Bate-Bola | De Jones Mário/com Assessoria | 18/10/2013 11h42

Bate-Bola: Jaqueline Mesnerovicz

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"É um esporte, de certa forma, bruto, que exige muito esforço e dedicação" (Foto: Reprodução/Facebook)

Jaqueline Mesnerovicz

Jaqueline Mesnerovicz tem 26 anos e é professora de Química e Física. Porém, às quintas e sábados ela se transforma em “Jackie Tequila”, seu Derby Name, dado após seu “batizado” no esporte. Ela é fundadora da primeira liga de Roller Derby de Campo Grande, a Meat Machine, que atualmente conta com 12 jogadoras.

Em entrevista ao site Esporte Ágil, Jaqueline conta como conheceu a modalidade, como ela é jogada, e quebra diversos preconceitos e paradigmas dos ditos esportes “femininos”. Confira.

Esporte Ágil - Jaqueline, o que é o Roller Derby?

Jaqueline Mesnerovicz - O Roller Derby surgiu nos Estados Unidos, entre os anos 1920 e 1930. Na verdade, eram maratonas de patins. E alguns anos depois, eles começaram a perceber que os momentos que a galera ia a loucura era a hora que os competidores iam passar um pelo outro. Então eles pensaram em fazer um esporte em que o foco era esse. E o Roller Derby surgiu a partir dessa ideia.

EA - Como o Roller Derby é jogado?

JM - São duas equipes, cada uma entra com cinco meninas (o esporte é predominantemente feminino, apesar de haver ligas masculinas). Quatro delas são bloqueadoras (blockers) e uma velocista (jammer), e somente as jammers marcam ponto.

O jogo é simples: uma pista oval, como se fosse de atletismo; as bloqueadoras de ambos os times ficam na frente e nove metros atrás ficam as velocistas. Quando soa o apito, as velocistas têm que passar pelas bloqueadoras. Então, eu como bloqueadora, tenho que impedir que a jammer adversária passe, e abrir espaço entre as bloqueadoras para minha velocista passar. E para cada blocker que a velocista passa, a equipe dela ganha um ponto. Isso a partir da segunda volta - a primeira não vale pontos.

EA - Como você descobriu o Roller Derby?

JM - No Brasil, a maioria das meninas descobriu o esporte através do filme Garota Fantástica (título original: Whip It), dirigido por Drew Barrymore. Em 2009 eu vi esse filme e achei muito interessante o esporte, mas não dei tanta importância por ser norte-americano. Foi quando tornei a ver o filme no inicio deste ano e pensei: “Porque não?”. Mesmo sabendo que em Mato Grosso do Sul não iria encontrar ninguém que praticasse o esporte resolvi tentar.

EA - E como foi a criação da liga Meat Machine?

JM - Eu pensei que se eu quisesse jogar Roller Derby eu teria que criar uma liga. Então pesquisei se havia grupos de patinação em Campo Grande. Entrei em contato com o grupo da Patinação Artística e do Hockey. Conversei com um professor do Hockey e a primeira coisa que precisava fazer era voltar para as aulas de patinação. Feito isso comecei a pesquisar tudo sobre o esporte, técnicas, equipamentos, e, em maio deste ano, decidi procurar meninas para formar a primeira liga de Roller Derby de Mato Grosso do Sul. Criei uma Fan Page, com a ajuda de um amigo criamos a logomarca e soltamos a ideia. Hoje somos 12 meninas e dois colaboradores. O Roller Derby ocupa muito tempo, não é só a prática de um esporte, é uma segunda família, onde uma se preocupa com a outra, ajuda a superar as dificuldades e a cada treino é uma expectativa grande de poder encontrar o grupo. É um esporte, de certa forma, bruto, que exige muito esforço e dedicação e tendo essas características muitas meninas não se identificam.

EA - Como são e quanto custam os equipamentos?

JM - Há dois tipos principais de patins, o in line, com rodas em linha, e o quad, com rodas paralelas. No Roller Derby é utilizado o quad porque proporciona maior estabilidade, uma vez que as bloqueadoras não se movimentam muito no Pack (todas as bloqueadoras juntas). Como o esporte não é muito tradicional no Brasil, os importados são melhores e assim, custam bem mais caro que os nacionais. Para a fase inicial do esporte o equipamento nacional é suficiente. Para iniciar no esporte precisa ter patins, capacete, munhequeira, cotoveleira e joelheira, com um custo inicial de aproximadamente 600 reais, comprando marca nacional, mais a mensalidade da liga.

EA - E o Campeonato Brasileiro? A liga vai participar?

JM - O Campeonato será em novembro, mas enquanto liga ainda não estamos preparadas para participar, pois iniciamos os treinos recentemente e também não dispomos ainda de patrocínios. Fui convidada por uma jogadora de Santos para participar como membro da liga dela, que é de nível iniciante. O campeonato é basicamente dividido entre ligas experientes e ligas iniciantes. Os grupos iniciantes participam de bootcamps (espécie de workshops) e scrimmages  (simulações de partidas). O Roller Derby é regulamentado pela WFTDA que estabelece habilidades mínimas para uma derby girl.

EA - Existe algum incentivo público ou privado?

JM – Não dispomos de nenhum patrocínio, tudo sai do nosso bolso. Por isso temos que pensar em alternativas de arrecadar fundos. Nossa primeira promoção esta sendo rifar as meninas da liga (risos). A primeira rifa é uma aula de patinação, uma aula de defesa pessoal, uma aula de sapateado, e uma aula de violão. A segunda rifa será um book fotográfico, pois temos uma fotógrafa no grupo. E uma terceira rifa será um encontro com uma das meninas. Em relação ao espaço tínhamos uma quadra, mas tivemos que sair. Atualmente estamos treinando nas quadras cobertas da UFMS, que apesar de termos que marcar a pista todo o treino, limpar e dividir o espaço, ainda é a melhor quadra gratuita que temos.

EA - Vocês enfrentam preconceito então?

JM – Sim. No meu trabalho me chamam de moedora de carne. E quando peço para curtirem nossa fan page normalmente eles dizem: “Eu não vou curtir isso! Uma mão quebrada, com um patins em cima, cheio de sangue!”.

As pessoas acham que vamos nos bater violentamente, e que o intuito do jogo é esse. Antigamente o esporte não tinha regras, mas hoje, elas protegem muito as jogadoras, não pode usar o cotovelo, não pode dar rasteira ou qualquer tipo de agressão. Claro que por tratar de um esporte de contato, contusões e ossos quebrados, normalmente podem acontecer!

EA - E o que vai ser do futuro da Meat Machine?

JM – “Estamos a mil”!  Recentemente recebemos a visita de uma jogadora de uma liga da Inglaterra que nos deu apoio fundamental. Desde a estrutura organizacional até a condução dos treinamentos. A participação no campeonato Brasileiro também será outro ponto fundamental para o crescimento da Meat Machine. E para o ano que vem estamos pensando na possibilidade de promover amistosos entre ligas próximas, de Londrina (PR), Goiânia (GO), Brasília (DF). E quem sabe, participar do próximo Campeonato Brasileiro.

EA - E quem quiser participar da Meat Machine e conhecer mais sobre o Roller Derby?

JM - Os treinos são abertos. Para treinar conosco a menina deverá ter o patins do tipo quad e fundamentalmente o equipamento de proteção. Os treinos acontecem todas as quintas-feiras, das 18h às 21h e aos sábados das 13h às 16h nas quadras cobertas da UFMS.

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