O primeiro troféu veio logo na segunda prova - mesmo sem muita experiência. Foi ali, quase por acaso, que Gisele Bittencourt Venancio começou a escrever sua história na corrida. Nascida em 25 de outubro de 1986, em Eldorado, ela hoje comanda uma assessoria esportiva em Dourados que atende dezenas de corredores e é especialista em provas de Endurance, como meias e maratonas.
O esporte, no entanto, não foi sua primeira escolha. “Sempre fui muito ativa, gostava de jogar qualquer modalidade na escola, o vôlei era minha paixão. Na época, nem imaginava que a corrida seria meu esporte um dia”, relembra. Durante a adolescência, corria apenas para emagrecer ou “não ficar parada”. A mudança começou após o incentivo de uma amiga, que a convidou para participar de uma prova de rua de 5 quilômetros. “Quebrei porque não tinha a menor noção de ritmo. Embora já conseguisse correr 5k, precisei caminhar, foi engraçado. Mesmo assim, peguei gosto.”
A vitória na categoria logo na segunda participação mostrou que havia ali mais que entusiasmo. Gisele passou a se destacar nas provas da cidade e manteve o ritmo mesmo sem ter começado cedo. “Já era tarde pra uma atleta começar, mas sempre gostei da vibe do esporte e só continuei. Nem pensava em ser uma atleta profissional, as competições foram acontecendo”, conta.
Atualmente, Gisele se define como uma atleta amadora com paixão pela performance. “Tenho a corrida como estilo de vida, não considero como carreira. Sou uma atleta amadora que ama um desafio.” Ela se dedica a provas longas e está em busca da mandala das Six Majors, grupo das seis maiores maratonas do mundo — já concluiu as de Berlim e Londres. “Berlim foi inesquecível. Fiz meu melhor tempo de maratona.”
Além de seguir competindo, Gisele também se dedica à formação de novos corredores por meio da sua assessoria. A trajetória como treinadora começou de forma natural, a partir da demanda espontânea de pessoas interessadas em orientação para começar a correr. “Comecei a estudar corrida quando começou a procura por treinamento. Fui migrando aos poucos e fiz um projeto chamado ‘Meus Primeiros 3K’. Dali nasceu uma nova paixão: ajudar pessoas a alcançarem seus objetivos.”
Mesmo que grande parte dos treinos seja realizada com apoio de planilhas on-line, ela faz questão de manter uma escuta ativa e próxima dos alunos. “Embora grande parte do trabalho seja online, estou sempre presente no que está acontecendo, principalmente quando um aluno perde rendimento ou está passando por alguma dificuldade. Esporte é pra acrescentar, não pra ser um peso pro aluno.”
A maioria dos atletas que acompanha é amadora, com rotinas cheias de compromissos profissionais e familiares. Por isso, busca levar a corrida com leveza, como uma prática possível. “O mesmo corpo e mente que treina é o que trabalha. É legal se desafiar, mas em primeiro lugar está sempre a saúde. Incentivo cada um a adaptar o esporte à própria realidade.”
Gisele também destaca os inúmeros benefícios que a corrida de Endurance traz para a saúde física e mental. Ela cita a prevenção de doenças cardiovasculares, diabetes e hipertensão, mas vai além. “A corrida auxilia em tratamentos emocionais, ajuda na autoestima, no sentimento de força, na superação de desafios e na qualidade de vida.”
A rotina de treinos, segundo ela, deve sempre considerar o equilíbrio entre intensidade e recuperação. “Algumas semanas são mais intensas, outras menos. O controle de carga é essencial tanto para os resultados quanto para prevenir lesões. Sempre oriento que o treino de corrida seja intercalado com fortalecimento.”
Para quem deseja começar a correr longas distâncias, o conselho é direto: respeitar o próprio tempo. “Comece sem se comparar com quem já está na caminhada há mais tempo. Sinta seu corpo, tenha paciência e disciplina. Ter um profissional acompanhando também faz toda a diferença.”
O cenário da corrida em Mato Grosso do Sul, e em especial em Dourados, é promissor, ainda que enfrente alguns desafios. “Estamos tomando espaço. Hoje temos mais assessorias do que antes, todas com boas demandas. As provas começaram a surgir, o que motiva os alunos. Mas ainda faltam lugares mais apropriados para treino, com menos trânsito, mais seguros.”
No horizonte, Gisele se prepara para representar Mato Grosso do Sul na elite da Corrida do Pantanal, marcada para outubro em Campo Grande. “Espero poder dar orgulho”, diz, sorrindo. Como treinadora, está trabalhando em novos projetos — mas prefere manter os detalhes em segredo por enquanto. “Nada a declarar ainda”, brinca.
O que não é segredo é a motivação que a move todos os dias. “Precisei de muita dedicação pra me formar e pra ser o que sou hoje. Passei por muito perrengue por conta das condições financeiras. Educação Física sempre foi minha paixão e eu queria muito. Como gosto do que faço, não é pesado. Quero continuar sendo inspiração para meus atletas, mostrar que tudo vale a pena quando a gente se dedica.”