Bate-Bola | Pedro Nogueira/Da Redação | 24/08/2011 09h22

Bate-Bola: Júlio Komiyama

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"Precisamos olhar mais para o esporte. Temos uma verba boa, mas ela não supre nossas necessidades". (Foto: Arquivo)

Júlio Komiyama

Júlio César Komiyama é presidente da Fundesporte há quatro anos, sendo ele quem destina as verbas para as federações e para os municípios realizarem eventos esportivos. Mesmo sem orçamento suficiente para atender a todos os pedidos, sua grande missão é fazer com que essa distribuição seja o mais justa possível.

Em entrevista exclusiva para o Esporte Ágil, Komiyama fala desse e de outros desafios que tem enfrentado à frente da Fundesporte e das idéias que tem para desenvolver o esporte sul-mato-grossense.

Esporte Ágil - Qual é a função da Fundesporte e o que ela representa para o esporte sul-mato-grossense?

Júlio Komiyama - A Fundesporte é vinculada ao Estado, o trabalho é direcionado a todos os municípios do Mato grosso do Sul.  Cada município tem a sua fundação de esportes e nós fazemos parceria com os municípios, damos apoio para que o evento esportivo aconteça naquela cidade.

Quando assumimos a Fundesporte tinha município que nem conhecia, que não sabia que poderia receber ajuda da Fundesporte.  Quero que todas as cidades saibam e contem com nosso apoio, é o maior objetivo. Além disso,  disponibilizamos recursos para as federações realizarem seus campeonatos, fazemos nossos jogos e damos cursos de arbitragem.

EA - Qual é o orçamento anual da Fundesporte?

JK - Depende da arrecadação do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), que serve de base para o orçamento do Governo Estadual. Para 2012 fazemos um projeto do que vamos precisar, apresentamos essa proposta para o Governo, que passa a estudá-lo. Aí a porcentagem do orçamento para o esporte pode chegar até 5%.

EA - É suficiente?

JK - Não, não é suficiente. Precisamos olhar mais para o esporte. Temos uma verba boa, mas ela não supre nossas necessidades. A verba é limitada, às vezes não conseguimos atender a todos.  Não conseguimos dar um incentivo maior, temos que nos adaptar com um valor x até o fim do ano, e não temos para onde correr.

Hoje ainda tem o Timemania e a Lei Pelé, que recebo do Governo Federal. A Lei Pelé ajudava com a arbitragem, mas agora ela só apóia jogos escolares, esportes olímpicos, eventos de categoria de base, visando as Olimpíadas de 2016. A Fundesporte só recebe essa verba da Lei Pelé por causa do Operário, que é o único clube ranqueado e que participa dos jogos da loteria. Recebemos de oitenta a cem mil reais por mês. Da Timemania o valor é menor ainda.

EA - O Operário recebe algo em troca?

JK - Recebe da Timemania. A Timemania paga os impostos e os direitos do time.

EA - E mesmo assim o time sofre crise. Como o senhor avalia o futebol sul-mato-grossense?

JK - É difícil, os clubes reclamam que não encontram patrocinadores, mas quem vai querer patrocinar o Operário? Para o Estadual deste ano, a Fundação bancou hospedagem, taxa de arbitragem e as bolas para as equipes, eu paguei isso. O resto foi pago pela Federação de Futebol.

Agora, temos que aceitar a realidade. Um time de Corumbá ir jogar lá em Mundo Novo é algo que não há condições. A distância é enorme, os gastos são altos também. Devíamos fazer um campeonato por pólo, por região. Capital, Norte, Cone- Sul e Bolsão.  Depois os quatro vencedores viriam para Campo Grande e decidiriam o título. Não dá para termos Série A e Série B do Estadual, tinha que ser um campeonato só.

Certas coisas deviam ser repensadas. No interior alguns times recebem apoio, a prefeitura ajuda, o fazendeiro tal banca isso, cerealista ajuda ali, e conseguem formar um time forte.  Aqui na Capital ninguém ajuda ninguém. Temos o Operário, o Comercial, o Cene, o MS Saad, a Portuguesa, o Campo Grande, seis times. De que adianta?

EA - Como o senhor decide o repasse da verba, quanto vai e para quem?

JK - Tem que ter base, eu só dou o dinheiro porque a federação ou a associação já fez algo. Porque existem várias federações que vêm com projeto, pede verba para um evento, faz o evento, tira o dinheirinho dela e morre, não faz mais nada. A federação que trabalha com as categorias de base, que você vê que está preocupada com o esporte, que está investindo, ela tem prioridade e no caso são as maiores. Tem federações pequenas que estão sempre fazendo o possível, vou dar o recurso, mas também não vou dar o mesmo tanto que dou para federações que fazem o trabalho de base.

EA - O que o senhor cobra das federações de motor?

JK - O estadual do esporte de motor tem que movimentar todas as regiões do Estado. No motociclismo são no mínimo oito etapas. Essas etapas têm que atingir o maior número de municípios possíveis. Tem que trazer público.

EA - E quanto ao fato de termos diversas federações de uma mesma modalidade?

