Bate-Bola | Vitor Yoshihata/Da redação | 10/11/2009 13h36

Bate-bola: Fernando Blank

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“Eu, se fosse presidente da Federação de Futebol de MS, eu daria 5 anos para a TV Morena transmitir de graça o campeonato (estadual”. “Eu, se fosse presidente da Federação de Futebol de MS, eu daria 5 anos para a TV Morena transmitir de graça o campeonato (estadual”. (Foto: Foto: Vitor Yoshihata)

Fernando Blank

Nascido em 14 de agosto de 1972, o jornalista esportivo Fernando Blank reside em Campo Grande desde 1990. Começou em 2001 na Rádio Educação Rural com o Mário Mendonça, que foi seu "padrinho" no rádio esportivo. De lá pra cá, passou por várias emissoras, e hoje está há oito anos na área, além de passear por política, geral, mas sempre focado na crônica esportiva.

Blank defende uma "nova política" para o futebol do Estado. O cronista deixa claro que é contra prefeituras ajudarem os times, mas pondera: "No momento, os times precisam disso".

Esporte Ágil - Como você começou sua carreira na crônica esportiva?
Fernando Blank
- Eu comecei em 2001 na Rádio Educação Rural com o Mário Mendonça, que foi meu padrinho no rádio esportivo. Mas minha primeira influência foi Luciano do Vale, na Copa do Mundo da Espanha em 1982, eu com 9 anos assistindo o jogo do Brasil e ele narrou um gol do Serginho Chulapa. Eu falei: "eu quero ser esse cara". Não sabia se teria talento para coisa. Algum tempo depois, com 17 anos, fui embora para Campo Grande para ver se conseguia entrar em alguma rádio. Vim para cá em 2001, comecei na Educação Rural, passei por várias emissoras, e hoje estou a 8 anos na área de jornalismo esportivo, além de passear por política, geral, mas sempre focado na crônica esportiva.

Esporte Ágil - O que você acha que mudou no esporte sul-mato-grossense nesses 8 anos?
Fernando Blank - Acho que mudou muita pouca coisa, pois falta uma política esportiva. Não só aqui, mas a nível federal. Vamos ter uma Olimpíada em 2016 e não temos um planejamento para o desenvolvimento esportivo. Não visando a profissionalização, mas sim também como formação para um cidadão melhor. O esporte faz isso. Temos exemplos como a Marta, que se não fosse o futebol passaria fome lá no Alagoas. Falta uma política de investimento esportivo para capturar essas pessoas nos colégios. Não tem isso nas escolas. O futebol desde 1996 vem caindo no Estado. Hoje estamos com um campeonato deficitário, um torneio que fica devendo. A Capital estagnou, diferente do interior que as prefeituras vem investindo no futebol. Temos exemplos que podemos seguir, como a Liga Pró Basquetebol, que está fazendo torneios não só em Campo Grande, mas em todo o Estado. Tem a Federação de Motociclismo, que realiza eventos de MotoCross, com médio de público de 5 mil pessoas. Aqui na Capital o futebol piorou. No interior melhorou, com a entrada do dinheiro público, que eu sou contra. O dinheiro público não deveria ser usado para o esporte profissional, mas sim para o desporto amador. Para tentar assim fomentar e achar algum talento. Falta um direcionamento para melhorar. Tem que ter uma política específica para todos os esportes, o que a gente não tem. Temos algumas ações, como o Fundo de Investimento ao Atleta. Temos que ter um programa para que possamos ser um país olímpico até 2016.

Esporte Ágil - Você acha que um dos grandes problemas é o fato da população e dos políticos ainda considerarem o esporte apenas como lazer?
Fernando Blank - Quem trata isso é o poder público. Lembro que quando eu estudava a Educação Física tinha quatro horas pela manhã. Hoje você vai numa escola e vê que não se formam times. A própria Fundação de Esporte do Estado não promove campeonatos inter-escolares. Antigamente a grande formadora de atletas eram as escolas. Hoje não tem isso. E o esporte, além de lazer, também é formação de cidadania, de exemplos. Podemos salvar um ser humano através do esporte. Enquanto as pessoas não entenderam isso, não vai haver essa política. Acho que temos que nos preocupar com isso. A Secretaria de Educação, juntamente com a Fundação de Esporte, tem que ter essa política. Mas nós não temos isso no âmbito federal, vamos ter no estadual?

