Bate-Bola | Vitor Yoshihara/Da redação | 05/05/2009 04h17

Bate-bola: Arthur Mário

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Arthur Mário

Voz conhecida nas rádios sul-mato-grossenses, Arthur Mário Medeiros Ramalho tem 49 anos e é natural de Nova Andradina (MS), lugar onde fez seus primeiros contatos com o esporte jogando vôlei, basquete e futsal. Mas foi ouvindo e lendo que o hoje jornalista e estudante de marketing esportivo se interessou pelo jornalismo.

O nova-andradinense já teve passagens pela Rádio Cultura, Rádio Difusora, Rádio Educação Rural, Rádio Ativa FM 102, 104 Regional, e atualmente trabalha na FM Transamérica 99,1. A Rádio Ativa, inclusive, tem uma história curiosa: segundo Arthur, a emissora foi responsável pela primeira transmissão de uma partida de futebol em FM, no ano de 1993. Já no marketing e assessoria, o jornalista teve experiência cuidando de eventos de voleibol do Banco do Brasil.

Confira a entrevista na íntegra:

Esporte Ágil - Qual foi seu primeiro contato com o jornalismo esportivo?
Arthur Mário -
Meu primeiro contato vem da minha infância. Sou do interior do Estado e o rádio sempre esteve muito presente na minha vida, na minha família, na casa dos meus pais, e depois também no trabalho. Então eu ouvia muito rádio esportivo, de emissoras de fora, de São Paulo, Rio e Porto Alegre. E ainda na minha infância eu tive contato com o jornal O Estado de São Paulo, que eu era o menino que ia pegar as correspondências no correio. O Estadão era o único jornal que chegava em Nova Andradina e vinha com dois dias de atraso, então depois que todo mundo lia o jornal a primeira coisa que eu lia era o caderno de esportes. Meu primeiro contato profissional é do ano de 1982 ou 1983, quando eu iniciei na Rádio Difusora de Campo Grande no trabalho de repórter esportivo. O primeiro jogo que fui repórter foi Aquidauana e Operário, lá no Estádio Noroeste.

Esporte Ágil - Você acha o rádio responsável por manter o jornalismo esportivo vivo no Mato Grosso do Sul?
Arthur Mário -
Com certeza. O rádio e o futebol, não só na questão do MS, eles sempre caminharam juntos. Você tem lá no início, a literatura registra, as primeiras transmissões radiofônicas de futebol incomodaram os dirigentes na época no Rio de Janeiro. Houve um período que os dirigentes do futebol carioca proibiram as emissoras de rádio de transmitirem futebol. E alguns radialistas da época, Ary Barroso foi um desses, furaram o esquema de bloqueio. Ele ia para prédios, casas próximas as estádios onde aconteciam as partidas de futebol. Aí ele furava o esquema e transmitia no rádio as partidas que aconteciam. Os dirigentes achavam que iam prejudicar a renda e a presença de público, mas depois entenderam que não. Tanto é que o rádio não paga direitos no futebol e hoje caminham juntos. A televisão paga direitos mas o rádio não paga. Futebol e o rádio no Brasil é um casamento que deu certo.

Esporte Ágil - Que eventos você guarda na memória?
Arthur Mário -
Um evento marcante para mim foi na Itália em 1990, Brasil e Argentina. Aquele segundo tempo eu transmiti para a Rádio Difusora de Campo Grande, mesmo estando credenciado pela Rádio Globo de São Paulo. O primeiro tempo quem transmitiu foi o Osvaldo Maciel, que hoje está na Rede Transamérica, que é onde eu estou hoje. No segundo tempo eu consegui um canal internacional para transmitir. Para mim foi marcante. Foi a minha primeira Copa do Mundo, aquela da Itália em 1990, que eu narrei o gol do Caniggia, com lançamento do Maradona. Foi a pior campanha do Brasil em Copas, lamentavelmente, mas para mim foi o grande momento. Depois vieram outras e outras, mas aquela lá foi muito marcante.

Esporte Ágil - E como fica a imparcialidade em um momento como esse?
Arthur Mário -
A Copa do Mundo para nós do jornalismo esportivo e uma Olimpíada, é o ápice da profissão. É algo que mexe com seu lado tiete, o profissional acaba se envolvendo. Mas quando você vai para uma cobertura internacional, entra em contato com outras culturas, isso te permite rever muitos valores. Eu me recordo, aí não é só o profissional de Mato Grosso do Sul, na verdade é a imprensa brasileira, seja ela pequena, média ou grande, acaba sendo muito criticada na Europa pelo passionalismo. O jornalista esportivo brasileiro é tido como um jornalista parcial, lamentavelmente. Mas eu me recordo que foi impactante para mim naquela cobertura, algumas experiências com seu Telê Santana, que naquela época estava comentando a Copa no SBT, Zagallo, que comentava na Rede Manchete, e a convivência com os jornalistas portugueses. Eles faziam muitas críticas, do tipo 'como o jornalista brasileiro é apaixonado e torce'. A partir daquele momento eu já tinha consciência, e aí eu consegui aprimorar e melhorar o quesito imparcialidade numa cobertura. E essa convicção eu tenho, de separar uma paixão por uma seleção brasileira ou um time que tenho uma simpatia. Quando estou atuando profissionalmente para o ouvinte, no caso na minha função de narrador esportivo, eu graças a Deus nunca tive problema nenhum. Olha que minha geração a grande maioria assume para quem torce, e eu tenho uma convivência extraordinária com o Comercial. Sou comercialino, fui presidente do clube num momento de crise imensa. Tive que atender convites e assumi o time. E mesmo assim nunca tive problema nenhum com o grande rival. Os torcedores do Operário me amam, convivem comigo numa boa, por quê? Porque profissionalmente eu consigo separar muito o espetáculo que está acontecendo dentro do evento, dentro das regras, e não colocar o coração. Eu coloco na emoção que o narrador tem que passar o evento que estou relatando.

