Bate-Bola | Da redação | 04/05/2009 21h57

Bate-bola: Tony Vieira

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Tony Vieira

Alvo da ira da torcida operariana após o rebaixamento da equipe no Campeonato Estadual Série B, Antônio Vieira, mais conhecido como Tony Vieira, esteve na redação do site Esporte Ágil para tentar explicar muitas das dúvidas dos torcedores e da própria imprensa.

O dirigente reclama principalmente da falta de apoio do poder público pelo projeto que terminou com a queda do Operário para a Série B, e que "hoje, o futebol de Mato Grosso do Sul não é um futebol sério, pois quem está jogando não são clubes do interior, mas são as prefeituras que estão em campo".

Confira a entrevista na íntegra:

Esporte Ágil - Como você chegou à presidência do Operário?
Tony Vieira -
Eu cheguei à presidência do Operário porque o Operário não tinha presidente.

Esporte Ágil - E como funcionam as eleições no Operário?
Tony Vieira -
Agora é de quatro em quatro anos. Mas agora só depois de 2014 pode ter outra eleição.

Esporte Ágil - Por quê?
Tony Vieira -
Por causa das prorrogações que teve na CBF de todos os dirigentes.

Esporte Ágil - E o projeto Sócio-Torcedor do Operário, por que não deu certo?
Tony Vieira -
Nem começou ainda. Nós temos o projeto de 2002 pra cá e alguma pessoas que passaram pelo Operário não nos deixou implantar. Só que a gente tem que trabalhar com a coisa organizada. Não tem como você fazer esse projeto e colocar um motoqueiro para sair recebendo dinheiro na rua. Temos torcedor operariano até em Rondônia, no Rio de Janeiro. Então, nosso setor de negócios está buscando dentro do projeto onde você possa se associar ao clube e, de repente, nas casas lotéricas, comprar o título do clube em qualquer lugar do Brasil e recolher as finanças do mês. Então, nós estamos desenvolvendo este projeto, pois você não tem como implantar de imediato, pois você tem competição, você tem audiência trabalhista do passado, todo dia você tem um cobrador te cobrando, então você não consegue desenvolver. O clube não tem receita, nós estamos fazendo por onde para ter receita. Por que Operário e Comercial chegaram nessa crise que está hoje? Isso foi plantado lá atrás. Eu estou aqui colhendo o que plantaram, não fomos nós que plantamos. O que eu estou plantando hoje, vamos colher daqui dez anos. O que vem acontecendo é que sempre dependeu de poder público, sempre dependendo de alguém que pudesse por dinheiro do bolso e infelizmente isso um dia acaba. E acabou. Por exemplo, em 2007, eu coloquei sozinho do bolso. Cheguei em terceiro lugar, por pouco não fomos pra final do campeonato. Mas não tem como você bancar um time hoje, você tem que trabalhar profissionalmente. E como o time trabalhou amadoramente no passado, a conseqüência veio agora. Porque no passado, dependia, por exemplo, de o governador gostar de futebol. Aí ele ajudava os times da Capital. Hoje, você tem que depender do desejo da pessoa que está no poder, e isso é uma vergonha. Então, nós estamos trabalhando neste projeto a longo prazo, por isso que vai demorar um pouquinho pra emplacar. Agora, a gente, como mostrou em 2007, estamos mostrando de novo, que a parte legal do Operário está organizada, a parte jurídica. É isso que nós estamos trabalhando. Não é uma competição que vai acabar com o projeto. A competição aqui é deficitária, você não negocia jogador, pois é um calendário só de seis meses, você não consegue patrocinador, pois, além de um contrato de seis meses, não tem mídia. A Federação não divulga o campeonato. A TV Globo, por exemplo, só fala do Campeonato Paulista. Então, você trabalha sozinho para desenvolver o futebol e ainda é criticado e sem recursos.