Esporte Ágil - Na sua opinião, além do esporte escolar estar deficitário, um dos nossos grandes problemas é que o esporte universitário também é fraco?
Fernando Blank - Tem os jogos universitário. Todo ano tem a nível nacional. O que falta mesmo é interesse em investimentos das próprias universidades. Nos Estados Unidos, por exemplo, quando você entra numa universidade você tem que escolher uma modalidade esportiva, mesmo que você não se torne um atleta no futuro. Aqui, quando você entra numa faculdade não tem isso. Por isso que eles são potência mundial. O basquete norte-americano já vem do ginasial, que vai para o universitário e depois vai para o profissional. É assim com todos os esportes nos Estados Unidos. Aqui no Brasil você entra para conseguir Bacharelado ou Licenciatura, sem uma grade esportiva. Falta política de Estado. O Brasil é uma potência olímpica, mas não sabe que é. Precisamos de uma política de formação de atletas. Para termos um país forte no esporte tem que ser uma ação de governo, não só uma ação da iniciativa privada. O Brasil deveria proporcionar isso. As ações que existem são muito tímidas.

Esporte Ágil - Como você avalia a estrutura de Campo Grande para fazer esporte?
Fernando Blank
- Eu acho que Campo Grande tem uma boa estrutura, se souber usar. Temos poucos atletas que se destacam, por problemas de incentivo. A Funesp tem programas de ajuda para atletas. É pouco, mas no deserto uma gota de água salva uma vida. É por aí que começa. Tem que ajudar, incentivar as federações. Existe uma verba destinada a isso. Se ela não está sendo bem aplicada temos que descobrir por quê. O que falta é uma política de esporte, como existe na saúde. Agora com a Olimpíada temos que ter o esporte como uma das prioridades, senão vamos passar vexame em 2016.

Esporte Ágil - Você acha que nosso futebol estadual tem salvação?
Fernando Blank - Nós temos que fazer uma análise. Quando estávamos no auge, com Operário e Comercial disputando as primeiras divisões brasileiras, em 1987, com o advento do Clube dos 13, elitizaram o futebol e a "periferia" ficou de fora. Nós perdemos a nossa vaga na Série B no campo. Em 1993 o Operário se licenciou das Série B, e naturalmente caiu. Caímos depois para a Série D. Enquanto não voltarmos para a Série B vamos continuar caminhando apenas. Precisamos fazer uma nova política para o futebol do Estado. No interior essa visão já está mudando. Lá você tem um time que representa a cidade. O poder público ajuda, o que sou contra, mas no momento os times precisam disso. E o futebol é barato. Ano passado estive com o ex-prefeito de Costa Rica, Waldemir dos Santos, e numa entrevista para a Gazeta MS ele me disse que fazer futebol no interior é fazer quatro festas por mês. Fazer futebol todo domingo sai muito mais barato do que realizar festas. Para ter investimento tem que ter credibilidade. Estamos passando por problemas sérios com a nossa federação e com os dirigentes de clubes. Temos o bom exemplo da diretoria do Comercial, que pegou o colorado em 2007 na segunda divisão. Estão tentando, mas é difícil você sair dessa situação. Acho que o futebol vai mudar, tem condições de mudar. O campo-grandense adora futebol, gosta de ir no estádio. Mas você só vai a um espetáculo quando se sabe que tem bons artistas. Sempre falo que nosso campeonato é feito para nossos dirigentes, não para nossos torcedores.

Esporte Ágil - Faltam políticas para atrair o público?
Fernando Blank - Sim. O Eduardo José Farah pegou a Federação Paulista falida. Ele conseguiu chamar investidores e até mesmo patrocinar alguns clubes, levando atrações como shows sertanejos, sorteando prêmios. Você tem que fazer equipes boas, gastar para fazer isso. Nosso campeonato, tecnicamente, não é ruim. Se você pegar o Campeonato Carioca e tirar os quatro times grandes, você verá que as outras equipes são piores que as nossas. Falta empolgar o torcedor. O rapaz antigamente levava o filho dele para o estádio. Essa corrente quebrou. Você tem que fazer um evento voltado para o público. O problema é só aqui em Campo Grande. Como trazer público para o Morenão? Temos equipes com tradição, com história. A primeira coisa que me perguntam quando viajam é sobre o Operário.