Esporte Ágil - O que você achou da situação pela qual passaram Comercial e Operário?
Arthur Mário -
Cada caso é um caso. O Operário gente já tinha uma previsão de longa data que o clube pudesse chegar aonde está chegando. Já com relação ao Comercial, o grupo que está à frente do Comercial, no meu ponto de vista tem patrocínio, tem pessoas de credibilidade e de visibilidade na sociedade, além de ser um grupo que dirige o time. O Comercial viveu um bom momento no ano retrasado, na segunda divisão, e depois veio para a primeira divisão. Na verdade o que aconteceu no departamento de futebol do Colorado e na diretoria, porque o presidente se licenciou para assumir pasta de esportes no município, foi que acabou faltando pessoas. Faltou conhecimento, pessoas que conhecem o futebol, porque a diretoria é um grupo de pessoas de credibilidade mas no entanto ainda não tem toda a experiência dentro do futebol. Ao Comercial voltou ter um grande ex-jogador, tipo um Diogo, um Copeu, ou um ex-diretor de futebol mais experiente para ajudar ali o Carlos Alberto, o Fernando Doldan e o Eduardo Prado.

Esporte Ágil - Quais são as chances de Campo Grande receber a Copa de 2014?
Arthur Mário -
Eu não só tenho certeza que a nossa cidade e o nosso Estado tem condições de ser uma sede da Copa, como também torço para isso, eu só critico a falta de um comitê mais ampliado com todos os segmentos da cidade interessados participando de forma mais democrática até. As pessoas que estão no comitê centralizaram muito neles, veio a Luiza Brunet, o Carlos Alberto Torres, as coisas aconteceram muito a portas fechadas. A sociedade não participou muito do debate em torno da Copa do Mundo. Isso é ruim, diferentemente de Cuiabá. Eu que na minha vida profissional também atuo no marketing esportivo, fomos produzir o jogo dos 70 anos do Operário aqui, renegociamos com o Corinthians, por culpa de um problema jurídico, e promovemos a partida lá em Cuiabá. Convivendo quarenta dias lá em Cuiabá deu para perceber a boa vontade, a forma com que as autoridades lá tratam o esporte, não só o futebol. O espírito participativo lá é muito mais forte lá, e aqui as coisas estão muito fechadas, dentro dos gabinetes, e as pessoas não foram chamadas para debater, lamentavelmente. Mas Campo Grande pode sediar uma Copa do Mundo. Fui perguntado para emitir outros jornais sobre a questão de infra-estrutura. Nós temos plena condição. A próxima Copa na África é uma prova de que quando as autoridades querem, e não adianta o Ricardo Teixeira dizer que a decisão é só técnica, porque a Fifa é um órgão político também, e muito forte, em alguns quesitos até mais forte que a própria ONU. Então a Fifa ela é sensível as questões políticas sim. Acredito que Campo Grande está a frente de Cuiabá. E outra coisa, já vimos várias vezes de cidades que foram adaptadas para Copas do Mundo e América. Os países dentro de suas limitações sempre acabam realizando as competições. O Morenão, por exemplo, é um estádio lindo, arquitetonicamente falando. A obra do Morenão é uma coisa extraordinária, em termos de qualidade. Acredito que não faremos feio na questão da Copa, agora tem de se lincar imediatamente na questão do futebol local, do Estado, de Campo Grande, que precisa de um movimento para fazer com que ele ressurja.

