Bate-Bola | Da redação | 11/08/2006 17h08

Bate-bola: Julio Cesar de Souza "Pelézinho"

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Julio Cesar Pelézinho

Campo Grande (MS) - O campo-grandense Julio Cesar de Souza recebeu o apelido de Pelézinho aos 7 anos de idade. Destacando-se nas "peladas" que jogava, logo foi apelidado com o diminutivo do "Rei do Futebol", Edson Arantes do Nascimento, referência mundial quando o assunto é o futebol.

Formado em Educação Física em 1983, ele iniciou seu trabalho de educador e técnico. Já trabalhou com treinamento de vôlei, basquete, mas seu nome já está marcado na história de Campo Grande pela sua contribuição no futsal.

Neste mês, a Escolinha de Futsal do Pelézinho completa 20 anos de existência, e ainda com muito fôlego. Ela tem se expandido em projetos sociais pelos bairros periféricos da cidade, mas ainda mostra muita força em todas as competições que participa. Pelézinho é também idealizador e organizador da Copa Pelézinho de Futsal, já tradicional na cidade.

Em entrevista ao Esporte Ágil, ele fala sobre suas experiências no esporte, a expansão da Escolinha e como o esporte pode ser importante em diversas áreas da vida de um cidadão.

Esporte Ágil - Como atleta, qual é sua trajetória no esporte?
Pelézinho -
Nas categorias de base, eu sempre joguei no São Bento, clube de futebol que existia aqui na Capital. Aos 15 anos fui convidado pelo Comercial e Operário para integrar suas equipes. Optei pelo Operário por torcer pelo time. Tive uma passagem curta, porém vitoriosa. Joguei no time em uma fase boa, atuando ao lado de caras como o Castilho, Arturzinho, Lima. Fui atleta profissional desde os 15 anos de idade e parei cedo, aos 22 anos. Era uma época boa do Operário. Jogamos contra s melhores equipes do país. Era muito novo, então ficava no banco, pois na época jogadores que vinham contratados tinham mais moral. Porém eu sempre entrava para jogar.

Esporte Ágil - Como você avalia sua história como profissional de educação física?
Pelézinho -
Logo que entrei na faculdade, já dei aulas de futsal no Dom Bosco e me especializei nisso. Também trabalhei com futebol feminino. Cheguei a fazer uma excursão para a Argentina, quando jogamos contra o River Plate, Boca Juniors e outros clubes tradicionais, em estádios como o "La Bombonera".
Há 20 anos estou trabalhando no Ginásio Pelézinho, dando aulas naquele local. Utilizo-o desde que foi inaugurado. Foi a Escolinha pioneira de futsal no estado. Hoje as crianças têm o Pelézinho como referência. Existem crianças que dizem: "faço Pelézinho na minha escola, ao invés de dizer que faz escolinha de futsal".
Não nos falta nenhum título no estado. Taça Canarinho, Metropolitano, a extinta Copa Manchete, o Estadual, e muitos outros em diversas categorias. Graças a Deus, sempre fomos uma equipe vencedora. Considero-me uma pessoa vencedora, pois sou uma pessoa que faz aquilo que gosta, e poucas pessoas tem esse privilégio. Tenho uma vida estável, tranquila, através do esporte. Algumas pessoas hoje vêem isso e acham que tudo foi fácil, mas é muito difícil. Eu fui atleta, passei a técnico, a administrador e a professor.

Esporte Ágil - Qual sua visão sobre formação de atletas?
Pelézinho -
Sempre treinei atletas, no sentido de uma formação integral. O esporte bem trabalhado pode ser fundamental na formação do caráter. Ele é também uma forma de inclusão social, de educação, de disciplina. Nem todas as crianças têm pais que colocam limites e dentro da Escola tem limites, até onde pode e não pode. Você consegue trabalhar com caráter e temos que desenvolver este trabalho nesta faixa etária, até os 14 anos. É muito gratificante quando filhos de alunos passam a participar da escolinha. São gerações que passam e eu espero que a escola dure 40, 60, 100 anos.
A Escolinha hoje é publica, não é mais minha. É o legado que eu deixo. Eu formo profissionais e de 70 a 80% dos profissionais que atuam no futsal de Campo Grande tiveram alguma participação no Pelézinho, ou alguma colaboração minha, sendo meus alunos ou trabalhando junto comigo.

Esporte Ágil - Como você vê o tratamento dado pelo Ministério do Esporte à disciplina Educação Física no Ensino Fundamental?
Pelézinho -
A disciplina no ensino fundamental foi renegada a alguns anos atrás, quando retiraram a educação física do quadro. Alguns estados retornaram com o ensino, como em Mato Grosso do Sul. A atividade física é uma necessidade na vida do cidadão, a saúde e a educação são vertentes fundamentais, então a atividade física hoje é praticada em todos os locais, pois é uma necessidade. O governo e as instituições precisam valorizar isso. Hoje a questão financeira impera na sociedade, então acho que para economizar na saúde e segurança, o esporte é um dos caminhos. O profissional de educação física atua na melhora da saúde do ser humano. Esporte é preventivo. Muitas vezes constroem penitenciárias, postos de saúde e outros. Se você investir em esporte, diminuirá a incidência de doenças e a criminalidade, pois as crianças estarão expostas a algo que lhes dará educação, saúde e segurança.

Esporte Ágil - Você encara então o esporte como forma de inclusão social?
Pelézinho -
Muitas crianças são abandonadas, não tem acompanhamento. Na escolinha eles têm atenção, direcionamento, disciplina. Existe uma diferença muito grande, que teoricamente, é invertida: as crianças do projeto social, na maioria das vezes, são mais educadas que as outras com poder aquisitivo melhor, pois as outras não têm limites. A questão de saúde é mais importante trabalhar no projeto social; na escolinha comercial, trabalhamos a disciplina, educação e outros.
A inclusão está no esporte em todos os sentidos. Na escolinha paga, também há inclusão. Atualmente, qualquer grupo realiza uma "peladinha". Caso você nunca jogou bola, você é excluído, ao passo de você ter uma formação mínima, você é incluído no processo. Esporte é 100% inclusão.

Esporte Ágil - A Escola Pelézinho têm se expandido em forma de projetos sociais?
Pelézinho -
A Prefeitura Municipal de Campo Grande, através do prefeito Nelsinho Trad e da Funesp (Fundação Municipal do Esporte), ampliou a estrutura de esportes com o futsal, através do projeto Atleta do Futuro. O Pelézinho tem essa parceria com a Funesp, indo aos bairros. Temos projetos no Jardim Aeroporto, Rouxinóis. No Colégio Atheneu também temos aulas, que é particular, mas desenvolvemos projetos neste local também. Não existe turma do projeto e turma da escolinha, mas todos participam da mesma atividade, com a mesma qualidade de ensino.

Esporte Ágil - Existem outros planos de expansão?
Pelézinho -
Queremos sempre crescer, pois a colaboração que damos para a população de Campo grande é esta. Quero ainda ampliar a escola para as cidades do interior e penso em dar preferência para as cidades que tem faculdade de educação física, para que possa dar treinamento aos professores, para manter a qualidade do ensino. Hoje sou uma pessoa muito feliz, pois sou reconhecido no que faço. Muitas pessoas já passaram pela escolinha, milhares de campo-grandenses. Sou uma pessoa de família humilde, que quero deixar uma herança de formação para estas crianças.

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