Bate-Bola | Vitor Yoshihara/Da redação | 07/12/2009 20h40

Bate-bola: Luciano Shakihama

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“A dependência e a relação muito próxima de federações com prefeituras e governo também atrapalham na busca do alto-rendimento”. “A dependência e a relação muito próxima de federações com prefeituras e governo também atrapalham na busca do alto-rendimento”. (Foto: Foto: O Estado MS)

Luciano Shakihama

Ele começou "por acaso" na área esportiva. Hoje, Luciano Hideo Shakihama, ou Kishô, como é mais conhecido, é editor de esportes do jornal O Estado MS, um dos veículos de maior repercussão no Mato Grosso do Sul.

Os anos a frente da editoria, desde 1999, quando começou no jornal Folha do Povo, renderam ao jornalista formado na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) histórias, críticas e ideias para quem sabe melhorar o esporte local.

Com 32 anos, Kishô também acumula passagens pela TV União, em Fortaleza, segundo ele "a única vez que não trabalhou com jornalismo esportivo", e no site Campo Grande News.

Esporte Ágil - Como foi o início de sua carreira? Quando, como e por que iniciou no jornalismo esportivo?
Kishô -
Eu comecei a carreira ainda na faculdade, como estagiário na UFMS. Depois de formado, meu primeiro emprego foi na Folha do Povo como repórter esportivo. Na verdade, iniciei na área esportiva meio por caso. Isso, porque, eu já havia feito um teste antes no mesmo jornal e, na ocasião perguntaram qual editoria eu mais gostava. Respondi que era esporte e cultura. Meses depois, em 1999, lembraram do meu nome e me chamaram mais pelo fato de ter dito que gostava de esporte do que do meu "talento" propriamente dito. Daí em diante, salvo o período em que estive em Fortaleza (2002 para 2003), sempre trabalhei com o esporte, felizmente.

Esporte Ágil - De que maneira você avalia a atual situação do esporte no MS?
Kishô -
Está meio capenga, né?! Vive na dependência do incentivo do poder público. Mesmo assim, acho que consegue ser forte nas categorias de base de alguns esportes (natação, judô, e atletismo, por exemplo). Mas, na medida em que a faixa etária sobe, os resultados diminuem. Ou o atleta desiste da carreira, ou ele consegue espaço defendendo clubes de outros estados. Esporte profissional ou profissionalismo no esporte ainda engatinham por aqui.

Esporte Ágil - Durante sua vida de jornalista, o que mudou no esporte sul-mato-grossense?
Kishô -
A vinda da internet ajudou atletas e dirigentes a terem um contato mais direto com a imprensa na divulgação de suas iniciativas ou das suas modalidades. Isso fez com que a cobertura esportiva aumentasse, pois tornou mais próxima a relação entre as fontes e o jornalista e facilitou a nossa vida e deixou a gente até um pouco "preguiçoso". Antes, era complicado. Era um tal de pegar a agenda e sair ligando para todo mundo... Agora, tem certas coisas que, infelizmente, não mudaram. Questionar o emprego de recurso público ou o porquê de um eventual resultado negativo em competição nacional ainda é motivo para despertar a ira da maioria dos "esportistas". Como se a gente tivesse o dever somente de informar o lado bom. Passa ano e sai ano, e você ainda é obrigado a ouvir coisas do tipo, "vocês são contra o esporte no Estado", "fulano foi mal, não precisa divulgar isso", "você sabe que a gente trabalha (no esporte) porque gosta, não ganho nada com isso", "eu vou aí fazer uma visita ao seu chefe".  

Esporte Ágil - Tem alguma ideia para melhorar? É possível chegarmos ao alto-rendimento?
Kishô -
Vixe. Do jeito que está, não vejo solução a curto e nem a médio prazo. É preciso novas ideias, projetos e planos que resultem em uma credibilidade que traga parcerias com o poder privado. Novas pessoas. Tanto no poder público como nas federações é preciso um maior engajamento para reverter a situação. Mas, sinceramente, o que vejo hoje é o que se vê na maioria dos estados. Dirigentes que se perpetuam no comando e atletas tendo de se virar para seguir competindo. Tudo bem, a falta de indústrias e grandes empresas para apoiarem o esporte local é um problema, concordo. Só que, salvo exceções, não dá para confiar no trabalho dos que estão aí. Certa vez, me perguntaram em qual esporte seria legal investir aqui no Estado. Rapaz, pensei, pensei, e disse que na hora não saberia responder. Isso é doído. A dependência e a relação muito próxima de federações com prefeituras e governo também atrapalham na busca do alto-rendimento. Confesso que não sou a favor de dirigentes de entidades esportivas trabalharem ao mesmo tempo em fundações ou secretarias. Não estou acusando ninguém, mas, sei lá, acredito que o limite ético fica muito tênue. Do mesmo jeito, nunca comandaria algum cargo esportivo, seja público ou não, e seguiria atuando no jornalismo esportivo. Mas, vai da consciência de cada um. Quem sou eu para julgar, né.

