Bate-Bola | Da redação | 29/11/2006 16h46

Bate-bola: Ronaldo Ponckel

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O professor Ronaldo Ponckel foi o auxiliar técnico na preparação da Seleção para o Sul-americano Cadete O professor Ronaldo Ponckel foi o auxiliar técnico na preparação da Seleção para o Sul-americano Cadete (Foto: Esporte Ágil / L.C. Martins)

Ronaldo Ponckel

O professor Ronaldo Ponckel é referência no estado de Mato Grosso do Sul quando o assunto é treinamento de basquete. Recentemente, participou dos treinamentos da Seleção Brasileira Cadete Masculina como auxiliar-técnico. Professor do Colégio Dom Bosco, ele coleciona títulos e histórias dentro do basquete sul-mato-grossense. Em entrevista ao Esporte Ágil, ele fala um pouco sobre sua trajetória no basquete e como treinador, assim como sua visão para o futuro do basquete brasileiro.

Esporte Ágil - Conte um pouco de sua trajetória antes de se tornar professor.
Ronaldo -
Sou campo-grandense e meu interesse por basquete nasceu em 1978, quando eu tinha 10 anos, e o Brasil disputou uma medalha de bronze contra a Itália, em um Campeonato Mundial. O Brasil perdia por um ponto e o Marcel acertou um arremesso de muito longe, nos últimos instantes da partida e a Seleção ficou com a medalha. Aquilo me marcou muito e comecei a me interessar pelo esporte. Estudei na rede pública e não tinha treinamento de basquete, apenas praticava basquete, assim como outras modalidades, nas aulas de educação física, que eram muito boas. Efetivamente, com 13 anos comecei a treinar basquete. Vencemos os Jogos Escolares em Campo Grande e então fui convidado para treinar em um projeto do professor Luis Bittar e do professor Luis Garcia, no Moreninho, em conjunto com a antiga escola Sítio do Pica-pau, depois ASE. Eu comecei a treinar lá em agosto de 82 e recebi bolsa para estudar no Colégio ASE. Depois de um ano neste colégio, fui convidado para jogar pela Mace, já em 1984, pelo professor Luis Magalhães, onde ganhei bolsa também. Em meados de março de 84, tive uma experiência em uma equipe de Presidente Prudente-SP, que não deu muito certo. Voltei para a Mace e depois de um tempo na Mace, o professor Luis Magalhães perguntou-me se gostaria de assumir o treinamento da equipe do Colégio, caso eu passasse no vestibular, pois ele iria para a Fundação Bradesco. Comecei meu trabalho na Mace em 1987, aos 19 anos, e agradeço muito ao colégio pela confiança depositada em mim, dando emprego para um guri de 19 anos, primeiranista de faculdade; a Mace acreditou em mim e sou muito grato por isso. Após sete anos na Mace, o Dom Bosco me fez uma excelente proposta e eu aceitei, para progredir na carreira e para trabalhar ao lado de uma pessoa que admiro muito, que é o professor Luis Magalhães. Estou no Dom Bosco desde então, onde estou completando 12 anos de serviço.

Esporte Ágil - Como técnico, você já venceu todos os títulos possíveis no estado. Algum deles foi mais marcante para você?
Ronaldo -
Foram muitas conquistas agradáveis. Uma destas foi a conquista do Jems, no ano de 98, salvo engano, depois de bastante tempo sem vencê-lo. Ganhávamos os campeonatos da federação, mas nos Jems (Jogos Escolares de Mato Grosso do Sul), contra as mesmas equipes, acabávamos perdendo. A disputa foi em Iguatemi e estava muito frio e conquistamos o título com a categoria 82-83, um título muito marcante com a seleção de Campo Grande. Com o Colégio Dom Bosco, uma conquista marcante foi o terceiro lugar nos Jebs-2000 (Jogos Escolares Brasileiros), na cidade de Campinas. Naquele ano, pudemos ser considerados a terceira melhor escola do país. Este foi um título muito marcante para mim. São dois títulos que lembro com clareza, que me marcaram bastante.

Esporte Ágil - Como você vê a prática da educação física escolar?
Ronaldo -
Eu tenho muito medo do basquete e de várias outras modalidades, pois o esporte na escola é base para tudo. Quando você fala de esporte, tem que pensar em educação física escolar bem trabalhada, para desenvolver a potencialidade, a coordenação, a agilidade de uma criança, para que quando ela chegar a praticar um esporte especifico, ela tenha uma base assimilada na escola. A criança pode escolher: "eu quero esse esporte, dentro de todo que já brinquei, como basquete, futsal, vôlei, atletismo, ginástica". Esta base, a prática destas modalidades, de forma lúdica, deveria estar inserida naturalmente na escola. Se ela escolhesse o basquete, já teria uma certa base, já facilitaria o ingresso na modalidade. Com estas deficiências na educação física escolar, com pouca carga horária que os professores de educação física, com a cobrança e mal-direcionamento, vemos crianças sem a menor condição, menor coordenação, a criança mal preparada para iniciar a atividade física. Então, usa-se um ano para localizar a criança no mundo esportivo. No basquete, você ensina a criança a correr, a saltar, a equilibrar-se, a ter coordenação de braços e pernas, coordenação visio-motora. Em um passado recente, as crianças brincavam muito e adquiriam esta base, atualmente brincam menos. Você encontra na periferia, com mais facilidade na periferia, crianças com esta coordenação, pois ela brinca na rua, sobe em árvore, brinca de pegador. É mais fácil de trabalhar com esta criança, pois ela tem riqueza de movimentos e aprenderá novos movimentos com mais facilidade. Assim, dói muito como professor de educação física, as falhas no ensino da educação física escolar.

