Bate-Bola | Vitor Yoshihara/Da redação | 08/09/2009 16h22

Bate-bola: Alberto

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Apesar de estar desempregado, jogador descarta, pelo menos no momento, jogar pelo Comercial. Apesar de estar desempregado, jogador descarta, pelo menos no momento, jogar pelo Comercial. (Foto: Fotos: Jeozadaque Garcia/Esporte Ágil)

Alberto

Com mais de 20 clubes na carreira, Alberto Luiz de Souza pode ser considerado um cigano da bola. Já passou por grandes clubes brasileiros, além de ter atuado na França, no México, na Rússia e no Japão. Tudo isso lhe rendeu alguns amigos e histórias. Hoje sem clube e quase um poliglota, Alberto prefere esperar que alguma proposta venha até ele, para não se desvalorizar. Terminar sua carreira no Comercial é uma coisa que não passa pela sua cabeça no momento.

Com 34 anos, o jogador aguarda mais uma chance de mostrar seu futebol, mas não descarta começar outros projetos caso nada venha. Segundo ele, a sorte é um dos principais diferenciais para alguém se tornar jogador de futebol, e proporcionar essa oportunidade para as crianças pode ser um dos caminhos que ele pode seguir. Mas se pintar algum time com estrutura e ambição na Capital...

Esporte Ágil - Como foi o início de sua carreira?
Alberto -
Antes de ir para a França eu joguei no Cense, do professor Dovair, que era no Taveirópolis. Fiz um teste lá e passei, eu, meu irmão e mais dois amigos. Aí fiquei jogando ali e sempre sendo destaque. Era infantil, disputava campeonatos e a gente ganhava tudo. Fui campeão, artilheiro, melhor jogador, revelação, ganhava tudo. O Comercial se interessou, e o Mauro, que era treinador na época, me procurou e perguntou se eu não queria ir para o colorado. Eu me apaguei ao clube, mas ele falou que eu não disputaria campeonatos aqui, só fora, que eu tinha mais chance de aparecer, que seria mais interessante. Antes até do Cense, eu já tinha ido disputar a Copa São Carlos pelo Clube de Oficiais de PM, e lá eu recebi uma convocação para a seleção brasileira de base. Aí o sonho começou a amadurecer. Acabei aceitando a proposta do Comercial. Um dia, quando estava fazendo um treino pelo colorado, fui visto por um empresário de São Paulo, que morou muitos anos no México, o finado Carlito Peters, que foi meu empresário desde então. Ele comprou meu passe, não sei como, não sei nem de valores. Ele passou a me dar uma ajuda de custo e me disse para eu me preparar que em breve eu estaria saindo, que pintaria alguma coisa. Dentre as propostas, eu acabei indo para Penápolis, que era a cidade de onde era natural o seu Carlito. Nesse clube lá ele era presidente, e tinha como manter meu clube preso. Era juvenil na época, fiquei treinando lá e dali ele me levou direto para a França, para o Nimes Olympique. O sonho foi se tornando cada vez mais realidade, de se tornar um jogador profissional. Fiquei um ano lá, gostaria de ter ficado mais tempo. Fui com um rapaz aqui de Campo Grande, como contrapeso, e como ele não quis ficar acabamos voltando. Depois disso fui para o Ituano, disputar a categoria juvenil. Tinha 18 anos e no primeiro campeonato juvenil a gente já foi bem. Lá comecei a subir de categorias, treinava até com os profissionais. Pensando talvez no meu bem, para eu ganhar um pouco mais, eu fui para o La Piedad, do México. Lá eu ganhei um dinheiro de verdade, pois até então não tinha ganhado nada. Consegui até comprar meu primeiro carro, um Escort, zero quilômetro. Fui eu e o Batata, que jogou no Corinthians. O presidente do clube era o dono da concessionária, e a gente achou que íamos ter mais facilidade. Não foi bem assim. Acabou que ele não pagou a gente durante quatro meses e tivemos que vender o carro para voltar. Fui então para o Ituano e comecei a disputar um campeonato junior. Logo subi para o profissional, mas mesmo assim disputei um torneio paulista de juniores, pois tinha idade. Fomos campeões e meu empresário disse que estava montando um catado de jogadores bons no Paulista de Jundiaí, que na época era o Etti Jundiaí. Fui para lá, fiz minha Taça São Paulo. A gente ficou em terceiro lugar no campeonato, eliminando clubes como Palmeiras e Cruzeiro. Daí eu recebi um convite para ir para o Internacional de Porto Alegre. Fiquei um ano e meio, acabei sendo campeão gaúcho. Depois voltei para o México, para o Atlante, da primeira divisão. Fui ainda para um time de outra divisão, que era uma filial do Necaxa. Tudo isso com a ideia de ganhar um pouco mais lá, porque voltando para o Brasil ninguém me conhecia e ia ganhar em termos atuais 500 reais, 200 reais, seja lá o que fosse, e lá não. Você ganhava em dólar, era um pouquinho mais, mas era mais dinheiro. Depois disso voltei e ninguém me conhecia. Tive que começar tudo de novo. Fui pro Paulista, disputei a A-2. Eram jogadores mais velhos, de nome. Eles jogavam e eu acabava ficando no banco, inclusive o Neto estava lá. Comecei a entrar nos jogos, fiz três gols num jogo, além de marcar em outros também. Mesmo indo bem não apareceu nada. Tinha um campeonato, depois do Paulista, para quem não disputa a Série C, que a gente acabou campeão e eu fui artilheiro da competição.

