Bruna Ramos de Ameida é professora de Yoga, praticante de jiu-jitsu e parceira de Luan Pimentel, atleta e professor de judô e jiu-jitsu. Sua rotina intensa combina aulas, treinos e uma filosofia de vida baseada no equilíbrio entre mente, corpo e instinto. A história dela exemplifica como a união entre práticas tão distintas à primeira vista pode fortalecer não só o corpo, mas principalmente a mente.
Bruna, de 32 anos, não esconde que o jiu-jitsu a transformou. Mais do que uma arte marcial, a prática revelou nela uma força interna que estava adormecida. “O jiu-jítsu é uma prática que não é nada confortável, somos colocados sobre pressão constantemente, em zonas de desconforto várias vezes. E isso me mostrou que o corpo tem em si uma força que a gente desconhece. Uma força que vem de dentro, de um lugar pouco visitado por nós hoje em dia: nossos instintos.”
É justamente essa sabedoria física e mental que ela leva para suas aulas de Yoga. A proposta não é oferecer apenas relaxamento e flexibilidade, mas também provocar o corpo e a mente com desafios que despertam a capacidade de enfrentar o medo e fortalecer a autoconfiança. “Na minha aula, as primeiras sequências de asanas incluem as posturas de guerreiro, chamadas de Virabhadrasana. São elas que despertam no corpo o instinto de luta. O corpo terá de encontrar a sua força para se manter firme e completar a sequência.”
Ao se colocar em situações controladas de risco no tatame, como em finalizações e chaves de braço, Bruna aprendeu a lidar com a ansiedade de uma maneira única. Para ela, essa resposta do corpo é natural e, quando canalizada corretamente, pode ser uma aliada. “O corpo está biologicamente programado para produzir exatamente os hormônios que causam a ansiedade. E é para lutar ou correr que a ansiedade existe, para sobreviver. A ansiedade é aplicada da forma correta quando é usada em uma luta.”
Esse aprendizado, ela diz, é transferido para a sala de aula, onde seus alunos — muitos deles com histórico de ansiedade e depressão — são convidados a experimentar desafios físicos como ferramenta de fortalecimento mental. “Mesmo que o aluno não complete o desafio, o simples fato de arriscar tentar já irá fazer da mente mais forte. A pessoa, repetidas vezes lidando com isso, vai ganhando essa força mental, de confiar mais em si mesma.”
Bruna também enfatiza a importância da prática do jiu-jitsu para mulheres, tanto como forma de defesa pessoal quanto de empoderamento. Ao mesmo tempo, reconhece os obstáculos. “Os maiores desafios enfrentados pelas mulheres que praticam jiu-jítsu são casos de assédio. Eu sou daquelas que sempre fala para as mulheres praticarem jiu-jítsu como defesa pessoal. Mas também sempre indico academias que conheço e que fazem um trabalho sério.”
Hoje, a professora distribui seus treinos entre musculação, jiu-jitsu, Yoga (como aluna) e dança do ventre. Ela dá aulas de Yoga quase todos os dias da semana, e organiza seus treinos de forma que o corpo consiga se recuperar. “Para minha saúde física, além dos treinos, é fazer o básico com constância e não ser radical — não ter excessos e nem faltas. Isso inclui também descansar o suficiente.”
A vida ao lado de Luan Pimentel também é marcada pela parceria nos treinos e na filosofia. Ele é ao mesmo tempo namorado, professor e aluno. “Nós treinamos juntos sim. Ele me dá aulas de queda, e também de jiu-jítsu. Eu adoro finalizações por chaves de braço. Ele é muito bom nisso, então me ensina várias defesas e ataques. Essas são minhas partes favoritas dos treinos com ele.”
Essa convivência é também uma troca mútua de saberes: “Ele também é meu aluno de Yoga e sempre me dá feedbacks de como a Yoga tem contribuído para a performance dele, e como ele usa algumas posturas em situações de luta. Como professores, alguns dias compartilhamos nossas experiências com nossos alunos. É muito legal essa troca.”
A união das duas práticas, segundo ela, gera benefícios concretos para a performance esportiva. “A Yoga tem várias ferramentas que com certeza ajudam na evolução da performance do judô e do jiu-jítsu. A essência do movimento na Yoga é a respiração. Existem várias técnicas de respiração para diferentes finalidades. Além disso, a consciência corporal gerada pela prática estimula uma resposta motora mais refinada.”
Ela cita como exemplo o livro Respire, de Rickson Gracie, que fala sobre a importância da respiração no combate. Para Bruna, essa conexão entre as práticas amplia não só o desempenho físico, mas também a clareza mental.
Embora o foco principal não seja a competição, ela planeja se testar a cada nova faixa no jiu-jitsu. “Meus objetivos no jiu-jítsu incluem competir uma vez por faixa, apenas pra me testar. Mas competição não é o meu foco. Tenho sim essa vontade de, quando me tornar faixa preta, ser professora de defesa pessoal.”
Na Yoga, seu plano é expandir o alcance do trabalho: “Quero atender no modo on-line, fazer mais cursos de aprimoramento, entre eles me aprofundar na modalidade Budokon Yoga. Estou no momento focada em tornar meu trabalho cada vez melhor.”
Bruna finaliza com uma mensagem que resume sua abordagem de vida: experimentar, se desafiar e confiar na própria força. “Se não for você a sua maior inspiração e motivação, como poderá acreditar que é capaz? Uma opinião baseada em ‘eu acho que não é pra mim’ é uma prisão onde o medo te colocou disfarçado de aconchego. Saia da zona de conforto do ‘eu acho’ e tenha certeza daquilo que é pra você e do que de fato não é. Mas dê a si mesmo a chance de ter certeza. Faça sempre aulas experimentais. Você pode estar perdendo de viver algo extraordinário.”