Esporte Ágil - Estas falhas na educação física escolar prejudicam os atletas quando falamos de esporte de alto rendimento?
Ronaldo -
No basquete, a criança deve começar a praticar o basquete como iniciação, no período que vai dos dez aos doze anos, para que esta criança aos 14 anos comece a competir, entender do jogo. Com 16, estará disputando competições em nível nacional. Se você pula esta etapa da iniciação, esta criança ou tem habilidade acima do normal, ou é uma criança que vai ficar alijada no processo. Um garoto que passou por todas as fases, como iniciação e treinamento, irá com 15 anos para o Brasileiro, esperando jogar outro na mesma categoria. Este ano, cinco garotos da seleção infanto-juvenil do Estado, disputaram o Brasileiro com um ano a menos, então eles vão jogar o infanto-juvenil novamente no próximo ano. Para ele, isso é ótimo, pois no ano que vem, ele vai poder brigar com igualdade de condições com os grandes centros, para jogar e ser visto. Se esse garoto começa no basquete aos 14 anos, ele estará apto ao basquete aos 16, e provavelmente, desta seleção infanto-juvenil ele já estará fora, pois não terá experiência necessária. Quando começar a brigar por vagas na seleção, será juvenil, que já é uma categoria muito forte. Então, ou ele é diferenciada, ou ele ficará fora do processo.

Esporte Ágil - Você foi auxiliar técnico desta seleção brasileira cadete masculina. Como está o futuro do basquete do país?
Ronaldo -
No futuro do basquete, existem duas coisas distintas. O basquete precisa de uma transformação urgente, o basquete brasileiro precisa melhorar sua imagem e também precisa se voltar para uma boa "mídia". O basquete brasileiro está sendo bombardeado pelo próprio basquete, recebendo pedradas de dentro e isso é prejudicial. Enquanto as pessoas que trabalham pelo basquete não se unirem para o desenvolvimento do basquete, ele não vai prosperar. O basquete é notoriamente um esporte agradável, emocionante, competitivo, que atrai a atenção, mas que precisa ter sua imagem trabalhada, pois a "cara" do basquete hoje é de escândalo, de brigas confederação e liga, de ninguém trabalhando junto, de pessoas mais preocupadas na auto-promoção do que no basquete.
Quanto aos jogadores, estamos extremamente bem servidos. É uma geração maravilhosa. Eu pude acompanhar os meninos da seleção cadete por 15 dias e eles são tudo o que esperamos de uma atleta. Existe diferença entre o boleiro, que é jogador apenas, e o atleta. Eles são atletas, pois são disciplinados, educados, com boa formação técnica e tática. Formam uma seleção com um grande nível de assimilação, pois eles receberam uma carga que deveria ser passada em 40 dias em apenas quinze. Eles tiveram a consciência da necessidade de representar bem o Brasil; eles incorporaram o espírito de equipe para a vitória no Sul-americano. Eles todos sabiam e diziam "temos que vencer a Argentina", e eles foram e ganharam. Eles são determinados e temos excelentes jogadores. Acredito que seis deles estarão no grupo da seleção juvenil, que vai disputar o campeonato mundial; eles ganharam esta vaga nesta boa apresentação no Sul-americano. Tive orgulho de trabalhar com esta seleção, uma experiência maravilhosa, pelo material de treino e por outras experiências também, com os técnicos César Guidetti e Lula Ferreira, que foram desprendidos de qualquer tipo de egoísmo e despejaram material para mim, até chegar ao ponto de ter dificuldades em assimilar o tanto que recebi. Foi muito bom. É um grupo bom. Mas a boa política para o basquete brasileiro precisa ser resgatada.

Esporte Ágil - A mídia também tem sua parcela de culpa neste problema da imagem do basquete?
Ronaldo -
Quem destrói o basquete é quem está no próprio basquete, não a mídia. Porquê a mídia passa o que está em evidência. Claro que deixa de mostrar muita coisa boa que acontece, mas em conseqüência de muitas coisas negativas que estão acontecendo. Normalmente, a mídia tem a tendência de acentuar coisas negativas, mas não é ela que está fazendo isso, são as próprias pessoas, que deviam deixar de buscar os interesses próprios e trabalhar em prol do basquete. Se o basquete vai bem, o interesse pessoal da pessoa ligada ao basquete vai bem também. Eu gosto do basquete, amo, vivo do basquete, eu não posso tacar pedra no basquete, crucificar uma federação, uma confederação, sem saber da realidade das coisas, ou fazer isso apenas para tentar tomar uma posição ou por orgulho. Eu sou técnico, tenho que "ficar na minha" e fazer meu trabalho de técnico. Você faz seu trabalho de repórter e o dirigente faz o trabalho dele. Não acho que as pessoas devam ocupar vários lugares ao mesmo tempo e não fazerem bem nenhum, o que acontece muitas vezes.

Esporte Ágil - Como está o nível do Estadual Adulto?
Ronaldo -
Sou técnico e falo como técnico. Temos a ausência de três ou quatro equipes fortes do interior, acredito que por causa da época do ano. Acredito que este campeonato poderia ter sido realizado no meio do ano, mas a verba do Fie (Fundo de Investimento Esportivo) não foi repassada, o que acredito que deve ter atrapalhado o calendário da Federação. Neste campeonato, estou sentindo falta das equipes de Corumbá, Dourados, Três Lagoas e Naviraí, que sempre tem feito boas campanhas nos estaduais. O nível é bom, mas poderia ser melhor, mais nivelado com essas equipes.

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