JK - É complicado, temos este problema com o boxe, com o Karatê, com o jiu-jitsu, dentre outros. Por exemplo, o boxe. Tem a federação de boxe e a federação de boxe olímpico. Não existe boxe olímpico, é uma modalidade dentro do boxe. Se há rixa entre os presidentes, deveria ter feito igual ao basquete, criar uma liga, a liga é independente da federação.

O Karatê tem várias ramificações, o Kung Fu tem duas. A gente fala com eles para se unificarem e não tem jeito, cada um tem o seu e defende sua bandeira, eles dizem que o Karatê Tokay-Kan não tem nada a ver com os outros karatês. Mas ai dificulta para mim, pois as várias ramificações pedem a mesma coisa, não há uma união. Jiu-jitsu também, há a federação de jiu-jitsu e a de jiu-jitsu esportivo. É a mesma coisa. Eles não se bicam, não querem nem conversar.

EA - Que solução pode ser tomada para evitar que se gaste verba com dois eventos que poderiam ser um só?

JK - Estamos pensando em uma solução. Temos que selecionar, entre as diversas federações de cada modalidade, quais delas mexem com categoria de base, quais investem.

EA - Não existe a possibilidade de dividir toda a verba que o senhor recebe entre as federações e entregar uma quantia mensalmente para que as force a sempre fazer eventos?

JK - Não dá porque você vai ver o calendário bate [eventos] de todo mundo. E é assim, vamos supor, 5 milhões. Divide por doze, na verdade por dez, janeiro e fevereiro não conta. Eu tenho um x por mês, seriam 500 mil reais por mês. Não posso ultrapassar. E ai são 500 mil reais para federações, municípios, associações, jogos da Fundesporte, cursos, gastos internos. Então são mais ou menos 200 mil reais por mês para as federações. Se eu der verba para duas federações grandes já vai quase tudo. Então não dá, quem quisesse teria que esperar o outro mês. Ai chega o cara e só quer este mês porque mês que vem não dá mais. Temos algumas políticas.

É eliminatória para Campeonato Brasileiro? Nesse caso damos prioridade, não tem como deixar para dar depois. Negociamos, quem tiver campeonato estadual fixo eu dou a verba. Ai a federação não tem Estadual, mas tem Brasileiro, então te dou o Brasileiro só que não te dou o Estadual. Infelizmente é assim, limitado. Vejo quais esportes são olímpicos também.

EA - Todo contrato assinado que aparece no Diário Oficial é cumprido?

JK - Sim.

EA - Se alguém disser que ainda não recebeu a verba destinada esse alguém está mentindo ou está falando a verdade?

JK - Está mentindo, publicou no Diário Oficial já está na conta do cara, a não ser que ele tenha me mandado a conta errada, o que já aconteceu algumas vezes.

EA - O que vocês cobram das escolinhas?

JK - Com as escolinhas não queremos formar atletas de alto rendimento, a escolinha tem uma função de assistência social, de incluir o esporte na vida das crianças. Nós pagamos um monitor, um instrutor que não necessariamente é um profissional de educação física, compramos material, bola, cone, rede e tudo mais. O monitor tem que dar a aula dele, a gente fiscaliza para ver se ele está de fato dando aula. Se descobrirmos que o cara não apareceu, ele recebe uma advertência. Se acontecer de novo ele perde a escolinha e a prefeitura tem que trocar de monitor.

EA - São quantas escolinhas no total?

JK - São 52 escolinhas no interior, praticamente uma por cidade, e mais 28 na Capital. O nosso objetivo em completar todos os municípios do Estado, que cada um tenha sua escolinha. A escolinha no interior rende mais do que na Capital, no interior há mais dedicação.

EA - Alguns projetos assinados no semestre passado chamaram nossa atenção. O projeto do Pelezinho, o Cidadão do Futuro, recebeu recurso de por volta de R$ 750.000,00   e outro de atletismo, o Qualidade de Vida recebeu cerca de R$ 117.000,00 . Quais são os gastos destes projetos?

JK - No caso do Pelezinho, são 750 mil porque são 80 escolinhas.  Então é material para as 80 escolinhas, de futebol, de atletismo, da modalidade que for. X é para compra de material e Y para pagar os monitores por mês, o que dá uns 400 mil reais. Se você dividir, mensalmente sai mais ou menos 62 mil reais, pagamos os monitores e o resto é para reposição de material. Não posso mais comprar material de atacado, então, somando tudo isso, vai dar o montante de 750 mil reais.
O [projeto] Qualidade de Vida tem uma estrutura excelente. Tem notebook, adipômetro, temos monitores, profissionais de Educação Física, há uma parceria com a Uniderp, tenho que pagar fisioterapeuta, acadêmicos de farmácia, nutrição, eu pago todo esse pessoal.

EA - Não seria mais rentável gastar isso nos pólos esportivos?