Esporte Ágil - Como surgiu a chance no Palmeiras?
Alberto -
Acabei indo para o Rio Branco de Americana. Lá eu me destaquei num jogo contra o Palmeiras, numa partida que terminou 5 a 2 para a gente. O Luis Felipe Scolari me viu e me levou para lá, isso no ano de 2000. Fiquei um ano no Palmeiras, onde fui campeão da Copa dos Campeões, na qual fiz o segundo gol da final, mas perdemos o título da Mercosul, naquele jogo que estávamos ganhando de 3 a 0. Na Libertadores tinha acabado de chegar no clube e peguei o time ganhando do Corinthians, então cheguei bem. Só que depois perdemos para o Boca Juniors. Como estava no Palmeiras era melhor perder para eles do que para o Corinthians. Do Palmeiras eu fui para o Náutico, já que eles não iam me utilizar e me emprestaram. Eu topei, fui campeão pernambucano, com o Muricy Ramalho como treinador, após 11 anos de jejum, com o Sport ganhando tudo. Lá em Recife os torcedores do Náutico dizem que hexa é luxo, já que o único hexa são eles. O Sport, se ganhasse esse ano, seria hexa. Fomos com uma missão complicada e graças a Deus conseguimos. Era incrível, eu era campeão e ficava desempregado, sem clube, sem perspectiva nenhuma. Voltei para o Rio Branco de Americana, onde fui artilheiro de novo. Em seguida fui para o Santos, onde fui campeão brasileiro e artilheiro do time. Não estava ganhando muito, mas me destaquei. Recebi uma proposta irrecusável de um time russo, o Dínamo de Moscou, já que não ganhava praticamente nada por aqui. Na mesma época recebi uma proposta do São Paulo e conversando com eles me disseram que não tinham como competir com clubes do exterior, que pagam muito. A proposta do São Paulo era interessante, mas não tinha comparação.

Esporte Ágil - Você se arrepende?
Alberto -
Não, jamais. Hoje tudo que eu tenho é graças a essa ida para o Dínamo. Se não fosse isso eu estaria vivendo a mentira do futebol. Acham que jogador ganha bem pra caramba, porque esbanja muito, mas se fizer isso e não guardar, o cara não consegue se manter depois que parar.

