Bate-Bola | Pedro Nogueira/Da Redação | 13/09/2011 11h57

Bate-bola: Marcos Ortega

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"Foi uma decisão totalmente equivocada do prefeito [Nelson Trad Filho]. Eles acabaram com uma parte da história de Campo Grande, foi apagada a história, não só do bicicross, mas de Campo Grande". (Foto: Arquivo)

Marcos Ortega

Presidente da Federação de Bicicross, Marcos Ortega e todos praticantes do esporte sofreram uma dura perda recentemente: a pista do Horto Florestal. Em entrevista ao Esporte Ágil, Ortega critica a atitude da prefeitura de acabar com a pista do Horto e diz que o esporte sul-mato-grossense é amador.

Esporte Ágil - Como você se tornou presidente da federação de bicicross? Você era piloto?

Marcos Ortega - Não, nunca fui piloto, sou professor de educação física e em 2000 fui convidado pelo Godofredo Barbosa, que era presidente, para ser diretor da federação. Aceitei e em 2003 me tornei vice-presidente. Em 2007, o Godofredo deixou a federação e após eleições tornei-me presidente.

EA - O que mudou?

MO - Quando assumi a federação tínhamos cerca de 50, 60 pilotos filiados, e apenas de Campo Grande e Sidrolândia, únicos locais que aconteciam as provas. Agora são mais ou menos 500 pilotos filiados e temos provas em Sonora, Aquidauana, Ponta Porã, entre outros.

EA - Quantas provas a federação realiza por ano?

MO - Este ano serão 14 etapas do Campeonato Estadual, fora o Metropolitano e torneios municipais, que a federação dá apoio e suporte, mas que é organizado por clubes ou municípios. No Estadual não, a gente que organiza e os clubes apenas competem.

EA - A federação ajuda atletas que querem disputar campeonatos nacionais, competir fora do Estado?

MO - Desde que eu assumi, todo ano a federação envia alguns pilotos para o Brasileiro. A gente manda poucos por não termos muito dinheiro, e só mandamos em provas perto daqui. Por exemplo, a última etapa do Brasileiro foi no nordeste. Já não dá, é muito longe, fica inviável. Fica difícil. A última vez que os pilotos daqui foram para Betim, em Minas Gerais, o carro quebrou no meio do caminho. A sorte é que quebrou em uma cidade que um dos pilotos tinha parente.

EA - Como é o apoio?

MO - Temos apoio do Governo do Estado, como todas as outras federações têm. Não podemos dizer que está bom porque não está, mas eles ajudam. Temos um deputado que apóia a nossa federação e a Funesp (Fundação Municipal de Esporte de Campo Grande) também auxilia, não em dinheiro, mas em suporte, em locação de tenda, o que é muito útil. Da parte privada não temos apoio nenhum. Os empresários do MS não vêem retorno em investir no esporte, não só no bicicross como em todos os esportes. É só ver nosso futebol. Em outros Estados as empresas patrocinam, bancam mesmo as equipes em vários esportes. Aqui não, aqui é amador.

EA - Apesar de quase não ter apoio, você acha que o nível dos pilotos de bicicross do Estado está abaixo do nível nacional?

MO - A federação cresceu muito desde que sou presidente, claro que não temos a estrutura que outros lugares têm, mas vira e mexe tem um ou outro beliscando uma 4ª, 5ª colocação no Brasileiro. O Cláudio Martins ficou em 6° na classificação geral e o Jacinto Neto já foi 4°. Temos alguns nomes. Tem um garoto, de 13 anos, de Ponta Porã, o Eduardo Manoel, que já inclusive venceu um Brasileiro.

O presidente da Confederação Brasileira de Bicicross já pediu para eu fazer uma prova grande aqui em Campo Grande, mas não temos condições de fazer uma competição nacional, com 800 pilotos. É impossível. A grande dificuldade é a falta de apoio. Se tivéssemos pistas de nível nacional no Mato Grosso do Sul... A gente tinha a do Horto, mas a prefeitura destruiu.

EA - Relate para o Esporte Ágil o ocorrido com a pista do Horto Florestal

MO - Não só a federação, como os clubes, foram pegos de surpresa com a notícia de que a Prefeitura Municipal iria destruir a pista de bicicross do Horto para fazer um lanchódromo, em um projeto de revitalização da avenida Afonso Pena. Desta forma, todos os dogueiros que ficam ali nos canteiros da Afonso Pena ficarão agora no Horto, onde ficava a pista de bicicross. Até o secretário do Horto Florestal não sabia. Foi uma decisão totalmente equivocada do prefeito [Nelson Trad Filho]. Eles acabaram com uma parte da história de Campo Grande, foi apagada a história, não só do bicicross, mas de Campo Grande. E tudo isso para criar um lanchódromo, em um espaço pequeno, sem estrutura. Ficou até pior. Conversei com os dogueiros e eles também não sabiam. Conforme o projeto, para estar no lanchódromo, os dogueiros terão que apresentar CNPJ, e para ter CNPJ tem que ter trabalhadores registrados e a maioria dos dogueiros não é registrado. Ou seja, uma atitude que até agora não foi benéfica para ninguém.

