Quarta-feira, 16 de julho de 2025, 04:05

Transformar vidas pelo tatame: Judô Cano mantém tradição e propósito em Dourados

da redação - 1 de jul de 2025 às 14:33 44 Views 0 Comentários
Transformar vidas pelo tatame: Judô Cano mantém tradição e propósito em Dourados Da Redação

“Formando cidadãos dentro e fora do tatame.” O lema, repetido como um compromisso por Alexandre Cano, não é apenas uma frase de efeito. É o centro de tudo o que move a Associação Cano de Judô, em Dourados, que em 2025 completa mais de três décadas de história, esforço e formação.

O projeto começou em 1993, quando Alexandre assumiu o judô na antiga academia Stilus, em Dourados. “Depois de lá, em 1996, nós fomos para o Samambaia Clube, que ficava do lado da Escola SEI, hoje ele não existe mais”, lembra. A trajetória seguiu até 2012 neste espaço. A partir dali, a Associação ganhou casa própria: “Começamos no nosso salão próprio, que hoje está no Parque Alvorada. Já temos um segundo dojô, que é no Izidro Pedroso, dentro da Associação do Clube da Polícia Militar.”

O que motivou essa trajetória não foi um plano de negócios ou a busca por reconhecimento, mas um laço de vida com a modalidade. “A motivação de nós abrirmos o Judô Cano foi amor, né? Desde os 5 anos que eu pratico o judô, então hoje eu tenho 50. São 45 anos dedicados ao judô”, conta. “E de ministério dentro do dojô mesmo, desde 1993 até o dia de hoje, e por muitos e muitos anos aí, se Deus quiser.”

A Associação Cano segue a base tradicional do judô japonês, com foco no judô Kodokan, criado por Jigoro Kano. A filosofia do projeto é clara: disciplina e respeito como pilares. “Apoiamos muita competição, temos campeões pan-americanos, sul-americanos, atletas medalhistas, muitos atletas medalhistas nacionais, mas a nossa filosofia principal está baseada no judô japonês, onde a educação vem em primeiro lugar, a formação do caráter. Isso é a nossa meta.”

Atualmente, cerca de 150 alunos integram o projeto, com idades que vão de dois anos até a categoria veterana. São cinco turmas diárias, com treinos de segunda a sexta-feira e encontros específicos para competição aos sábados. O número expressivo exige dedicação e estrutura. “Meninos e meninas, de todas as idades. Trabalhamos com esse quantitativo, divididos por faixa etária e nível técnico.”

Resultados além das medalhas - As conquistas da associação não se resumem ao pódio, embora ele tenha sido visitado inúmeras vezes. “Temos muitas conquistas a nível internacional, pan-americano, sul-americano, participantes de seletiva olímpica, atletas medalharam nacionalmente. É difícil enumerar, porque foram muitos atletas”, relata Cano. Mas o que mais emociona não são os títulos. “A maior conquista nossa é ver, hoje, ex-atletas, pais de famílias, defendendo a bandeira da família, com respeito, formados, alguns médicos, mecânicos, professores, dentistas, psicólogos, empresários…”

É esse impacto duradouro, muitas vezes silencioso, que valida o trabalho de quem vê no esporte uma ferramenta de transformação. “Essa é a maior alegria: ter colaborado na formação dessa criança, desse jovem, para que ele esteja capacitado para desempenhar um papel de pai de família, de ser um grande profissional.”

Apesar da relevância da modalidade, o judô — como outras práticas olímpicas no Brasil — enfrenta dificuldades. “O esporte no Brasil, especialmente o esporte amador, é uma luta diária na busca de patrocínio. Não existe um verdadeiro reconhecimento, apesar de ser a modalidade que traz mais medalhas olímpicas para o nosso país.” Mesmo com pouca estrutura e escassez de apoio governamental, o trabalho segue firme, sustentado por convicção e esforço coletivo.

“Temos uma associação de pais bem definida, com estatuto. Eles ajudam na medida do possível, fazendo rifas, cachorro-quente, pastel, para tentar ajudar as crianças que representam o judô nas competições”, explica. O envolvimento das famílias cresce conforme o aluno avança. “Esses pais são bem próximos, acabam se tornando amigos da gente, conhecendo nosso dia a dia, se comovendo com as dificuldades e tentando, de uma maneira ou outra, nos ajudar.”

A visibilidade do projeto, segundo Alexandre, também vem sendo construída aos poucos. Um dos marcos é a Copa Dourados de Judô, torneio interestadual realizado pela própria associação. A edição de 2025 está marcada para os dias 18 e 19 de julho, no ginásio da UNIGRAN, com presença confirmada de atletas de vários estados.

Judô como inclusão social - O trabalho da Associação Cano de Judô vai além da técnica e do tatame. Atua também como uma rede de acolhimento. “A gente trabalha socialmente. Às vezes os pais, por um motivo ou outro, não conseguem mais pagar a mensalidade. A gente não deixa essa criança se perder. A gente abraça. Faz com que ela continue, se sinta incluída, não excluída.”

Essa prática solidária já impactou milhares de crianças e jovens ao longo dos anos. “Fizemos nosso trabalho, sim, ajudando um pouquinho na educação, no respeito, na disciplina.” O reconhecimento é espontâneo. “O nome Judô Cano hoje, dentro de Dourados, é bem reconhecido. No estado, muito bem reconhecido. A gente fica feliz com o que ouve quando uma família nos procura.”

Futuro - O foco da associação permanece claro: ampliar o alcance do judô como ferramenta de mudança. “Nossos objetivos são continuar trabalhando, fomentando o judô, fazendo com que mais crianças tenham essa oportunidade. Toda vez que uma criança entra no judô, a melhora na escola é muito grande, no comportamento dentro de casa também. A gente fala muito sobre isso e cobra bastante.”

Por fim, Alexandre Cano deixa um convite direto: “Gostaria de convidar todos de Dourados para conhecerem nossa escola de judô, na Rua Eduardo Cersosimo de Souza, 1083, no Parque Alvorada. Façam uma visita, uma aula experimental, e tenham essa maravilhosa oportunidade de conhecer o judô. Quem sabe um dia ser um grande campeão fora dos tatames — e dentro também.”

Comentários

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos com * são obrigatórios.