Esporte Ágil - E como foi na Rússia? Você teve problemas sérios de saúde...
Alberto -
Fiquei um ano no Dínamo, me adaptando, jogando. Terminamos esse ano em 6º lugar, um fato inédito para eles, que não chegavam uma posição como essa fazia algum tempo. No segundo ano tive um problema quando eu voltei para lá. Inclusive fiquei treinando aqui em Campo Grande, para que quando voltasse para a Rússia eu estivesse muito bem. Esse ano eu queria jogar o ano inteiro, e se tivesse chance de classificatória para a Uefa, eu queria classificar o time. Fiz personal com meu irmão, o Carlos Cléber de Souza. Trabalhei com ele, que me deixou no "ato". Cheguei lá muito forte, muito bem. Estava com dois quilos acima do meu peso, só de massa muscular. Treinei muito aqui, cheguei atropelando todo mundo. Aí eu peguei pneumonia... Fiquei doze dias sem que eles me dissessem o que eu tinha. Eles queriam que eu ficasse internado lá em Moscou, mas como eles erraram muito em descobrir a doença eu voltei para Campo Grande. Inclusive parei em São Paulo antes, me disseram para ficar no Albert Einstein, mas eu disse que não queria. Aqui fui internado no Hospital do Coração, fui operado, me recuperei e fiz um trabalho com o professor Doca. Me recuperei muito bem e voltei para o Dínamo, mas lá tinha mudado de treinador e não estavam me utilizando. Vim embora. Foi quando surgiu o Corinthians. Em três meses machuquei e operei o joelho, na época em que chegaram os argentinos Tevez, Sebá e Mascherano, o Carlos Alberto, quando montaram aquele timaço. Enquanto isso eu estava machucado. O [Daniel] Passarella até perguntou se eu podia voltar, mas não dava, estava com 4 meses de cirurgia, não estava bem ainda. O técnico caiu, ninguém falou mais nada comigo, eu me recuperei e acabei voltando para a Rússia. Fui emprestado para o Rostov e disputei mais um Campeonato Russo. Em 2006 acabou meu contrato e voltei. Fui para o Atlético Mineiro. No meio do ano disputei o Brasileirão pelo Coritiba. Em 2007 fui para o Japão, para o Ventforet Kofu, e em 2008 atuei pelo Barueri. Em 2009 joguei o Campeonato Cearense, pelo Ceará. Como vice e último da na mesma, me mandaram embora. Estou aqui parado agora, esperando alguma coisa, talvez Campeonato Brasileiro, mas minha preferência é ir para fora.

Esporte Ágil - Você passou por muitos clubes na sua carreira. O que você conseguiu com o futebol, tirando a badalação, o dinheiro... Você fez muitos amigos nesse meio?
Alberto -
Por causa de amigos eu faço muitos jogos beneficentes em São Paulo. Todos os jogos na cidade de Santos que o Narciso está envolvido, junto com meu assessor de imprensa, o Walmir Lopes, eles me convidam e eu sempre compareço com o maior prazer. Graças as amizades do futebol. E numa dessas aí, em Barueri recentemente, inclusive estava o Felipe Massa antes do acidente, fui fazer um jogo lá com o Cafú, Juninho Paulista, uma galera boa, e o Amaral, que jogou no Palmeiras, estava lá. Ele está com 37 anos e me disse: "pô Alberto, eu estou sem clube aí, e agora que você vê. Estou precisando dos amigos e cadê eles?". É uma realidade. Nessa hora que você precisa mesmo o pessoal dá uma sumida. Se eu estou desempregado hoje é um pouco isso. O fato de eu estar aqui em Campo Grande já complica um pouco, já que o pessoal não me vê. Outro problema sou eu como produto, mercadoria. Eu me desvalorizo muito batendo na porta dos clubes e pedindo emprego. Como não é o caso, eu prefiro ficar aqui e esperar que os empresários consigam alguma coisa. Eu sei do profissional que eu sou e quando chegar no clube eu vou estar em condições de trabalhar. No momento estou esperando alguma coisa, e espero que apareça em breve.