Esporte Ágil - Quando o Operário começou mal no Campeonato Estadual, que providências foram tomadas para evitar a queda para a série B?
Tony Vieira -
Primeiro, o campeonato começou com um planejamento que nós tínhamos na mão. A equipe que jogou aquele jogo festivo de dezembro seria a base dessa do Estadual, mas era uma folha de 60 mil reais. O apoio financeiro assumido pelo prefeito com a gente não aconteceu. Duas empresas da Capital que estariam com um pré-acordo com a gente de estar patrocinando tiveram um problema com o passado, questão de receita federal, e não puderam assumir o compromisso. Então, nós tivemos que atender o campeonato. E foi atendido o campeonato desta forma. Para não sair do torneio, tivemos que colocar um time que não tivesse muito custo. Este time que terminou a competição tinha uma folha salarial de 13 mil reais. E a cota está atrasada. Estamos tendo mais os fornecedores e alguma outra parte de salário de algum jogador.

Esporte Ágil - O pedido de afastamento do Campeonato Estadual que o Operário protocolou junto a Federação foi uma forma de protesto?
Tony Vieira -
Foi uma forma de protesto para mostrar a sociedade que o poder público não cumpriu aquilo que ele foi aos órgãos de imprensa, falando que a Copa deveria ser em Campo Grande, e iria investir nos dois clubes da Capital. Isso não aconteceu. Hoje, o futebol de Mato Grosso do Sul não é um futebol sério, pois que está jogando não são clubes do interior, mas são as prefeituras que estão em campo hoje. Estamos jogando hoje contra poder público. Então, o secretário é o dirigente do clube, o prefeito responde como presidente do clube. Hoje, o único clube que joga aí, você pode acompanhar, é o Misto, de Três Lagoas, que é um clube da cidade que a prefeitura investe. O Corumbaense é um clube da cidade. Aí as demais equipes, fora o Sete de Setembro, de Dourados, que também tem investimento do poder público, são todas equipes da prefeitura. Pra você ter uma ideia, fiquei sabendo que tem um time do interior, não vou citar o nome, vai trocar 100% dos atletas e vai trazer um time completo, que jogou um campeonato agora em São Paulo ou Paraná, não me lembro bem, para disputar a segunda fase do Campeonato Estadual daqui. Ou seja, os caras têm dinheiro pra gastar. Só em transferências hoje, para trazer um time completo, você gasta no mínimo 30 mil reais em documentação. Você pega aí, prefeituras do interior que estão gastando 100 mil por mês, outra dá 80, fora os outros apoios que eles têm na região. Aí fica difícil. A nossa receita aqui é zero. A gente tocou algumas situações até agora com colaboração, temos uma relação de colaboradores operarianos. É que tem segurado a onda até agora.

Esporte Ágil - E por que os patrocinadores sumiram do Operário?
Tony Vieira -
Não é que sumiram, é que nosso campeonato é deficitário, não tem mídia, ninguém aparece. A primeira situação que acontece é o pessoal querer incentivo do governo. Ou na parte de desconto nos impostos municipais ou estaduais. Até nisso nós fizemos um projeto em 2007 e encaminhamos para a Assembléia Legislativa. O empresário que patrocinasse o clube teria um desconto no seu imposto, ou ICMS, ou INSS. Tudo isso foi passado e funciona lá fora. Aqui no Mato Grosso do Sul não funciona, pois ninguém tem interesse. Então, na verdade, também falta boa vontade. A parte que cabe ao Operário, você pode ter certeza que foi feita. O que dependia dos outros, não aconteceu.

Esporte Ágil - Quem são os colaboradores do Operário?
Tony Vieira
- São os operarianos. Se você pegar no site do Operário, tem lá a relação das empresas que contribuem.