EA - A federação chegou a entrar em contato com a prefeitura?

MO - Tentamos diversas vezes falar com o prefeito. Enviei uma carta aberta em nome da federação e nada. Depois de muito tempo, através de um amigo em comum, o prefeito alegou que existe outra pista de bicicross na cidade. Realmente existe, mas ela é particular. A do Horto era ideal, já era conhecida de todos, muitos treinavam ali, tinha drenagem na pista, poderia chover que não dava problemas, tinha banheiro. Íamos criar uma escolinha lá. Além do que, era uma área central da cidade, de fácil acesso para todos. Agora o prefeito nos prometeu que faria uma nova pista. Estamos no aguardo. Precisamos de uma pista na Capital.

EA - O que o senhor acha da imprensa esportiva sul-mato-grossense?

MO - Aconteceu um episódio muito desagradável recentemente. Uma matéria do jornal O Estado tinha o seguinte título: “Pilotos de bicicross do MS ficam em último no Brasileiro”.  Primeiro que eles não ficaram em último. A pessoa não tem conhecimento do assunto, entrou no site da Confederação, viu uma planilha, não sabe como funciona, o piloto foi último naquela bateria, aí o jornalista vai e passa a informação errada. Pior do que isso, ele mancha a imagem dos atletas. É preciso tomar cuidado com o que se publica. O jornalista que fez a matéria é bom, mas ele precisa ser cauteloso.

Já é muito difícil conseguir um patrocinador para qualquer esportista do Estado. O bicicross, que não é muito conhecido, é mais difícil ainda. Um dos pilotos tinha conseguido patrocínio da Eletrosul. A Eletrosul abre o jornal e lê uma notícia dessa ela perde a vontade de investir no cara. Ou seja, uma matéria dessas pode destruir o pouco apoio que um atleta conseguiu.

Muitos jornalistas esportivos no Mato Grosso do Sul não são jornalistas, não estudam o esporte, não conhecem nada sobre esporte. Em alguns jornais e sites você vê cada besteira, cada bobagem. Muitas vezes só noticiam algum assunto se receberem uma ajuda, só em troca de favores. Paga que eu publico.

EA - A federação de bicicross informa a imprensa quando acontecerão suas competições?

MO - A gente sempre manda releases das nossas competições. Você tem que mandar várias vezes para eles publicarem uma vez ou outra e quando publicam é uma notinha. No primeiro semestre, a imprensa só tem olhos para o futebol. Ai acaba o campeonato, não tem pauta e eles vêm atrás. A imprensa precisa ser um pouco mais responsável, apoiar mais o esporte. Isso é vital para a evolução do esporte, o recurso privado não apóia o esporte no nosso Estado porque o esporte não é bem divulgado. O empresário prefere investir na cultura, pois a divulgação de eventos culturais é bem maior do que a de eventos esportivos.

EA - Além da falta de apoio e da pouca divulgação da imprensa, existe algum outro motivo, em sua opinião, de o esporte no Estado ser, como o senhor disse antes, amador?

MO - Outro grande fator é o futebol. O carro chefe do Brasil é o futebol. Se o nosso futebol fosse forte, as outras modalidades iriam crescer na rabeira. É assim em todo país. A não credibilidade que o futebol daqui passa, acaba caindo nas outras federações também. Por exemplo, a Federação de Futebol de MS recebe, pelo que ficamos sabendo, uma verba mensal da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Se o bicicross recebesse dez mil, nossa, seria perfeito.

EA - Há algum piloto de bicicross com chances de disputar as Olimpíadas Rio 2016? Existe algum projeto preparando os atletas para o evento?

MO - Eu seria bem mentiroso se dissesse que sim. Vejo várias matérias, várias federações dizendo que têm condições de preparar atletas para as Olimpíadas. Eu não acredito. Hoje nossos atletas, de todas as modalidades, estão bem distantes deste caminho para as Olimpíadas. Primeiro porque não estão preparados para atravessar a ponte. Saiu do Estado já complica, lá fora o esporte é profissional, não é como aqui. Lá tem treino todo dia, tem médico, psicólogo para os atletas, pagamentos, há uma estrutura enorme, que nenhum esporte dentro do MS tem.

Quem fala que tem atletas com chances de competir nas Olimpíadas é sonhador. Os atletas que podem chegar não ficam aqui. Pode até ter atleta sul-mato-grossense, mas não do Mato Grosso do Sul. Ele pode até ter nascido aqui, mas não treina aqui. Por exemplo, a Talita [vôlei de praia] é de Aquidauana, mas joga por Alagoas. O Benjamim [também jogador de vôlei de praia] odeia nossa terra.

O governador [André Puccinelli] e o [Júlio César] Komiyama [Fundesporte] estão começando a lançar bons projetos, como o centro de treinamento, mas é muito tarde. Para 2016, tinha que ter começado 10 anos atrás. É um trabalho de dez, quinze anos. Está na hora de deixarmos de ser amadores para ser profissionais. Enquanto formos amadores, vai ser difícil.

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