Esporte Ágil - Você conseguiu juntar algum dinheiro na Rússia. Conseguiu investir ele em alguma coisa?
Alberto -
Na realidade não falei que juntei dinheiro na Rússia (risos), mas consegui ganhar mais dinheiro que nos outros clubes. Eu tive muita sorte. No futebol você depende muito dela. Eu sei que tem craques em toda a cidade do Brasil, que não viraram nada. Sou de uma família de três irmãos. O mais velho é tri-campeão paulista de futsal e três vezes tênis de ouro, que é o Cléber, que hoje é professor de Educação Física e meu personal. O do meio é o Vagner, que é bi-campeão mexicano e aqui ninguém conhece, nunca ouviram falar e nem sabem quem é. O problema de jogar lá às vezes é isso, você fica meio desconhecido. Meu pai jogou no amadorismo pelo Comercial, assim como meu finado avô, que faleceu recentemente. Ainda tem meu tio, o Oberdan, que era goleiro e se destacou aqui no Estado na época dele. Para você ver: viemos de uma família com todo mundo na ativa e o único que ficou conhecido nacionalmente fui eu. Então futebol você tem que ter sorte. Eu tive, porque o empresário que veio aqui, pra você ver como é sorte, queria um centro-avante do profissional, para ele comprar, e ele não gostou. Como ele já estava aqui começou a olhar as categorias de base e levou três, com eu incluído nesse bolo. Eu só fui, e foi ele que me disse isso, porque ele sentou perto do alambrado para assistir de perto, e como eu era ponta-esquerda, passava igual uma "vaca brava" toda hora, aí ele me levou também. Eu sempre confiei muito no meu potencial, e com essa ajuda passei a acreditar mais ainda.

Esporte Ágil - Você recebeu algum tipo de educação em todos esses anos?
Alberto -
Meu ex-empresário me levou para Penápolis, onde fiz o segundo grau de Contabilidade, já pensando em emprego. Antes de eu sair para jogar fora, apareceu para mim um emprego público. Na entrevista o cara perguntou se eu estava disposto a trabalhar e eu falei que sim, mas que estava querendo sair para jogar bola. Ele disse que não dava para me contratar, porque se eu ficasse pouco tempo não era o que eles estavam buscando. Então na entrevista eu quebrei com a conversa (risos). Cheguei em casa e contei para meu pai. Ele queria me matar. Não aconteceu o emprego, mas aconteceu o futebol. O seu Carlito, em Penápolis, bancou todos os meus estudos em escola particular. Fiz contabilidade, por vontade do meu pai, mas não era muito a minha, queria ter feito outro. Fiz o segundo grau ainda, mas depois disso já não estudei mais porque não dava. Tenho mais de vinte clubes na carreira, então era seis meses aqui, seis meses lá, seis meses no outro, um ano ali... Então não dava para estudar. Fiz um curso de francês quando estive lá na França. Espanhol eu falo bem pra caramba, graças à Deus, porque estive por duas vezes no às viagens que fazíamos para o exterior. Não terminei, mas me ajuda bastante, é onde você se vira. Falo russo. Só o japonês que não deu mesmo, porque fiquei um ano só. Acho que demora uns cinco anos para falar o mínimo por lá. Nossa carreira de jogador de futebol é diferente. Você tem que fazer o possível para ganhar dinheiro para depois trabalhar em outra coisa. O cara que opta por estudar, se forma, faz pós, mestrado, doutorado... Ele começa a fazer a carreira dele numa idade diferente da minha. Eu estou com 34 e a minha acabou praticamente, então vou começar outros projetos agora. É hora de ver direitinho o que vou fazer, que caminho vou tomar, para não errar. Mas faculdade não vou fazer, acho que não vai me ajudar muito.

Esporte Ágil - Você pensa em jogar por quanto tempo ainda?
Alberto -
Depende. Se tiverem me pagando que nem pagaram o Romário para ele voltar eu estou jogando (risos). Eu tenho amigos com 39 anos que estão atuando. Só que no meu caso eu pretendo ser bem remunerado para jogar. Se eu receber uma proposta para um lugar que eu não considere uma boa eu não vou. Estou com uma filha pequena, com casamento recente. Eu não parava em Campo Grande, mesmo com uma casa pronta faz algum tempo, e só agora que eu vim morar. É complicado. Se for uma coisa boa, que valha a pena, eu encaro mais essa. E outra, outra, quantas vierem. Se der para a levar a família melhor ainda. Se não pintar nada também eu estou engatilhando outros projetos e vou ver o que eu faço.