Esporte Ágil - O que a vinda da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016 vão significar para o Brasil, mais especificamente para o Mato Grosso do Sul?
Kishô -
Nacionalmente, a realização dos dois eventos significará muito dinheiro. O que vai ter de gente ganhando dinheiro não será brincadeira. Espero que, pelo menos sobre alguma coisa para o povo. O Pan do Rio foi em 2007 e até hoje discute-se o legado e as dívidas que deixou. Temo que aconteça o mesmo. Por outro lado, ainda tenho esperanças de que os benefícios quanto ao turismo e infraestrutura, por exemplo, atenuem ou compensem os gastos. Do lado esportivo, penso que até 2016, haverá um grande investimento na formação de talentos para que o País não faça um papelão no almejado quadro de medalhas. O que vai acontecer depois dos Jogos é uma incógnita. Torço pelo melhor, mas, hoje, meu pensamento não é dos melhores. O mesmo panorama vejo para Mato Grosso do Sul. Vamos, muito ou pouco, acompanhar o embalo que irá anteceder os dois eventos, principalmente a Copa, pela proximidade de Cuiabá, torcendo para que a Fifa e a CBF não mude de idéia e tire a sede do Pantanal. E, depois, se não aprendermos nada até lá, voltaremos á situação que nos encontramos, tanto no aspecto financeiro como no aspecto esportivo.
 
Esporte Ágil - O que você acha do investimento público estadual no esporte? É suficiente? É bem empregado?
Kishô -
Acho que é pouco. Deve ser assim na maioria dos Estados, mas não tolhe o meu direito de lamentar. Quando se investe menos de 5% do orçamento anual, é complicado falar que é suficiente. E se o cobertor é curto, não dá nem para discutir se ele protege bem do frio né? A mesma situação aplica-se ao investimento público municipal.

Esporte Ágil - Quem você acha culpado pela pouca presença dos esportistas estaduais em nossos grandes veículos de comunicação? Seria a imprensa, os próprios esportistas ou alguma outra coisa?
Kishô -
O que acontece é que o futebol nacional predomina na preferência do leitor. Não sei se existe culpados, o que acho que existe é um fato. E o fato é que o tal espaço só vai crescer quando o esporte local realmente voltar a ser forte e atrativo para leitores e torcedores. Antigamente, o futebol estadual era forte, daí a maior presença de notícias locais. Atualmente, até abrangemos mais modalidades como o vôlei de praia, paradesporto, natação, judô, e outros esportes, cujos atletas se destacam fora do Estado. Mas, temos de ser realistas, sem grandes nomes ou iniciativas de peso não há como competir com os destaques nacionais e internacionais.

Esporte Ágil - Na sua opinião, a assessoria de imprensa ainda é muito pouco utilizada pelos esportistas - atletas, clubes e federações?
Kishô -
O problema é que ainda não se deram conta do quanto é importante contratar um jornalista para fazer uma ponte legal entre ele e a redação. Eles ignoram a necessidade de uma assessoria de imprensa. Enviam uma tabela de jogos ao fim de um campeonato, com uma foto de qualidade ruim, ou mandam os resultados da prova e acham que está de bom tamanho. Não têm ideia da oportunidade que desperdiçam por não darem mais atenção na divulgação dos seus esforços. Aí junta a questão financeira, que já não é aquelas coisas e, pronto, está formada a "desculpa perfeita" para que a assessoria despenque na lista de prioridades.

Esporte Ágil - Sobre a discussão do diploma de jornalista, você é a favor ou contra?
Kishô -
Já fui mais contra, hoje em dia estou é confuso. Acho que para ser jornalista tem de pelo menos saber escrever bem uma boa história. E muitos que saem das faculdades têm enormes dificuldades de desenvolverem os trabalhos. Por outro lado, por mais que o ensino nas universidades esteja quase sempre fora de sintonia com o que acontece realmente no dia-a-dia da profissão, há algumas coisas na parte teórica que vale a pena aprender. No fim das contas, vai contar o esforço de cada um. Até porquê, o responsável pelo veículo de comunicação, por mais que tenha de ver o lado financeiro, tem de se preocupar com a qualidade do seu produto. 
 
Esporte Ágil - Para terminar, deixe uma dica para quem deseja seguir a carreira de jornalista esportivo aqui no Estado.
Kishô -
Sei que parece óbvio, coisa de velho, pois ouvia muito, mas realmente acho o mais importante: leia. Leia muito. Jornais, revistas, sites, livros, etc. Repare o que te prende no texto que você leu. A construção da matéria, texto curto, texto quilométrico, como o "cara" pensou naquela ideia, enriqueça seu vocabulário. Isso vai fazer você, talvez sem perceber, chegar a um estilo de escrever só seu, ou, no mínimo, sair do 'basicão'. Como alguém já disse por aí: "Jornalismo é contar histórias". Boa sorte a nós!

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