Esporte Ágil - Você tem alguma ideia para trazer esse público de volta?
Fernando Blank
- Tenho. Montar equipes fortes e divulgar o campeonato. Trazer parceiros, trazer a iniciativa privada. Futebol dá muito dinheiro, é business. Tem uma pesquisa que futebol é o que mais gira no mercado. Como trazer isso para a Capital? Como trazer uma empresa para apoiar? Tem que ter transparência. Eu, se fosse presidente da Federação de Futebol de MS, eu daria 5 anos para a TV Morena transmitir de graça o campeonato. Terminou o contrato, se deu certo, nós pensamos num valor. Isso é uma ideia, não sei se seria a solução.

Esporte Ágil - Você acredita que é um problema da nossa imprensa também?
Fernando Blank - Para cobrir Rio Pardo e MS/Saad você vai ver meia dúzia de gatos pingados. Para fazer Ivinhema e Flamengo tem gente que nunca pisou no gramado do Morenão e diz que é imprensa. Tem universitário que vai fazer estágio em Corinthians e Misto. Por que não vai fazer estágio quando tem Chapadão e MS/Saad numa Série B? Por que tem que fazer estágio em eventos esportivos que tem visibilidade(diz com tom de irritação)? Falta coerência. Acredito também que nossa esportiva é fraca porque eu penso que ela só é forte onde o futebol é forte. Tem pessoas que culpam a imprensa pelo estado do futebol. Eu discordo, porque não voto no presidente da federação, não escolho presidente de clube e não faço fórmulas de campeonatos. Vamos apenas cobrir o campeonato. Mas temos que dar nossa parcela de contribuição. Como você vai vender um produto falando mal dele? O futebol do Rio de Janeiro, tirando os quatro grandes times, para a imprensa de lá é um dos campeonatos mais charmosos do mundo. Eles vivem daquilo. Temos que falar bem do nosso futebol, que é bom tecnicamente. O que falta é a imprensa ir lá cobrir, dar mais destaque, dar mais páginas. Temos jornais de grande circulação aqui que coloca uma "coluninha". Temos duas rádios transmitindo futebol numa Capital de 800 mil habitantes. É pouco isso. Temos que pensar todos juntos numa forma de levantar o futebol. Se a imprensa não é culpada  pelo futebol estar como está, ela pode ajudar a levantá-lo. Não é só vir cobrir Brasil e Venezuela quando vem um time de fora. É cobrir todos os jogos do Estadual. E não ficar bravo porque não conseguiu cobrir Brasil e Venezuela. O que ficou de legado desse jogo? Vieram, montaram um circo e foram embora. Só ficaram lembranças para os torcedores. O que ficou de Flamengo e Ivinhema? Não ficou nada. O que fica é o Ivinhema, o Misto, o Comercial, o Operário, o Águia Negra, o Sete de Setembro, o Operário de Dourados... É isso que fica. Esse é nosso dia-a-dia. Meu ganha pão é falar do Rio Verde, do Rio Pardo, do Coxim, do Corumbaense... É narrar um basquete da Liga. Um futebol de salão. Meu ganha pão é o esporte sul-mato-grossense. A solução é ter um time nosso na Série B.

Esporte Ágil - Para finalizar, que dica você dá para quem quer começar na imprensa esportiva?
Fernando Blank - Para quem quer começar inicie no rádio. Lá você aprende muita coisa, porque 90% do rádio é ao vivo, e você vai ter que fazer algum tipo de improviso. Ouvir muito. Ler muito esporte. Estudar realmente. Faculdade hoje te ensina a falar sobre economia ou cotidiano, não tem esporte na grade. Temos que ter isso. Vai para o campo assistir jogo. Ver basquete, vôlei e futsal. Tem que gostar primeiro. Se não gostar não adianta. No jogo do Brasil e Venezuela, por exemplo, eu fiquei de segunda a quarta-feira no Morenão, falando ao vivo. E aí, você tem saco para isso? Eu aconselho ir para o rádio. Aí você terá uma bagagem para qualquer meio de comunicação. Mas que rádio você pergunta? Tem a Difusora, com a equipe do Marco Antônio Silvestre, e a Transamérica, com a equipe do Arthur Mário. Procura. Se você gosta de futebol é agradabilíssima. Tem que correr atrás. Quando iniciei minha carreira em 2001 era proibido falar ao vivo, só entrava gravado. Tem colega meu saindo da faculdade e já querem falar ao vivo, achando que sabem de tudo. Não é por aí. Ficam bravos. O diploma não forma jornalista. A faculdade te ensina técnicas, mas não te faz jornalista. A formação acadêmica é necessária, é importante para formar um cidadão. Até para ele não falar besteira. Tem que respeitar quem não tem.

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