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Voltar ou parar? Célia Machado avalia despedida após 11 anos de competições

da redação - 31 de jul de 2025 às 16:25 75 Views 0 Comentários
Voltar ou parar? Célia Machado avalia despedida após 11 anos de competições Da Redação

Aos 39 anos, Célia de Oliveira Machado já pensa na despedida dos palcos. Com 11 anos de competições no fisiculturismo, a atleta de Campo Grande coleciona conquistas expressivas e uma trajetória marcada por decisões que envolveram, literalmente, o desgaste do próprio corpo. Em entrevista, ela conta como começou, como lida com o esporte e por que acredita que chegou a hora de parar.

 

“Levo o esporte como hobby”, resume. Formada em Administração, ela nunca enxergou o fisiculturismo como uma carreira. Ainda assim, competiu por mais de uma década e alcançou um dos títulos mais desejados por atletas da modalidade: o PROCARD, conquistado no Mundial da WFF. “Era algo inimaginável”, afirma.

 

A preparação para aquela competição foi, segundo ela, a mais desafiadora. “Quase não consumia proteína, não podia treinar inferiores e fazia três a quatro cardios por dia. A categoria aqui no Brasil, até então Wellness, tinha um padrão e fora era outro. Pra conseguir estar competitiva, precisei catabolizar, perder perna e glúteo. Mas graças a Deus deu certo. Fui campeã na minha categoria, subi no PRO e fui vice.”

 

Célia nasceu em 13 de julho de 1986, em Campo Grande, onde ainda vive. Começou no esporte em 2004, incentivada pelo amigo e treinador Washington Cavalcanti. “Foi ele quem enxergou potencial em mim e me incentivou a competir.” Desde então, passou por diferentes fases, acumulou experiências e viu o fisiculturismo crescer ao seu redor — mas nem sempre com o apoio necessário.

 

“Acredito que as dificuldades são as mesmas para todos e muito maiores pra quem almeja o topo e se profissionalizar. A falta de incentivo, patrocínios... infelizmente este esporte não é bem visto por muitos, em especial pelo poder público.” Ainda assim, observa com otimismo o cenário local. “Campo Grande tem inúmeros talentos e vários deles ainda não despontaram. O esporte cresceu muito nos últimos anos, o que alavanca as oportunidades. Ainda estamos gatinhando, mas acredito que chegaremos ao patamar dos grandes centros.”

 

Durante as preparações, sua rotina envolve treinos de segunda a sábado e cardio todos os dias, com domingo como único dia de descanso. A alimentação, curiosamente, se torna mais intensa nesse período. “Em preparação acabo comendo mais, mas menos ou quase nada de besteira. Faço seis refeições. Fora de preparação, três ou quatro, mas sem horário definido.”

 

Mesmo diante de tantas exigências, ela nunca se considerou uma atleta extremamente dedicada — no sentido de abdicar de tudo por um objetivo. “Tá aí algo que nunca fui: dedicada ao extremo. Creio que extremismo não seja benéfico em nenhum tipo de ação ou objetivo. Tendem ao fracasso ou frustração”, opina. Por isso, nunca deixou de lado sua vida pessoal por uma preparação. “Cada um sabe seu limite e até onde vale a pena se abdicar de algo por um objetivo.”

 

Célia também fala com naturalidade sobre os preconceitos enfrentados, sobretudo como mulher negra em um esporte ainda marcado por estigmas. “Enfrento preconceito desde pequena. Mulher, negra, família de baixo poder aquisitivo. De fato nunca liguei muito pro julgamento de quem não me conhece ou não faz diferença na minha vida. Eu me sentindo bem comigo e com meu corpo me basta.”

 

Mais do que físico, o fisiculturismo ajudou a construir sua força mental. “No início pensamos se tratar apenas do físico, mas o esporte ensina muito mais coisas. Aprendemos sobre foco, dedicação, persistência, resiliência. O esporte fortaleceu meu corpo e meu psicológico.”

 

Para quem sonha em entrar no esporte, ela deixa um conselho direto. “Nada de extremismos… rsrs… ser dedicada é diferente de ser bitolada. Seu corpo só vai responder se a sua mente estiver alinhada. E procurar um bom preparador em quem possam confiar de olhos fechados, isso é fundamental.”

 

Ao falar do futuro, Célia não esconde que pensa em parar. “Sinceramente, aposentadoria. Já são 11 anos competindo.” Mas, ao mesmo tempo, há espaço para um possível retorno pontual. “Tenho um carinho enorme pelo meu coach Bruno Coutinho e ele sempre me motiva a retornar. Alcançamos títulos importantes e um dos meus melhores físicos sendo orientada por ele. Me sinto em dívida com ele. Acho que teremos uma despedida, portanto talvez no final deste ano ainda estarei de volta aos palcos.”

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