Bate-Bola | Jeozadaque Garcia/Da redação | 10/05/2010 14h48

Bate-bola: Eduardo José Vieira Miranda

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“As federações, mesmo nos grandes Estados brasileiros, se transformaram em meros cartórios, carimbadores de resultados e despachantes de documentos”. “As federações, mesmo nos grandes Estados brasileiros, se transformaram em meros cartórios, carimbadores de resultados e despachantes de documentos”. (Foto: Foto: Acervo Pessoal)

Eduardo Miranda

Paranaense de 29 anos, formado em 2003 pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Eduardo José Vieira Miranda é jornalista esportivo do jornal Correio do Estado.

No Bate-bola, ele conta sobre seu início de carreira e como surgiu seu interesse pelos esportes. Acredita ainda que as entidades públicas têm de incentivar o esporte na base, nas escolas e nas ruas e parques. "Sou contra o repasse de dinheiro para federações", afirma.
 
Esporte Ágil - Quando e como surgiu seu interesse pelos esportes?
Eduardo Miranda
- O interesse por esportes veio de dentro de casa. Meu pai sempre foi ligado em esporte. Daqueles que não perde um jogo do time do coração, e sempre que possível participa de uma pelada no fim de semana. Além disso, desde criança, quando estudava em escola pública no Estado do Paraná, participei de treinos específicos de futsal, basquetebol e atletismo, todos eles visando os Jogos Escolares do Paraná (Jeps) - uma competição interessante, feita em várias fases, e que na fase final, em uma única cidade grande do interior do Estado, reúne milhares de atletas de todas as partes, lembrando uma verdadeira olimpíada.

Para quem ficou interessado na minha performance, fui terceiro colocado na fase final dos Jeps de atletismo no salto em distância, em 1995. Na fase regional, medalha de ouro. No futsal, não passei da fase regional, apesar do esforço. No basquete, não passei do banco de reservas.

EA - Por que decidiu seguir o jornalismo esportivo?
EM - Bom, não foi uma decisão exclusiva minha, foi algo que aconteceu. Em 2008, recebi a missão de ser repórter de esportes no Correio do Estado. Antes, já havia atuado nas áreas criminal, econômica, geral e política no Correio e nos outros veículos por onde passei. Claro, de uma outra forma eu decidi seguir o jornalismo esportivo, porque gostei muito de acompanhar as competições, e a paixão do brasileiro pelo esporte.

Agora, falando francamente, quem gosta de jornalismo de verdade atua em qualquer área: esporte, política, economia, polícia, cultura e 
qualquer uma outra. E em qualquer meio: televisão, jornal impresso, internet, rádio e outros. Os jornalistas são apenas o meio, e não o fim, no processo de transmissão da notícia para seu consumidor.

EA - Desde que começou na área, o que mudou no esporte local?
EM - Algumas coisas mudaram. Ainda não analisei se para melhor ou para pior. Pelo lado bom, Campo Grande teve seu primeiro jogo oficial da seleção brasileira principal, isso foi interessante. Pelo lado ruim, o esporte local foi praticamente engolido pelos grandes eventos de outras  praças do Brasil.

EA - O que acha que pode ser melhorado?
EM
- Muitas coisas. Para que uma cidade ou Estado seja reconhecido lá fora precisa de dinheiro, de uma economia forte, com grandes indústrias e prestadores de serviço. Onde está o dinheiro, o esporte se projeta.

Deixando o futebol de lado, por se tratar de um caso a parte, por que não temos times em nenhuma divisão de elite do esporte nacional? 
Porque não temos investidores interessados em bancar equipes nas ligas de vôlei, basquete e futsal, e cuja participação não depende de 
acesso, mas sim da compra de franquias, que custam, no mínimo, R$ 300 mil. Cidades de interior, com pouco mais de 100 mil habitantes das 
regiões Sul e Sudeste têm equipes nestas ligas porque há grandes empresas e bons projetos de clubes para atrair patrocinadores. Em troca do apoio financeiro, as empresas são projetadas para todo o Brasil por meio da cobertura ao vivo dos canais abertos e por assinatura, e pelas capas de jornal em que aparecem.

