Bate-Bola | Osvaldo Sato / Da Redação | 16/04/2007 16h32

Bate-bola: Aluísio Elias Ferreira Xavier

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Lula Ferreira comanda o basquete brasileiro no Pan Rio-2007 e no Pré-olímpico das Américas. Lula Ferreira comanda o basquete brasileiro no Pan Rio-2007 e no Pré-olímpico das Américas. (Foto: Esporte Ágil / Osvaldo Sato)

Lula Ferreira

O treinador da seleção brasileiras masculina de basquete, Aluísio Elias Ferreira Xavier, 56 anos, ministrou a Clínica de Árbitros Eletrobrás em Campo Grande, de 13 a 15 de abril. O evento foi realizado pela Federação de Basquete de Mato Grosso do Sul (FBMS) e a Universidade Católica Dom Bosco (UCDB).

Em entrevista ao Esporte Ágil, Lula Ferreira falou sobre os objetivos da clínica, sobre as importantes competições que serão disputadas neste anos pela Seleção Brasileira e sobre a importância dos Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro para a conscientização de governantes e sociedade quanto à impotância do planejamento esportivo e de políticas voltadas para o esporte.

Esporte Ágil - Qual a colaboração das Clínicas Eletrobrás para o desenvolvimento do basquete no país?
Lula Ferreira -
A Confederação Brasileira de Basquete e a Eletrobrás, patrocinadora da CBB, entendeu que para colaborar com o desenvolvimento do basquete, a capacitação dos técnicos é fundamental. Como o Brasil é um país continental, obrigar todos os professores a participarem de clinicas apenas nos grandes centros, não ajudariam na busca pelo objetivo e também não alcançaria um bom número de professores. Então, organizamos as Clínicas Eletrobrás, com quatro faixas etárias: de 8 a 11 anos, de doze a dezesseis anos, de dezessete a dezenove anos e adulto. Esta é uma clínica para categoria de 12 a 16, na faixa de iniciação do basquete. Trazemos aos técnicos conceitos de planejamento em basquete, elaboração de exercícios, fundamentos individuais de ataque e defesa, situações de jogo, tática 1x1, 2x2, 3x3; terminamos com sistemas de jogo, ataque e defesa e como uma equipe deve se organizar para atacar e defender. Com estas clínicas sendo realizadas em várias regiões do país, capacitamos os técnicos a desenvolverem um trabalho que tenha uma unidade. As clínicas são programadas de forma progressiva, para que o assunto evolua e o técnico que participe de todas, não receba conhecimentos repetidos, mas agregue sempre novas técnicas e táticas.
O país é muito grande e um estado não possuir sua categoria adulta bem desenvolvida não quer dizer que não seja realizado um bom trabalho de base, tanto que grandes nomes do basquete brasileiros saíram daqui, como o Janjão, o Chuí, o Chico que está jogando as finais do Paulista pelo Assis. O trabalho de base precisa ser preservado em todos os estados; claro que em estados que possuem categorias adultas desenvolvidas, o espelho para a base é maior; para os que não tem, a clinica é ainda mais importante, para manter técnicos informados, atualizados e motivados no trabalho com as crianças.

