Bate-Bola | Jeozadaque Garcia/Da redação | 23/12/2010 00h34

Bate-bola: Adir Carneiro

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Na primeira foto, Keirrison (à dir.) com Cene em 2003; na segunda imagem, Adir (ao centro) conquista o Estadual com o Galo em 1989; abaixo, Adir em visita à redação do Esporte Ágil. Na primeira foto, Keirrison (à dir.) com Cene em 2003; na segunda imagem, Adir (ao centro) conquista o Estadual com o Galo em 1989; abaixo, Adir em visita à redação do Esporte Ágil. (Foto: Fotos: W. Kaku e Bruno Lima)

Adir Carneiro

Com mais de 400 gols na carreira, sendo o segundo maior artilheiro da história do Operário Futebol Clube, o mirandense Adir Carneiro, de 48 anos, parece ter passado o ofício de artilheiro ao filho.

Keirrison, atualmente no Santos, surgiu como grande craque, sendo inclusive artilheiro do Campeonato Brasileiro de 2008.

Em visita à redação do site Esporte Ágil, Adir, que atuou por várias equipes e treinou clubes de ponta no Estado, como Comercial e Cene (onde revelou seu filho, além dos jogadores Gilson e Roberson, do Grêmio), falou sobre suas conquistas.

Segundo ele, a saída de Keirrison do Palmeiras foi equivocada. "Eu acho que sim. Eu falo até hoje, não gostei. Contente eu não fiquei, do jeito que ele saiu do Palmeiras. [...] O Keirrison hoje sente essa, vamos dizer, "besteira" que fez saindo do Palmeiras e hoje está pagando."

O ex-atleta falou também sobre a situação atual do futebol no Estado e sobre seu clube do coração, o Operário, comentando o atual momento da equipe.

Esporte Ágil - Fale um pouco sobre seu começo de carreira aqui no Estado.
Adir Carneiro
- Eu me destaquei com 17 anos em Miranda, minha cidade natal. Depois, saí de lá fui para a Escolinha do Operário, que na época era o clube mais badalado entre os grandes do País, quando foi terceiro colocado no Brasileiro. Aí fiz um bom trabalho no Galo e comecei minha carreira.

EA - Você é o segundo maior artilheiro da história do Operário?
AC
- É, fizeram essa constatação aí. O Lima é o primeiro. O Lima que é um dos maiores atacantes da história de Mato Grosso do Sul, o Pelé do Estado. Jogava muito. Depois que ele foi para o Corinthians eu o substitui e fiz muitos gols. O pessoal fez essa pesquisa e chegou nessa marca. Fiquei contente, pois fiz muitos gols e não me preocupava em marcar. O pessoal do interior até brincava quando o Operário ia jogar: 'Não faz muito gol aqui'. Com humildade, eu sempre respeitei os adversários, e em qualquer lugar o objetivo era sempre o gol.

EA - Quais suas principais lembranças quando jogava aqui no Estado?
AC
- A principal lembrança é a torcida, pois tinha bastante gente no estádio, o pessoal prestigiava bastante. Eu acho que a qualidade técnica e a rivalidade eram maiores também. O 'Comerário' atraía bastante gente e mexia com o público campo-grandense. Isso me deixa muito saudosista. Os clássicos, todo Mato Grosso do Sul comentava. Por que isso não acontece mais hoje?

EA - Falando em nível técnico, você acha que hoje os jogadores do Estado não têm o mesmo nível de antes?
AC
- Eu até brinquei com o Keirrison um dia, chegando em Curitiba. Quando analisei o time do Coritiba em 2007, o Keirrison tinha 17 anos, eu falei pra ele: 'Hoje, você é ídolo aqui, mas na minha época você teria dificuldade até pra ficar no banco do Operário'. A gente volta no tempo e vê o quanto Mato Grosso do Sul perdeu em algumas coisas.