JK - O objetivo do Qualidade de Vida é muito interessante.  Ali não é uma academia, é orientação. A pessoa vai chegar, caminhar, e receber orientações, dicas, ajuda, tudo de graça. Às vezes tem gente que nem vai lá porque acha que tem que pagar. É tanta coisa, você tira peso, mede força, pressão, tudo eletrônico. São feitos diagnósticos, a pessoa fica sabendo se ela precisa procurar um cardiologista, é esporte e saúde. Temos 2 mil pessoas cadastradas. O projeto acontece sábado à tarde e domingo de manhã no Parque das Nações Indígenas. E ainda acho que quanto mais gente souber que é gratuito, mais gente participará.

EA - A respeito do centro olímpico prometido pelo governador André Puccinelli durante a última campanha política, em que pé está o projeto? É o sonho de todo atleta sul-mato-grossense...

JK - Nosso objetivo era fazer o Centro Olímpico no Parque Ayrton Senna, que é o único que tem estrutura. O vereador João Rocha entrou com o projeto, mas o projeto está parado. Não vamos mexer nisso agora, vamos fazer o Centro de Treinamento de Atletismo, com pista emborrachada, que ainda não tem no MS, com oito raias, para competições e treinamento. O único local já compactado é o Ayrton Senna. O governador já me deu autorização para ir atrás. Só estou esperando o recurso.

EA - O que vem sendo feito para focar o esporte olímpico, para que o Mato Grosso do Sul não seja mero espectador das Olimpíadas no Rio de Janeiro?

JK - Os garotos que estão indo para João Pessoa disputar os Jogos Escolares Brasileiros terão a idade ideal nas Olimpíadas 2016. Tenho um projeto em mente. Quero pegar os atletas que despontam, que possuem chance de render, e investir neles.

EA - Como seria o investimento?

JK - Por exemplo, tem um atleta excelente lá de Porto Murtinho. Invisto nele de lá, nele e no treinador dele. O atleta vem competir aqui e eu trago dois avaliadores, profissionais, de fora, para avaliar o atleta e o treinador. Os caras passariam o plano de trabalho para o professor, tudo bancado pela Fundesporte, competição, escola, assistência social, viagens. Através desta avaliação seria possível ver se o atleta melhorou, rendeu, e ai um tempo depois, uma nova avaliação. Precisaria de apoio da Secretaria de Educação, da Secretaria de Saúde, o garoto (a) e sua família se sentiriam valorizados, mostrando que o governo aposta nele (a). Tenho essa idéia, pretendo realizá-la, já tenho tudo no papel, quem sabe ano que vem consigo recurso.

Hoje temos um ou dois na natação e três ou quatro no atletismo que têm grandes chances de se destacarem. No esporte coletivo ainda não pensamos, pois se você investe diretamente em uma equipe não adianta.

EA - Quem que define a quantidade X que vai para os municípios, a quantidade Y que vai para as federações, e a Z que vai para os cursos de arbitragem? Notamos que este semestre aconteceram muitos cursos de arbitragem.

JK - Há uma reunião com os gestores, com os representantes dos municípios, presidentes das federações e eles dizem o que precisam. Mas realmente, este semestre aconteceram muitos cursos de arbitragem, queremos acabar com os cursinhos, pretendemos realizar apenas cursos grandes.

EA - Como o senhor avalia esses quatro anos na Fundesporte? Que modalidades acha que se desenvolveram em suas mãos?

JK - A Fundação mudou muito, o governador me deixou livre para trabalhar. A primeira coisa que falei para ele foi que, independe de partido que seja o prefeito, se é PT ou PMDB, não me interessa. Se for para fazer esporte eu vou fazer. Só quero melhorar o esporte.

Somos candidatos a sediar as Olimpíadas Escolares de 2013, o que seria ótimo para a Capital e para o Estado. Tem também os Jogos Abertos, que estamos entre as cidades indicadas. Seria um 2013 perfeito, com Jogos Abertos Brasileiros em maio e Olimpíadas Escolares em outubro.

Quanto às modalidades, tivemos problemas sérios com o basquete e hoje o basquete está se desenvolvendo muito bem. O handebol nosso subiu e caiu, não sei o que houve. O futsal vem mantendo uma constante, nem sobe nem desce, o vôlei está realizando vários eventos, mas não se vê times novos, não há um crescimento, apesar de termos municípios fortes.

Evolução mesmo foi na natação, os atletas individuais, por conta deles, pagamos algumas viagem, mas não temos apoio direto.

EA - O que achou da idéia do projeto de três vereadores – Mario Cesar, João Rocha e Herculano Borges, do 1% para o esporte?

JK - Eu apoio, acho que tínhamos que ter apoio também dentro da Assembleia. Se tivéssemos X por cento dentro da Assembleia seria ótimo. A Assembleia tem o orçamento dela, ela pode trazer para a gente, a Fundesporte administraria, seria uma parceria, desenvolveria mais o esporte. Estão devolvendo dinheiro aí, 10 milhões, se o presidente da Assembleia quiser destinar destes 10 milhões, 5 para o esporte ele pode. É legal, dentro da lei, não precisa nem de emenda. 5 milhões para o esporte e 5 milhões voltam para o governo.

[Nota da redação: a reportagem do Esporte Ágil apurou que a verba em questão precisa primeiro retornar obrigatoriamente da Assembleia para o Governo, e de lá, caso o Governador decida, essa verba ser redirecionada para a Fundesporte]

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