Esporte Ágil - São verdadeiras as denúncias de que o time na pagou o salário de alguns atletas?
Tony Vieira -
Primeiro que não tem que questionar isso. Cada jogador, quando assinou o contrato, foi colocado se tinha condição de jogar nessa situação ou não. Os jogadores que terminaram o campeonato são atletas que queriam jogar no clube. Aqueles que não tinham condição de aceitar essa proposta foram embora. Inclusive, até o Rafinha, nós emprestamos para o Misto. Então, não tem nem questão nenhuma de criar polêmica. Essas pessoas que criam essas polêmicas não são jogadores. Parte da imprensa fica me questionando sobre isso pois tem gente por trás que passou pelo Operário, perdeu a sede, sumiu com os troféus, sumiu com os documentos do clube, e hoje fica com dor de cotovelo. Então, essas pessoas não são operarianas e nós não queremos nem saber delas.

Esporte Ágil - A parceria com o São Gabriel, por que não deu certo?
Tony Vieira -
Porque não cumpriu o que foi determinado. Eu era contra a parceria, mas tinha outras pessoas que acharam interessante fazer naquela oportunidade. Então não podemos ser um delegado e impor as coisas, temos que aceitar. Igual agora no Estadual. A minha visão para o Estadual era uma. Só que a vice-presidência, a diretoria do departamento de futebol, e outros demais departamentos falaram que tinha que ser daquela forma. Então foi atendido daquela forma que eles colocaram. Só que eu mostrei pra eles que daquela forma não ia dar certo. Se tivéssemos trabalhado na linha que eu sempre trabalhei, acredito até que teríamos nos classificado para a próxima fase.

Esporte Ágil - Neste Estadual então, a que se deve a má campanha do clube, que culminou no rebaixamento da equipe?
Tony Vieira -
Falta de recursos financeiros, os quais não têm como deixar de registrar aqui, que o Operário e o Comercial sempre dependeram de poder público, assim como os clubes do Interior. Você vê o próprio Chapadão que ficou fora o ano passado pois não teve investimento da prefeitura. O Paranaibense acabou, mudou o prefeito lá e eles nem mexem mais com isso.  Então, nós suportamos essa fase aí, pois não temos esse recurso que viria do poder público. Na minha gestão, até agora, não tive o prazer de falar que eu contei com recursos públicos no Operário, a não ser agora com esse patrocínio aí que foi pra todo mundo de hotel, alimentação e arbitragem. Só isso.

Esporte Ágil - Você havia dito ao Esporte Ágil que o Campeonato Estadual deste ano foi jogado fora de campo. Você se referia apenas ao fato de as prefeituras apoiarem os clubes ou tem outras coisas mais?
Tony Vieira -
Aí é o seguinte, quando eu falo fora de campo, se tem a parte política envolvida, prefeito bancando, falando: "Estou investindo no meu time aqui", os caras vão querer algum privilégio em alguma situação. Então isso eu vou deixar em aberto pra você pensar. Você pode ter certeza que algumas coisas aconteceram aí fora do campo. É muito estranho que nossa equipe não conseguia terminar jogos com 11 jogadores. Ninguém se atentou a isso. Nós não conseguimos fazer gol, pois toda hora os juízes davam erroneamente impedimentos. Sofria pênalti e o cara não marcava. Isso é muito estranho, são alguns fatores que complicaram. Se você ver a tabela de jogos do Operário, você verá que os jogos foram direcionados. O Operário foi o único time do Campeonato que jogos, em seqüência, um jogo fora e outro em casa. Outros clubes jogavam dois jogos seguidos em casa. O próprio Itaporã estreou fazendo duas partidas em casa. Primeira vez jogando na série A, jogou dois jogos em casa, e isso está errado, tem que jogar fora o primeiro jogo. Esses fatores aí alteram o "viaduto". Então, a tabela, se você ver, não foi coerente como tinha que ser. O Operário foi o único que jogou um jogo fora e outro em casa. Chegamos a jogar dois jogos seguidos fora, mas nenhum seguido em casa. Isso atrapalha.

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