Campo Grande (MS) - Peneiradas e seletivas para descobertas de novos talentos são práticas comuns na atividade esportiva. Mas como se posicionar diante da "fuga" constante dos melhores representantes para os grandes centros? Um dos exemplos que estão movimentando o cenário sul-mato-grossense e de outras regiões do País é a seletiva da Rede Energia (Enersul), que levará para São Paulo os melhores do atletismo.
No Estado, a Federação de Judô se orgulha por garantir a permanência de seus destaques aqui. Segundo João Rocha - Confederação Brasileira de Judô (CBJ) - a modalidade tem até exportado para outros países, como é o caso do professor sul-mato-grossense, Amadeu Dias de Moura Júnior, que treina a seleção olímpica do México.
A saída dos atletas de seus clubes de origem deixam lacunas, como a falta de investimento no esporte de base. A seletiva da Rede Energia, feita na última semana de junho, foi para 60 vagas no centro de referência, em Bragança Paulista (SP). O projeto tem como objetivo conseguir, pelo menos, duas medalhas de ouro para o atletismo nas Olimpíadas de 2012, em Londres, na Inglaterra.
De Mato Grosso do Sul participaram 27 atletas, que competiram com cerca de 300 atletas do País (com idades entre 14 e 17 anos) a oportunidade de patrocínio garantido pelo próximos 3 anos. Os vencedores se mudam em agosto para São Paulo, onde treinarão com atletas como Maurrem Maggi, medalha de ouro no salto em distância, nos jogos de Pequim/2008.
O vereador e esportista João Rocha defende que as empresas deixem também um legado para o Estado. Ele cita como uma necessidade se estabelecer parcerias entre as empresas que fazem estas peneiradas e o poder público, por exemplo, para criar a infra-estrutura aqui também.
Como vice-presidente da CBJ ele sabe o quanto é interessante o treinamento visando conquistas olímpicas, mas, por outro lado, como representante municipal vê a importância de se investir no esporte local. Ampliando-se a base, explica João Rocha, as possibilidades de desenvolver um atleta de elite também se multiplicam.
Tirando a nata do nosso leite - "Poderíamos revelar um monte de Moisés", fala o professor Antônio de Souza Pietramale, do CTA de Dourados (Centro de Treinamento de Atletismo). A afirmação do professor é para o caso das empresas investirem na estrutura e não só levar os atletas-destaques. Na seletiva da Rede Energia, o atleta Moisés Maldonado Filho, que treina com Pietramale desde os dez anos, foi um dos selecionados. Maldonado retorna ao Estado para competir nos Jogos Escolares, em Campo Grande.
Mesmo orgulhoso se ter um atleta seu entre os melhores do Brasil, o professor afirma que "criança de 14 anos não pode sair do lado do pai e da mãe". Comparando os atletas com 'pérolas', ele lembra que a Rede Energia ficou de contribuir com as crianças que continuam treinando em Dourados, mas por enquanto está só na "promessa".
Em Ponta Porã, o profº Ageu de Oliveira Pereira, explica que desde outubro de 2008 o município vinha colaborando nas seletivas. Mas a partir do mês de junho deste ano, os representantes não quiseram mais falar com os técnicos, dando retorno de quais atletas foram chamados para as seletivas. Segundo ele, é muito bom que se descubra talentos em nível nacional, porém, é preciso garantir apoio de trabalho com os que ficam.
Ageu treina 60 adolescentes de 11 a 17 anos, da Escola Municipal de Atletismo e da EE Fernando de Oliveira, e até hoje não tem uma pista de atletismo, os treinos acontecem em uma adaptação que eles mesmos prepararam. "Faltam sapatilhas, dardos, discos, intercâmbio", diz o treinador.