Esporte Ágil - Encerrar a carreira pelo Comercial é um desses projetos?
Alberto -
No momento não. É o que eu disse: valendo a pena a gente vai pensar, inclusive porque vou estar morando aqui e minha família vai estar instalada. Mas se for para jogar e não estar feliz não adianta. Tem que estar contente, com ambição, buscando alguma coisa. Encerrar por encerrar acho que não é o caso. Fiz um jogo agora pelo Comercial, justamente porque gosto do time, da cidade e do Estado. A gente tenta fazer alguma coisa para representar nosso futebol. Inclusive todos os eventos que me convidam para vestir a camisa do colorado eu faço com o maior prazer, mesmo com o risco de me machucar. Eu faço porque gostaria de viver e de ver acontecer ainda o que acontece em muitos estados. Ver o estádio cheio, as pessoas torcerem com orgulho pelo seu time.

Esporte Ágil - Por que você acha que isso não acontece?
Alberto - Eu estou chegando agora e não sei muito bem ainda. Mas acho que principalmente pela falta de incentivo. As empresas hoje que tem projetos inteligentes investem em futebol, e tem empresas aqui que querem investir. Acho que é questão de detalhe. Deve ser uma desorganização ou alguma coisa desse tipo.

Esporte Ágil - Você falou de seus familiares, que todos jogam ou jogaram futebol. Quem é o mais craque?
Alberto - Hierarquia (risos). Meu avô, depois meu pai, meu irmão mais velho, o do meio e depois eu.

Esporte Ágil - Como você avalia essa explosão de jogadores sul-mato-grossenses, como Lucas, Keirrison, Jean...
Alberto - É aquele negócio que eu disse: cada cidade tem um craque. Você precisa saber lapidar esse cara, ele tem que querer, além de ter sorte. Todos que você citou são jogadores que de uma maneira ou de outra deram sorte. Saíram de nosso Estado, de um futebol falido, e de alguma maneira foram parar em outro clube. O próprio Lucas, que saiu e foi se destacar no Grêmio, mas poderia ter se destacado aqui. Se tivesse aqui, não da dimensão de times como esse, mas termos jogadores que saiam de clubes daqui. Com uma estrutura muito boa, o Goiás é um clube que faz isso.

Esporte Ágil - A estrutura dos clubes pesa?
Alberto -
Com certeza. Veja o porte físico dos jogadores juvenis nossos e os de São Paulo. Desde a minha época, não que eu seja tão velho, a gente ia jogar com cada "sepa", caras gigantes. Eu até falava: "pó, esse cara não tem minha idade nem a pau". Pegamos uma vez um jogo contra o Grêmio e empatamos. Só "cavalos". Pegamos o Vasco e "só cavalos" também. Caras do Rio de Janeiro, toda hora convocados para seleção brasileira... A gente chegava sempre para empatar, que era considerado uma vitória para gente. Nosso time todo era meio desnutrido e os caras tudo forte. Vem alimentação, educação... Infelizmente, coloca um moleque que joga hoje no Estado no microfone para você ver o que ele vai falar... Não vai falar muita coisa legal, muita coisa útil. Já o cara lá tem uma  estrutura, uma educação do próprio clube. Se você fala "nóis fomo" ou "nóis vortemo" eles já corrigem na raiz, enquanto aqui nós não temos nada. Nosso erro aqui no Estado é querer fazer dinheiro em cima do moleque sem dar esturutra para ele. É ganhar antes de investir. Se você investe em alguma coisa você espera retorno. Eu vim aqui uma vez com uns 5 mil reais e vim comprar jogadores em Campo Grande. Doce ilusão. Trezentos mil um jogador que nunca saiu daqui. Eu chegava para comprar e queriam conversar, diziam que fariam por 250... Como que você vai comprar um moleque assim? Eu querendo ajudar o garoto, pois se eu levo ele daqui, como aconteceu comigo ele tem alguma chance. Se os caras tivessem colocado meu preço em 200 mil ninguém levava e eu ficaria aqui jogando o que? Deixaram que eu crescesse.

Esporte Ágil - Você pensa em dar oportunidades para garotos?
Alberto -
Eu tenho muitas amizades, não vou dizer que vou fazer isso, mas se eu entrar nesse meio posso dizer que ajudaria muita gente.

Esporte Ágil - Ser empresário então é algo que passa na sua cabeça?
Alberto -
Qualquer coisa, menos treinador. Não quero mais saber dessa vida de concentrar e viver viajando. Mas sendo no futebol acho interessante.

