último mandato, mas ele fez muito pelo boxe e depois parou e eu acabei assumindo. Assumi porque as pessoas do meio foram pedindo, eu mesmo no princípio resisti muito.

Esporte Ágil - Tem alguém da sua família que pratica alguma modalidade esportiva?
Marcelo Nunes - Tem, o meu irmão mais novo que luta jiu-jitsu e karatê. Inclusive, ele me ajuda na Federação.

Esporte Ágil -Tem algum projeto para alcançar as Olimpíadas?
Marcelo Nunes - Eu reuni alguns atletas e falei para eles que o atleta tem que pensar grande, tem que ter um planejamento e sonhar. Tem que acreditar. Falei para eles que a Federação vai dar estrutura, condições para os atletas. Nós temos projetos para colocar atletas em 2007 nos Jogos Pan-Americanos do Rio.

Esporte Ágil - E tem atletas na categoria feminina?
Marcelo Nunes - Tem boxe feminino e vamos implementar aqui também. Tem algumas mulheres lutando aqui, advogadas, engenheiras  e são lutadores de competição. Boxe tem proteção, tem muitas regras. Eu quero fazer campeonatos de base, como tem o karatê e judô: cadete, juvenil, infantil e feminino.  Para que o Estado seja um dos principais centros do País é preciso fazer isso.
 
Esporte Ágil - Qual a sua avaliação sobre o site Esporte Ágil?
Marcelo Nunes - Eu acho que vocês fazem um bom trabalho. Sabe porquê? Eu vejo o Betinho (fotógrafo) em tudo que é campeonato. Vejo ele passando as pautas do que está acontecendo e daqui a pouco você acessa o site e já está na tela. Acho que o Esporte Ágil presta um serviço muito grande de divulgação, trabalham sábado, domingo e nos feriados. Serve, aliás, de pauta para os jornais diários. Eu que trabalho no jornal diário observo isso. Diante disso, vocês estão de parabéns. Vocês criam entrevistas especiais, buscando notícias da periferia e notícias que ninguém valoriza vocês estão lá. Isso é importante.

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