Bate-Bola | Da redação | 15/09/2006 16h09

Bate-bola: André Teixeira

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Atualmente, André Texeira reside em Campo Grande e treina a equipe de natação do Colégio Dom Bosco Atualmente, André Texeira reside em Campo Grande e treina a equipe de natação do Colégio Dom Bosco (Foto: Esporte Ágil/Osvaldo Sato)

André Teixeira

Campo Grande (MS) - O consagrado nadador carioca André Teixeira é medalhista no Campeonato Mundial, em Pan-americano e também já quebrou recordes sul-americanos em sua carreira. Hoje, ele é treinador da equipe de natação do Colégio Dom Bosco. Em entrevista ao Esporte Ágil, ele falou sobre sua vida no esporte e sua experiência olímpica, além de sua nova fase como treinador. André conquistou a inédita medalha de bronze em Campeonato Mundial na prova dos 4x100 livre. Outras importantes conquistas foram as medalhas de bronze na prova dos 200 metros borboleta e prata nos 4x100 medley no Pan-americano de Mar de Plata-95, além de muitos outros títulos.

Esporte Ágil - Como foi sua trajetória e conquistas na natação?
André Teixeira -
Comecei na natação aos 3 anos, por indicação médica após ter uma pneumonia dupla. Creio que grande parte dos praticantes de natação começou por indicação médica.  A natação é um esporte solitário que envolve muita determinação e vontade. Meu primeiro clube foi o Grajaú-RJ. Aos 7 anos, fui para o Vasco e, aos 11, para o Tijuca Tênis Clube, onde fui campeão estadual pela primeira vez. Aos 13 anos fui para o Fluminense, quando fui campeão brasileiro pela primeira vez. Aos 15 anos, passei a conviver com uma lesão no ombro, pelo alto volume de treinamentos e continuei a treinar, até 1996, quando parei de competir após a Olimpíada de Atlanta. Em 1994, fui campeão brasileiro absoluto nos 100 metros borboleta e fiz o oitavo melhor tempo do mundo naquele ano. Neste ano fiz o recorde sul-americano nos 200 metros borboleta, além de conquistar a inédita medalha de bronze em Campeonato Mundial na prova dos 4x100 livre. Outra conquista foi a medalha de prata no Pan-americano de Mar de Plata-95, na prova dos 200 metros borboleta.

Esporte Ágil - Você afirmou que a natação ajudou você a superar uma doença quando criança, mas depois você acabou se lesionando no ombro quando adolescente. Como relacionar esporte de alto rendimento e saúde?
André Teixeira -
É bem difícil essa relação entre esporte de alto nível e saúde. A maioria dos melhores atletas convive com alguma dor. Aos 13 anos, fiz minha primeira infiltração para competir, que se seguiram até meus 19 anos, em Atlanta. O que tento fazer hoje como treinador, desde o tempo do Flamengo, é segurar os atletas em seus treinamentos, mesmo aqueles com muito potencial, mas trabalhar mais a sua parte técnica, para que eles não passem o que eu passei. O Brasil é um grande celeiro de atletas, mas falta um acompanhamento multi-disciplinar, com fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas e outros, sendo que acaba o técnico fazendo todas estas funções.
Então, alguns técnicos que querem resultados rápidos, transformam crianças em adultos e miniatura, submetendo-os a cargas pesadas de treino, às vezes até mais do que elas podem suportar; algumas vezes, isso acontece até por pressão dos pais, que também querem resultados imediatos.
Eu tento passar em minhas palestras, para pais, técnicos e atletas, ou enquanto fui comentarista em um programa de televisão, sobre a urgência de uma nova consciência de preservação dos atletas.

Esporte Ágil - Qual a sensação de disputar uma Olimpíada?
André Teixeira -
Foi a realização de um sonho de garoto. Quando tinha 10 anos, em 1984, vi o Ricardo Prado conquistar a prata olímpica e disse para minha mãe sobre este meu sonho. Meu "paitrocínio" durou muito tempo, devo minha vida de atleta e resultados aos meus pais, que chegaram a vender bens para minhas viagens de competição.
A Olimpíada foi um dos ápices da minha vida. Mesmo com a lesão no ombro, consegui o índice olímpico. Eu achei que não conseguiria, estava cansado, e falei isso para minha mãe. Foi quando apostamos: se eu conseguisse o índice para a Olimpíada, ela pararia de fumar. E consegui! Fui o único na ocasião a conseguir o índice em terras brasileiras.
Minha mãe chorou de emoção, foi muito marcante em nossas vidas. Ela jogou carteiras de cigarros de todo o mundo e isqueiros no lixo, na minha presença.
Já em 1996, não esperava conseguir o índice, pois deixei de nadar borboleta por causa da lesão e comecei a nadar estilo livre. Na ocasião, consegui vaga na prova dos 4x200 livre e fui como reserva no 4x100 livre. Depois de Atlanta-96, parei de competir.

Esporte Ágil -Como você enxerga a natação sul-mato-grossense atualmente?
André Teixeira -
No país todo, tem que haver mudanças. Existe uma cultura de revelar atletas de alto-rendimento muito novos, com cargas de treinamento muito grandes, então os atletas param de nadar precocemente também. Um caso conhecido é a Ana Carolina Muniz, que era uma grande revelação da natação estadual e nacional e que perdeu a chance de ser olímpica devido ao nível de treinamentos impostos a ela. Espero que um dia, isso mude.
Espero que haja mais procura de patrocinadores, seja da iniciativa pública ou privada, pois temos muitos talentos em Mato Grosso do Sul.
O Estado tem característica étnica multi-racial, que favorece todos os esportes. Espero que em todo o Brasil existam também programas e realização de simpósios, para troca de experiências entre treinadores e atletas, sobre esta ciência: a "ciência do esporte".

Esporte Ágil -No último Troféu Brasil, vimos novos nomes quebrando recordes brasileiros e sul-americanos. Podemos esperar uma boa participação brasileira no Pan 2007?
André Teixeira -
Creio que teremos uma representação ainda melhor neste Pan do que nos outros. Os atletas estão bem, evoluindo; porém tenho que dizer que isto é muito graças aos atletas e técnicos e pais. O COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e o Governo Federal pouco faz. O esporte brasileiro alcança resultados expressivos por causa daqueles que fazem "das tripas coração" para chegar ao topo.
Um ótimo exemplo de organização e empenho é a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), que trabalha na base, com seriedade. O difícil não é chegar ao topo (é difícil também), mas o mais difícil é permanecer no topo.
Existem muitos aproveitadores no esporte, sendo alguns até presidentes de Confederações e federações esportivas. Pessoas que estão no esporte "por acaso".
É preciso que haja seriedade e maior controle para que o atleta receba mesmo aquilo que vem para ele. Até chega alguma coisa, mas muito disso fica com os "atravessadores" e alguns atletas ficam "a ver navios".
Quando o atleta vence, os patrocinadores o cercam rapidamente. Isto é uma hipocrisia que ainda existe no esporte brasileiro.
O Brasil tem que aprender também como lição que aqueles que não tem sucesso em suas confederações e federações tem que ser mudados e dar lugar para os que queiram contribuir verdadeiramente com o esporte.

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