Esporte Ágil - Você acha que a área de assessoria de imprensa no esporte está sendo pouco explorada?
Arthur Mário -
Eu estou me especializando no Instituto Wanderley Luxemburgo, buscando conhecimento, é muito importante. Entrando em contato com o que há de mais atualizado em termos de informação esportiva no mundo. Há uma tendência de aumento da empregabilidade no esporte, em todos os segmentos, na enorme cadeia de profissões existente dentro do esporte, e o futebol é o carro-chefe que acaba puxando as outras modalidades. O que a gente percebe é que na questão da profissionalização aqui no nosso Estado está se arrastando em termos de organização. A gente percebe muita vaidade. A forma de se fazer gestão faz com que a vaidade entre os interesses dos clubes acabam prevalecendo muito mais que os interesses esportivos. A gente percebe, e aí eu faço uma auto-crítica, eu geralmente onde atuo, nos veículos onde eu trabalho eu tento reverter isso, mas a gente percebe fazendo uma auto-crítica nossa da mídia é que nós temos uma visibilidade muito maior do dirigente do que o personagem, que no caso do Esporte Ágil não acontece. Vocês tem uma linha muito legal que eu admiro. O personagem do esporte é o centro da pauta, é o atleta que desenvolve, é o treinador. As comissões técnicas precisam ter mais visibilidade. A gente vê que na verdade a maioria dos veículos pautam na verdade o dirigente vaidoso que aparece em vez de aparecer o atleta. O dirigente ao invés de fazer assessoria em torno do produto que ele vai fazer depois. O clube, seja de que modalidade for, precisa desenvolver a assessoria para que esse atleta apareça. Na verdade a gente percebe que é o próprio dirigente que aparece, e nós da imprensa precisamos tomar esse cuidado, identificar. Quem é o personagem do futebol regional? Quem é o atleta revelação desse campeonato? Quais são os treinadores que dentro de suas estratégias táticas vem fazendo algo diferente? Então nós também do jornalismo esportivo, e quem atua no marketing esportivo, precisa ter essa sensibilidade para desfocar esse quadro aí, que o dirigente é o centro de tudo. E acho que a profissionalização de profissionais do marketing esportivo na estrutura de clubes, federações e ligas é muito importante, porque são esses profissionais que vão fazer com que o esporte ganhe visibilidade e que o esporte seduza os investidores, as empresas, os governos municipais, os estaduais, os federais, que é de onde vem o oxigênio para o esporte seguir em frente.

Esporte Ágil - E os borderôs? Tivemos vários problemas recentemente que podem manchar nossa imagem lá fora?
Arthur Mário -
Estive em São Paulo e ao reencontrar jornalista de lá o tema era esse. O presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, lá em Presidente Prudente, no jogo do Palmeiras contra o Corinthians, lá ele já falava isso. Eu fui apresentado para ele e ele perguntou: 'puxa vida, o que aconteceu no jogo do Flamengo?'. O Clube dos 13 sabe. Os presidentes falam um com o outro. Essa imagem de Campo Grande já está lá. A questão do fechamento de borderô, os clubes, a federação e os promotores de evento estão na alça de mira dos grandes clubes do Brasil. Isso começou no ano passado no jogo do Cene contra o Palmeiras. Isso é muito ruim. Prejudica não só o clube no caso, que tomou prejuízo financeiro, mas prejudica toda uma cadeia de profissionais. Enfim, se parte da renda não aparece, alguém levou isso e alguém deixou de receber. O esporte perde com essas manipulações.

Esporte Ágil - De que forma a imprensa e os políticos podem ajudar nessa questão dos borderôs?
Arthur Mário -
Na verdade parece que a imprensa de alguma forma tem essa responsabilidade, mas ela não tem. Alguns setores cobram da imprensa. Agora a classe política e os dirigentes precisam de alguma forma estabelecer uma mudança, o modus operandi. A falta de informação de borderô é uma coisa que acontece desde sei lá, uma década. E nós temos na história do Morenão, em outros momentos da contabilidade manual, no primeiro tempo já saia a primeira parcial da renda e no segundo tempo antes de terminar o borderô final, público enfim, já tinha praticamente tudo divulgado. Mas isso era numa época diferente. Lá no passado Campo Grande ficou reconhecida por receber grandes jogos no antigo Campeonato Brasileiro porque a Capital tinha sempre públicos e grande renda. E esse critério de público e renda pesava no ranking da Confederação Brasileira de Futebol, isso em outras gestões. Depois do Ricardo Teixeira assumir a CBF esse critério acabou. Para se confeccionar tabelas do Brasileirão no passado, os grandes clubes, antes de existir o Clube dos 13, a CBF mandava os grandes times prioritamente onde tinha boa renda, e Campo Grande sempre teve. A população sempre gostou de futebol e isso pesava. Mas a CBF também eliminou esse tipo de critério, precisa voltar isso. A CBF abandonou justamente na gestão do Ricardo Teixeira. A imprensa pode ajudar, denunciando, mas na verdade todo o poder com relação ao borderô é dos clubes e da federação. Agora a Câmara Municipal chamando para esse debate eu acho que os políticos estão dando uma contribuição importante para debater. Tomara que não seja só discutida essa questão do borderô. Os jornalistas de fora que vem fazer cobertura nos jogos da Copa do Brasil fazem muitas críticas. 'Como é que uma cidade que quer sediar uma Copa do Mundo e a situação do futebol é essa?'. No jogo do Flamengo houve muita reclamação no sentido de reclamação do atendimento para a imprensa. As autoridades também precisam ter uma preocupação no sentido de fazer com que os dirigentes dos clubes da cidade e da Federação estejam de alguma forma tendo uma responsabilidade social com a imagem da cidade e o futuro do futebol de Campo Grande e de todo o Estado, por que não dizer.

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