EA - De que forma as entidades públicas (Funesp e Fundesporte) entrariam neste processo?
EM - No alto rendimento, sinceramente, não creio numa boa participação destas entidades neste processo. Estas entidades têm de incentivar o esporte na base, nas escolas e nas ruas e parques, o que parece que já é feito. Sou contra o repasse de dinheiro para federações, o que também parece acontecer. Federações são meros cartórios de competições, carimbadores de documentos. Se tem repasse de dinheiro, este deveria ir direto para as equipes que apresentarem projetos bons e sérios. Acredito muito mais nas ligas, do que na burocracia das federações.

EA - Você acha que essas entidades têm auxiliado de forma correta as federações e associações?
EM - Um pouco da resposta foi dada acima. Acho que estas entidades devem promover alguns eventos, como festivais de lutas, natação e 
atletismo, com corridas de rua. Além de jogos escolares e jogos abertos. Para por aí. Federação não precisa de repasse de dinheiro público. Elas têm de se viabilizar economicamente.

EA - Como você avalia hoje o jornalismo esportivo em MS?
EM - Eu avalio como muito bom, em razão, principalmente, do esforço que é feito. Os jornalistas da área esportiva tiram leite de pedra aqui no Estado. É mais difícil fazer jornalismo esportivo aqui do que em São Paulo, por exemplo. Lá a realidade esportiva conspira a seu favor, com 
muitos eventos, e com a paixão dos torcedores pelas equipes locais. Aqui não. Além do trabalho que fazemos com os eventos que acontecem fora do Estado, temos de nos esforçar para descobrir o que acontece por aqui.

E só para registrar, o jornalismo, seja esportivo ou de qualquer outra área, não é o responsável pela transformação da realidade. Ele deve 
mostrar o que acontece e ponto. Quem transforma a realidade é a própria sociedade. 

EA - Os veículos dependem muito dos releases?
EM - Não. De forma alguma. São os releases que dependem dos veículos. Aqui no Estado muitos releases são anúncios publicitários disfarçados.

EA - Na sua opinião, qual a importância de uma assessoria de imprensa para um clube? Isso hoje faz falta?
EM - Assessoria de imprensa é sempre importante. É ela quem molda a imagem de um clube ou de uma empresa. As assessorias fazem falta, mas já estão começando a aparecer. Agora, o que faz falta nas assessorias de imprensa é o profissionalismo. Fazer assessoria não é só mandar release. E fazer a ponte entre o jogador, presidente do clube e treinador e o veículo. É atender rapidamente uma solicitação. É mandar uma boa foto, em alta resolução. É telefonar para o jornalista, perguntar se ele precisa de algo mais. 

EA - Concorda com contínuas reeleições nas presidencias das federações esportivas?
EM - Como já disse antes. O problema das federações está no modelo. É um modelo muito arcaico. As federações, mesmo nos grandes Estados brasileiros, se transformaram em meros cartórios, carimbadores de resultados e despachantes de documentos. Quem é mais forte hoje: São Paulo, Palmeiras, Corinthians e Santos, ou a Federação Paulista de Futebol? São os clubes, claro.

A imagem do César Cielo está  vinculada à Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos? Não. Não está. Aqui no Estado mesmo. Alguns clubes de basquetebol se organizam em liga. No futebol amador acontece a mesma coisa. Federações, da forma como existem, para mim, são instituições do século passado. A quantidade de eleições é só um detalhe dessa estrutura que, cada vez mais, perde espaço no Brasil e no mundo.

EA - Como nossa imprensa está  assimilando o surgimento de novas modalidades cada vez mais populares, como o MMA? Você acha que 
ainda falta espaço? O que fazer para mudar este quadro?

EM - Como a própria pergunta afirma. A imprensa ainda está assimilando. Mas ela já cobre, mesmo que timidamente, estes eventos. Quanto ao espaço e à mudança deste quadro, isso vai depender do retorno que tivermos do leitor quando o assunto for noticiado.

No caso específico das artes marciais múltiplas (MMA), a imagem ainda mantém vínculo forte com antigo vale-tudo, marcado pela crueldade e 
pela violência. O MMA da forma como existe hoje - com regras mais rígidas e menos sangue - ainda precisa consolidar sua imagem midiática do novo boxe. Diria que o Dana White só precisa disso para se transformar no que foi o Don King.

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