Esporte Ágil - Que memórias você tem do futebol local?
Alberto -
Nunca cheguei a ver estádio cheio. Acho que vi uma vez "um pessoalzinho a mais", na estreia do Lima. Cheio jamais. Mas aquela coisa: pagavam, acredito eu, um pouco a mais para ele, sendo que ele tinha que resolver sozinho, sem estrutura... Assim não adianta. Se falarem para mim "pô Alberto, vamos disputar o Estadual?" eu vou me queimar. Mesmo encerrando carreira eu vou chegar para ganhar um pouco mais que os outros e sem estrutura... Em São Paulo tem muito clube empresa. Tem um teto salarial, só que o cara tem gosto de jogar lá. Oferecem alimentação, estadia, premiação, material digno... Tudo é organização. Na minha opinião, se você administrar isso bem você consegue ter resultado. Só que desde o Lima para cá é erro em cima de erro. Trouxeram agora o Anderson Lima. Desculpa até se alguém que está lendo participou desse projeto. Deram dinheiro pro cara. Esses dias encontrei ele num jogo lá em Barueri e perguntei para ele como foi lá e me disse que "começaram a errar lá". O cara vem para cá, ganha dinheiro, não dá nada e vai embora. O que vão falar do Estado? O que fica para o Estado?

Esporte Ágil - A imagem do nosso futebol acabou se perdendo?
Alberto -
Experimenta fazer uma viagem para São Paulo e falar que você quer fazer uma parceria. Experimenta para ouvir o que eles vão dizer. Eu acho que eles vão dizer que não. O que você tem para oferecer aqui no Estado? Alguns clubes tem jogadores que eles não utilizam. Mas os atletas se perguntam: "pô, mas eu vou para o Mato Grosso do Sul?". Os caras preferem disputar o Estadual do Paraná. No Ceará é a mesma coisa que aqui. Não queria ir nem a pau, mas o presidente falou comigo e me explicou o projeto, me convenceu. Eles só tem o estádio Castelão. O Centro de Treinamento lá era uma porcaria, mas conseguiram a drenagem. Com pouco dinheiro você também consegue fazer as coisas, só que tem que ser devagar. Tem que ter planejamento. O presidente queria ser campeão estadual esse ano, mas fomos vice. Ceará agora está entre os quatro primeiros da Série B. Se subir vai ser Série A, a cota será maior. Ele está fazendo tudo organizado. Ele conseguiu levar oito jogadores com um pouquinho mais de nome por causa disso. Tive alguns problemas de adaptação, porque lá está melhorando, mas não está bom ainda. Material lá é bom, musculação tem, não tinha antes, reformaram vestiário... É o mínimo do profissionalismo. A sala do presidente é um "buraquinho" que tinha no estádio. Deram uma reformadinha, puseram um ar condicionado e ta indo. Tudo isso é dinheiro, investimento, para se colher depois. O Ceará foi vice este ano, mas se continuar com essa estrutura para o ano que vem é campeão.

Esporte Ágil - Quanto tempo você acha que vai demorar para termos uma estrutura por aqui, para voltarmos a atrair jogadores?
Alberto -
Tem alguns detalhes, coisas complicadas que eu não vou entrar no mérito da questão. Mas tem pessoas, como o patrocinador do Comercial, a Supritec, e outros que querem entrar no projeto, como a Planeta Esportes, que foi o clube que trabalhei agora. Acho que eles entrando a possibilidade é grande desse crescimento ser rápido. Precisamos de ambição, sonhar e pensar grande, mostrando organização. Não adianta patrocinar e o cara não ver resultado. Tem jogo que você perde que você fala "está de parabéns". Por que? Se você está investindo, está vendo que tem uma estrutura, os profissionais são bons, está te dando um retorno positivo, você não precisa ser campeão de nada. Outros clubes vão ver isso e ver que esse é um negócio bacana. Acho que esse é o caminho. Mostrar organização para que esse incentivo seja constante. Uma hora ou outra acontece. Se começarmos agora é bem possível que num curto espaço de tempo nós tenhamos resultados. Senão ficaremos mais 20 ou 30 anos do jeito que está.

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