“Desde que me entendo por gente era a criança mais apaixonada pela bike no bairro”, lembra Weslen da Silva Oliveira, mais conhecido como *Pato*, nascido em Patos de Minas em 23 de fevereiro de 1988. Ainda na infância, o contato com a bicicleta já não se limitava a lazer: era competição improvisada entre amigos, brincadeiras de corrida e aventuras que anunciavam o futuro no esporte.
A primeira oportunidade de competir veio em 2004, quando recebeu do pai uma Caloi de alumínio como recompensa pelo bom desempenho na escola. “No mesmo instante já modifiquei ela e parti para a primeira corrida de MTB. Venci na estreante e não parei mais.” O resultado inicial abriu caminho para o ingresso nas categorias de base no ano seguinte, em provas como a lendária Copa Ametur, atual CIMTB.
O ambiente despertava curiosidade no jovem atleta, que buscava aprender com referências do ciclismo brasileiro. “Eu sempre estava cheretando estes atletas, querendo informações, dicas de como treinar, de como se alimentar. Antigamente era muito difícil ter informações corretas. Dali já tinha em mente tudo que eu queria na vida: ser atleta profissional do MTB.”
As dificuldades de patrocínio no mountain bike levaram Weslen a conhecer o ciclismo de estrada. “Primeiros contatos já gostei. Primeira competição, já me apaixonei e comecei a sonhar com o ciclismo de estrada. Conhecia a existência do Tour de France, aquilo era mágico.”
Em 2008, surgiu a chance de participar de uma peneira na maior escola de ciclismo do país, comandada por Renato “Bukão”. “Ele me deu a oportunidade de ficar na escola. Primeiro ano já foi mágico: Volta de Santa Catarina, até Volta de São Paulo pude competir. Ganhei o Campeonato Paulista de Montanha sub-23. Daí em diante o Bukão me lapidou para a vida no ciclismo.”
A partir dali, a carreira se consolidou em equipes tradicionais como Peels Iracemápolis, Campinas, Rio Claro e Osasco. “Pude competir ao lado dos meus ídolos e aprender mais ainda.”
Foram anos intensos, marcados por dedicação e obstáculos. “Quedas, lesões, pressões. Não é fácil viver do esporte no Brasil. A dificuldade financeira muitas vezes gritava alto, mas o amor pelo esporte gritava mais alto ainda. Vinha força e superação do impossível.”
Entre tantas competições, algumas ficaram guardadas. A mais simbólica foi a Volta Ciclística de São Paulo, também conhecida como Tour do Brasil. “Este era o sonho de qualquer ciclista. A maior volta do Brasil, uma semana na TV, nos jornais. Tive oportunidade de competir seis voltas. Nunca subi no pódio, minha função era gregário, trabalhar para o líder, mas era mágico.”
Ele também destaca conquistas individuais, como na Clássica Internacional ABCD e a vitória na Clássica Arnesio Argenton. “Foi incrível. Ficou marcado em mim.”
Nem tudo, porém, foi feito de glórias. As histórias curiosas fazem parte da lembrança. “Uma vez cedi minhas rodas ao meu líder depois de furo duplo, esperei meu apoio e ele não me viu. Carros de apoio também não. Fiquei na beira da estrada no Tour do Rio, até que fui socorrido por uns argentinos que estavam de sobra. Isso foi engraçado.”
Hoje, Weslen vive outra relação com o ciclismo: é mecânico de bicicletas. Mas, segundo ele, a experiência como atleta ajuda diretamente no trabalho. “Sem a menor dúvida, a experiência que carrego comigo das competições trago para o trabalho. Consigo entender melhor, preparar muito melhor uma bike porque conheço a realidade dentro de competições, treinos, passeios e mobilidade urbana.”
A visão prática faz com que enxergue problemas comuns. “Hoje, os erros mais comuns nas bikes são a falta de manutenção básica. Os equipamentos têm vida útil mais curta, não adianta comprar o mais top, ele vai precisar de cuidados e manutenção ainda.” Para ele, o que mais torna uma bicicleta eficiente é a combinação de um bom quadro e boas rodas. “Tendo isso, você terá eficiência grandiosa.”
O ex-atleta acompanha de perto as mudanças no esporte. “O ciclismo de estrada no Brasil esteve na UTI, quase morto uns bons anos. Mas com a chegada das redes sociais e pessoas que amam este esporte trabalhando muito, ele está renascendo. Este ano teremos até retorno da Volta de São Paulo. Para mim, este feito marca o renascimento do ciclismo de estrada. Nunca se teve tantas pessoas pedalando e competindo como neste momento.”
Aos jovens, ele deixa uma recomendação: “Treinar muito e ter bom treinador. Hoje isso muda muito. E optar pelo ciclismo de estrada. O MTB é um mundo pequeno para se profissionalizar, o ciclismo de estrada é enorme, sempre vai ter mais portas abertas.”
O presente e o futuro
Mesmo fora do alto rendimento, Weslen não abandonou a bicicleta. Atualmente, segue competindo como master, sob orientação do técnico Marcos Novelo. “Ele me abriu um novo horizonte. Hoje treino com rotina corretíssima e me preparo para ser um master em nível nacional.”
Outra novidade é a chegada do Gravel, modalidade que mistura estrada e terra. “Pude competir no primeiro evento de estágio no nosso continente, o Brasil Ride. Terminei em segundo lugar atrás de um campeão mundial europeu. Não é nada ruim.”
Dividindo a rotina entre a oficina e os treinos, Weslen segue pedalando no presente, enquanto mantém a bicicleta como fio condutor de sua história. “Este é o mundo que respiro.”