“Acreditem em si mesmo e siga treinando, sempre focado naquilo que você almeja. Bateu a dúvida? Treine mais ainda. E acima de tudo, crie amigos. No ringue somos apenas adversários e não inimigos.” É com esse conselho que Wescley Ossuna Salomão resume a filosofia que o acompanha no muay thai, modalidade que transformou sua vida e hoje guia sua atuação como treinador e árbitro.
Nascido em 18 de março de 1985, em Campo Grande (MS), Wescley teve contato com as artes marciais ainda criança. Aos 10 anos, conheceu a capoeira com o mestre Profeta, do então grupo Mar de Itapuã. “Ali aprendi a amar a arte marcial, mas devido ao tempo e às adversidades da vida, parei com a capoeira”, lembra.
O reencontro com as lutas aconteceu já adulto. “No muay thai eu comecei um pouco tarde para um atleta, se não me engano em torno dos 25 anos”, conta. O primeiro contato foi em uma academia perto de casa, com o treinador Joilson Costelinha, da Equipe CTT. “Todos falavam dele no bairro, então fui fazer uma experimental e nunca mais parei. Me graduei a instrutor em treinamento e, por destino, mudei de equipe. Fui para a Fuzão do treinador Marcos Ramos, fiquei por bons anos até fundar a Team Salomão, mas sempre com a direção e conselhos do Marcos.”
Segundo Wescley, o muay thai foi mais do que um esporte: foi um caminho de transformação pessoal. “O que me motivou e me motiva até hoje a seguir no esporte é a amizade e saber que o muay thai transformou a mim. Brigas, depressão, ansiedade... Tenho certeza que pode mudar muito mais pessoas, cada qual no seu objetivo.”
As conquistas vieram, mesmo começando tarde na carreira. Ele cita duas lutas como as mais marcantes. A primeira, no Campeonato Sul-Americano de 2014, disputado na Argentina. “Na final apareceu outro argentino que não estava na chave e, por coincidência, perdi para ele, dentro da casa dele. Essa lutei pela CTT.” A segunda foi em Campo Grande, no evento Nak Rob, no combate que marcou sua despedida dos ringues. “Foi minha luta de aposentadoria, onde pela primeira vez lutei em Campo Grande e com minhas três filhas me acompanhando. Perdi para um cara que é fenomenal, Gabriel Dalmaso, mas realizei meu sonho de lutar no maior evento de muay thai do Centro-Oeste na época.”
Como treinador, Wescley sempre buscou mais do que formar atletas. “Ser treinador é uma responsabilidade a mais, pois ali você não está somente ensinando o muay thai, mas também transformando vidas, formando cidadão de bem e fazendo cada aluno evoluir no seu tempo, vencendo suas próprias dificuldades e limitações.” Para manter a disciplina, criou uma regra clara: “Os meus atletas, para competir, tinham que apresentar boletim escolar e só aceitava uma nota vermelha. Caso contrário, não lutava.”
Ele explica que a principal mensagem que deseja deixar para os alunos é a importância da amizade. “Meu pai, Sérgio Salomão, uma vez me falou que uma das maiores riquezas de um homem é a amizade verdadeira e isso ficou marcado.”
Hoje aposentado das competições, Wescley se dedica à arbitragem. “Faço parte da escola Haikanen de arbitragem profissional. A escola abriu meus olhos sobre o muay thai, aprendi e aprendo muito em todas as nossas reuniões e treinamentos. Ser árbitro hoje é o que me motiva mais e mais a seguir no muay thai.”
Sobre a experiência internacional, ele recorda a viagem a Buenos Aires para o Sul-Americano. “Foi sensacional, pois conheci a Argentina, conheci outras equipes, outros treinadores. Mas tem o lado negativo, pois não tive apoio algum político e das comissões de esportes aqui do MS. Toda a parte financeira tive que arcar sozinho.”
Wescley também destaca a evolução recente da modalidade no Estado. “Hoje temos a Federação Sul-Mato-Grossense de Muay Thai, que tem mudado isso, trazendo apoio, ajudando atletas com as suas despesas e levando aos maiores eventos nacionais e internacionais.” Ele observa que os resultados comprovam esse crescimento. “O muay thai realmente chegou aqui um pouco antes da pandemia. Resultado disso é a nova safra de atletas que vem despontando no mundo todo. Temos atletas que foram campeões na Tailândia, como Gabriel, Kawan e Tom. Atletas que estão nos tops do Brasil, como Johan, Vini e Marreta. E tantos outros que só dão show nos ringues, como Jafé, Desh, Kris, Luana, Gutierres, Keven, PH, Eric, Cebola, Kaio e tantos outros.”
Para ele, a base desse avanço está no aprendizado direto com a origem da modalidade. “Isso é fruto dos treinadores que voltaram a buscar conhecimento direto da fonte, que é a Tailândia. Muay thai não é bater aparador dando 10 golpes em sequência. Muay thai é cadência, é contundência, é saber a hora exata de golpear.”
O próximo passo de Wescley será promover um evento voltado para a nova geração. “Meu próximo objetivo é fazer um evento de muay thai para crianças e para adolescentes iniciantes e intermediários, que acontecerá dia 15 de novembro, chamado Thai Fight Kids.”