A professora de educação física Marcela Lima Cunha, nascida em 21 de fevereiro de 1986, em Corumbá (MS), encontrou no voleibol não apenas uma paixão pessoal, mas uma ferramenta de transformação social. Atuando como treinadora escolar e também à frente das equipes da Escolinha do Leomar, ela tem dedicado seus dias à formação de jovens atletas em Mato Grosso do Sul, conciliando ensino técnico, valores humanos e inclusão social.

Marcela iniciou sua trajetória esportiva ainda na escola, participando de competições como JIRES e JERES. Embora tenha praticado outras modalidades, foi no voleibol que encontrou verdadeira identificação. “Desde a infância, sempre manifestei grande apreço pelas atividades físicas. Tive a oportunidade de praticar diversas modalidades, como jazz e futsal, porém foi o voleibol que despertou em mim o maior interesse e identificação.”

Foi somente em 2022, após o período de restrições da pandemia, que ela iniciou efetivamente sua atuação como treinadora escolar. Aprovada em um processo seletivo da Deac/Semed, Marcela viu ali a oportunidade de unir formação acadêmica, vocação e propósito social.

Atualmente, ela coordena os treinos das equipes masculinas sub-15, sub-17 e sub-19 da Escolinha do Leomar, além dos treinamentos escolares. Com uma rotina organizada e progressiva, ela busca respeitar o desenvolvimento físico, técnico e tático de cada faixa etária. “Cada sessão é composta por aquecimento, parte técnica, parte tática, jogo aplicado e volta à calma, com duração de 1h30min.” O foco vai desde o domínio dos fundamentos básicos no sub-15 até a simulação de jogos reais no sub-19. Para atender diferentes níveis de habilidade, Marcela utiliza estratégias como divisão por grupos técnicos, adaptação de exercícios e feedbacks individualizados.

O cotidiano de trabalho, no entanto, não está isento de obstáculos. A realidade do esporte escolar público impõe limitações materiais e sociais. “Muitos alunos não possuem condições financeiras para adquirir os itens básicos e necessários para a prática segura e adequada das modalidades, como tênis apropriado, joelheiras e shorts esportivos.” A falta de materiais e o número elevado de alunos por turma na escola pública exigem criatividade e sensibilidade. Ainda assim, a professora reforça que o papel do educador é encontrar meios para garantir inclusão e participação. “É necessário criatividade, planejamento e sensibilidade para adaptar as atividades, promover a inclusão e garantir que todos tenham a oportunidade de participar de forma igualitária.”

Mesmo diante dessas adversidades, Marcela acredita que o esporte pode transformar realidades. “A prática esportiva desenvolve valores como disciplina, respeito, cooperação, responsabilidade e superação, que são levados para além das quadras.” Para ela, o esporte representa, especialmente para os jovens em vulnerabilidade social, uma chance concreta de pertencimento e de construção de um projeto de vida mais positivo.

A construção de valores é uma das principais metas de seu trabalho. “Procuro transmitir valores que contribuam para a formação dos alunos como pessoas e não apenas como atletas.” Dentro e fora de quadra, ela estimula o espírito de equipe, o respeito mútuo, a disciplina e a responsabilidade.

Apesar do esforço individual dos educadores e atletas, Marcela ressalta que o desenvolvimento do voleibol escolar em Mato Grosso do Sul ainda carece de visibilidade e apoio institucional. “É preciso investir em mais competições, tanto locais quanto regionais, que motivem os atletas e deem destaque aos talentos.”

Outro ponto fundamental é o equilíbrio entre o rendimento esportivo e a formação humana. A treinadora evita focar apenas em resultados e prioriza a evolução pessoal de cada estudante-atleta. “Uso metas realistas e feedback construtivo, sempre incentivando respeito, disciplina e trabalho em equipe. Assim, o treino vira um espaço que promove tanto o desenvolvimento técnico quanto a formação humana.”

Entre as conquistas marcantes da sua trajetória recente está a participação da equipe masculina na Copa Pantanal 2025, onde os três times sob sua coordenação — sub-15, sub-17 e sub-19 — avançaram à fase estadual. “Essa conquista foi marcante não apenas pelos bons resultados, mas pelo crescimento técnico, emocional e coletivo dos atletas. Muitos evoluíram dentro e fora da quadra, mostrando superação, comprometimento e união.”

Para que esse trabalho seja possível, o apoio da comunidade escolar e das famílias é essencial. “A escola oferece apoio com espaço físico, materiais e incentivo à participação dos alunos, valorizando o esporte como parte da formação educacional. Já os pais contribuem estando presentes nos treinos e jogos, ajudando no transporte e, principalmente, oferecendo apoio emocional aos atletas.”

A dedicação de Marcela não se limita às quadras. Ela investe em sua formação profissional com o objetivo de ampliar horizontes e alcançar novos patamares. “Já concluí uma pós-graduação em voleibol, fiz o Curso de Treinadores Nível II da CBV e, este ano, pretendo realizar o Nível III.” Seu maior objetivo é chegar ao Campeonato Brasileiro de Seleções, representando sua equipe em nível nacional.

Mais do que títulos ou reconhecimento, o que move Marcela Lima Cunha é a possibilidade de fazer a diferença por meio da educação e do esporte. “Quero formar não apenas atletas, mas pessoas melhores, com valores como respeito, disciplina e união.”