Esporte Ágil - Qual a expectativa da Seleção Brasileira para as principais competições deste ano?
Lula Ferreira -
O calendário internacional traz para a seleção duas grandes competições. Os Jogos Pan-americanos que serão realizados no Rio de Janeiro, onde o todo o esporte brasileiro está diante de uma grande responsabilidade, pois os Jogos irão servir como um grande exemplo, não só para a população brasileira, que é bastante interessada em esporte, mas também para as autoridades governamentais do país perceberem a importância do planejamento esportivo, de uma política esportiva, que deveria estar inserida no projeto educacional do país. Para isso tornar-se efetivo, os esforços não precisam concentrar-se nas grandes competições. O Brasil teve que concentrar uma soma enorme de dinheiro para capacitar fisicamente o Rio de Janeiro para sediar o Pan. Se uma política de investimentos nas estruturas esportivas tivesse sido feita ao longo do tempo, talvez na proximidade de uma competição como esta, os investimentos em estrutura seriam bem menores. A responsabilidade do esporte brasileiro é mostrar para nossos governantes e para nossa juventude que ele é um grande instrumento educacional. Os grande ídolos de nossa pátria estão nas esferas esportivas. No basquete especialmente, o Brasil precisa ter novamente condições para brigar por um tri-campeonato no Pan (o Brasil foi ouro em Winnipeg-99 e Santo Domingo-2003).
Logo depois do Pan, teremos o Pré-olímpico das Américas, disputado em Las Vegas-EUA, com 10 paises e apenas duas vagas. O sistema de classificação olímpica é muito complexo, onde apenas 12 paises vão para disputa. O Campeonato Mundial,  por exemplo, é jogado por 24 equipes. Nas Olimpíadas, duas vagas estão pré-destinadas, uma para o país sede (China) e outra para o campeão mundial (Espanha). Destas 10 vagas restantes, duas serão definidas na seletiva do continente americano, duas na Europa, uma na Oceania, uma na Ásia, e uma na África. Depois desse Pré-olímpico das Américas, se o Brasil não se classificar em primeiro ou segundo, deve ficar entre a terceira e quinta posição, para disputar posteriormente o Pré-olímpico Mundial (uma espécie de repescagem), onde se classificam três seleções, em um disputa com três paises da América, quatro da Europa, duas da Ásia, duas da África e uma da Oceania.
Independente de a Seleção Brasileira jogar bem ou mal, o caminho olímpico é realmente muito difícil.

Esporte Ágil - Os Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro é uma oportunidade para fortalecer o basquete e até criar novos ídolos, que parecem estar escassos no basquete brasileiro?
Lula Ferreira -
O Brasil não é carente de ídolos, mas na atualidade, infelizmente pela globalização, os grandes ídolos não jogam no próprio basquete brasileiro. Essa mesma globalização nos coloca diante de jogos de futebol - vamos falar do futebol como exemplo - dos campeonatos alemão, inglês, espanhol, italiano, fato que anos atrás não ocupavam páginas nos jornais nem espaço na tv, e a mídia de internet engatinhava. Hoje temos uma mídia global muito forte, mas grande espaço dela é destinada a campeonatos do mais alto nível, que nada tem a ver conosco. No basquete não é diferente, onde temos ainda a NBA (Liga de Basquete Profissional dos EUA), que não existe nada parecido em outra modalidade, com a potência de liga de um país reunindo praticamente todos os melhores jogadores do mundo. A NBA, por um lado, valoriza a modalidade, mas apenas o basquete internacional, de milhões de dólares. O basquete brasileiro vive a realidade do país, o Brasil não é um país de milhões de dólares. Então, deveríamos adaptar tudo à nossa realidade. Por outro lado, é uma oportunidade das autoridades colocarem em prática uma política esportiva, pois está inserida em uma política educacional, para dar essa educação esportiva a todos os brasileiros. Existem 2% de pessoas com aptidão esportiva (média mundial), mas as outras 98% serão pessoas bem educadas, bem estruturadas, algumas delas poderão gravitar no esporte em outras profissões, como técnicos esportivos, preparação física, fisioterapeuta, médico, jornalista esportivo, enfim, uma série de outras profissões que são da área esportiva e, que se você tiver essa educação esportiva desde criança, irá melhor capacitar essa pessoa. Caso nada disso aconteça, teremos ainda assim, cidadãos saudáveis e com a cabeça muito boa. Essa é a função do esporte. O Pan é uma grande oportunidade, o Pré-olímpico é uma competição muito difícil, e o basquete está caminhando. Ele possui seus ídolos, como o Leandrinho (Phoenix Suns), Anderson Varejão (Cleveland Cavaliers), Marcelinho Machado (Zalgiris Kaunas - Lituânia), Thiago Splitter (TAU Cerâmica - Espanha), mas são jogadores que vivem e jogam fora de nosso país.

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