Érica Sinzato
Atleta de ABAF, de MS, foi campeã Mundial de Basquetebol Máster com a Seleção Brasileira no início do mês
A ala-armadora Érica Sinzato, da ABAF/MS (Associação de Basquete Adulto Feminino de Mato Grosso do Sul), foi a representante sul-mato-grossense no Campeonato Mundial de Basquetebol Máster, disputado no início do mês em Montecatini Terme, na Itália.
A atleta, de 37 anos, foi chamada pela primeira vez para defender a Seleção Brasileira. Em solo italiano, ela atuou ao lado de figuras conhecidas do basquete feminino, como Iziane, Ega e Silvinha. Terapeuta ocupacional, Érica é natural de São Paulo (SP), onde começou jogar aos 11 anos, e mora em Campo Grande há quatro.
A equipe brasileira sobrou no torneio e foi campeã invicta, com cinco vitórias em cinco jogos.
Confira uma entrevista com a atleta:
Como começou seu relacionamento com o esporte e, em especial, com o basquete?
Começou quando tinha 11 anos, em São Paulo (SP). Era ginasta, da antiga ginástica olímpica, e tive lesões que me impediram de continuar. Na época, tinha uma boa estatura para a idade e me chamaram para o basquete. Não tinha afinidade nenhuma com esporte de quadra, mas comecei, tentei e nunca mais parei.
Quais torneios você já disputou?
Lá, participei de campeonatos paulistas, jogos regionais e jogos abertos. Aos 17, vim para Campo Grande, estudei na UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), e foi quando surgiu minha primeira convocação para a Seleção do Estado de Mato Grosso do Sul para jogar Brasileiros. Também joguei alguns JUBs (Jogos Universitários Brasileiros) e continuei jogando com o pessoal de São Paulo. Jogava aqui e lá. Morei ainda em Goiânia (GO) e joguei por lá também. Participei de Brasileiros, estaduais, abertos e outros.
Hoje você está com a ABAF (Associação de Basquete Adulto Feminino de Mato Grosso do Sul)?
Sim, a ABAF faz parte da minha vida desde 2002 e temos um grupo ótimo e bem engajado. Atualmente fazemos uma parceria com a ABV-MS (Associação de Basquetebol Veterano de Mato Grosso do Sul). O meu primeiro Master Brasileiro que foi em 2010, quando completei 30 anos.
Como pintou essa convocação para o Mundial?
No Brasileiro, a categoria é diferente do Mundial, no feminino. No Brasileiro, é de oito em oito anos. E, no Mundial, é de cinco em cinco anos. Ano passado, não conseguimos montar uma equipe do 30+ aqui no Estado, então fui convidada para jogar por Brasília (DF). Fui despretensiosa, meio triste até por não ter conseguido montar equipe. E, no fundo, rendeu muitos frutos, pois foi lá que surgiu a convocação. Fiquei muito feliz, pois, no fundo, estava meio desacreditada no meu basquete. Estava devagar, quase parando. Mas, no Mundial, vi que tenho potencial para jogar ainda na categoria. De todas que fomos para lá, temos quase todas as mesmas condições, exceto as que ainda atuam no profissional, que estão em um nível mais alto. Mas, quem não é profissional, consigo estar no mesmo nível e isso me deixou muito feliz.
Foi uma surpresa para você?
Foi uma ótima surpresa. Nunca pensei que isso fosse acontecer nessa altura da minha vida.
E como foi atuar ao lado de jogadoras da seleção principal?
Na minha época de categorias de base, sempre joguei contra essas atletas, que depois se tornaram jogadoras da Seleção Brasileira. Conheço várias delas de quando jogava em São Paulo, mas foram poucas oportunidades que tive de jogar com elas.
Como avalia seu desempenho pessoal no Mundial?
Não tive oportunidade de estar muito tempo em quadra. Mas o tempo que joguei, consegui mostrar um potencial que pode ser melhor aproveitado em outras oportunidades.
O fato de você atuar em Mato Grosso do Sul pode te atrapalhar em futuras convocações?
Penso que foi difícil essa primeira convocação, pois comecei a jogar o máster em 2010. Mas para as próximas, penso que pode ser menos complicada. Fui um pouco tímida, para ver como seria e comecei a falar dos projetos daqui e de outras meninas. Então fui mostrar que temos um grupo muito bom em MS. Penso que se plantou uma semente.
O que o poder público e as entidades que dirigem o esporte aqui em Mato Grosso do Sul têm plantado, na sua avaliação?
Cada dia está mais difícil o esporte em geral pela falta de apoio, até categorias de base estão complicadas atualmente. Em 2015, conseguimos um ônibus da Fundesporte para irmos ao Brasileiro em Goiânia (GO). Foi a única coisa que conseguimos nesses anos todos. Mesmo com todas as dificuldades, penso que vale a pena não desistirmos do esporte. Me redescobri aos 37 anos e sei que ainda posso muita coisa. Vi que devemos acreditar sempre.
Quais diferenças você pode apontar do basquete máster em MS para outros estados?
Falando do feminino, temos sempre muita dificuldade para juntar as meninas, ainda mais no máster. Pela falta de incentivo e pela falta de oportunidade. Muitas têm filhos, trabalho, marido, outros afazeres e fica bem difícil se dedicar. Principalmente nesta fase entre 30 e 40 anos. É muito complicado conciliar. Vejo que aqui no Estado temos conseguido agregar, a cada ano, mais meninas. Esse é nosso objetivo: agregar pessoas que queiram abraçar a causa e fortalecer cada vez mais o basquete feminino.
Qual a importância da ABV na organização da ABAF?
A ABV nos abraçou de uma forma que foi muito importante, foi crucial para o feminino. Eles já tinham uma certa organização que o feminino não tinha, e a gente conseguiu nos unir para ficarmos mais consolidados para continuar nosso projeto. Eles, por exemplo, viabilizaram a quadra do Clube União dos Sargentos para nós. A gente treinava onde tinha horário, no dia que dava, com uma quantidade mínima de pessoas. Hoje temos horários e dias fixos, viabilizado pela ABV. Todas pagam mensalidades, e quem não pode pagar, obviamente não excluímos do grupo, sempre para agregar mais pessoas. Isso é uma coisa que poucos estados conseguem para se organizar. Conseguimos nos unir em prol de um objetivo. Mas, a dificuldade do feminino é geral, em todo o Brasil.
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