EA - Você se sente realizado como jogador?
AC
- Eu me sinto realizado pois joguei em um grande clube, como o Operário. Foi minha formação todinha. Hoje tenho uma moral muito grande no Estado, não por ser pai do Keirrison, mas pela história que eu tive. Sempre fui operariano roxo, todo mundo sabe. Eu digo que Deus tem prolongado ainda mais minha carreira com o Keirrison. Todo mundo comenta o estilo de jogo. Então saiu o Adir, envelheceu, mas o novo Adir está aí. Isso me deixa muito contente.

EA - E você, como operariano 'roxo', como vê essa situação em que se encontra o Operário?
AC
- Me deixa bastante triste. Muitas vezes a gente comentou lá dentro. Eu cheguei até comentar com o presidente, o Tony, pra deixar outras pessoas que tenham condições de tocar uma marca muito grande, que é o Operário. Eu não critico ex-jogador quem entra na justiça contra o clube, mas eu nunca ia entrar contra o Operário, uma instituição que me formou e me mostrou para o Brasil e para o mundo.

EA - E como você avalia a atuação da Federação hoje no Estado?
AC
- Sempre foi dificil de comentar sobre a Federação, desde a época de outros presidentes. Sempre faltou um trabalho que não olhasse para a política, mas que resgatasse o futebol em si. Nós perdemos essa vaga da Copa porque não tem isso. Falta essas pessoas que estão a frente, olharem com carinho para os atletas.

EA - E sobre o Keirrison, você acha que ele se precipitou ao sair do Palmeiras em 2009?
AC
- Eu acho que sim. Eu falo até hoje, não gostei. Contente eu não fiquei, do jeito que ele saiu do Palmeiras. Falei para o empresário dele que não fiquei contente. Até hoje não estou. Nessa saída dele o Luxemburgo acabou perdendo o emprego, e isso não ficou bom para o Keirrison. O Palmeiras estava bem, poderia até ser campeão do Brasileiro. Eu particularmente acho que se ele ficasse o Palmeiras levaria o título. Na semana que o time estava se recuperando, que abriu seis pontos do segundo colocado, ele foi vendido para o Barcelona e abriu aquela crise e isso afetou um pouco o grupo.

EA - Você acha que se ele tivesse permanecido no Palmeiras, ele teria ido para a Copa da África?
AC
- Entre ele e Grafite? Vamos falar a verdade, com todo respeito, mas o Grafite? Keirrison tinha sido artilheiro do Brasil com 41 gols e artilheiro do Brasileiro. O Keirrison hoje sente essa, vamos dizer, "besteira" que fez saindo do Palmeiras e hoje está pagando. Hoje não recupera assim. Foi pro Benfica e lá foi difícil, pois estava o Cardozo, que tem empresário internacional. Lá funciona assim. Até na capa de jornal, é o empresário que coloca. Isso me deixou bastante triste, pois não podia fazer nada. No Barcelona eu falei que ele não ia jogar, pois o Barcelona compra e empresta. Você não veste a camisa do clube se não mostrar serviço e se destacar como jogador de propriedade do Barcelona. 

EA - Ele tem chances de ir pra Copa em 2014?
AC
- Ele está descansando agora, tratando de uma tendinite, mas tem tudo para ir. Em janeiro agora tem o Campeonato Paulista e o Santos aposta muito nele. Vamos ver esse ano de 2011, se o Keirrison voltar ao que era. O Mano [Menezes, técnico da Seleção Brasileira] até deu uma entrevista, dizendo que está contando com ele. É só ele recuperar e voltar a fazer gols que ele vai estar na Seleção.

EA - Como é sua relação hoje com o Keirrison?
AC
- Eu sempre deixei o Keirrison bem à vontade. Todo mundo sabe, no Cene, que desde a base eu não era pai de ninguém, era professor. Acho que ele só conseguiu o que tem hoje por isso, pois não tinha proteção por ser meu filho. Dei toda a liberdade para ele tomar decisões. Não adianta ser muito "paizão". Ele vai errar, acertar e não vai sempre contar com o pai. Tem que dar liberdade para crescer na vida da maneira dele.

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