Aos 29 anos, Kefrem Filipe Martins da Silva — conhecido como Telo Treinador — vive uma nova fase no futebol, agora fora das quatro linhas. Natural de Campo Grande, ele começou a carreira de goleiro ainda criança, passou por clubes como Cene, Palmeiras, Red Bull Brasil e Mogi Mirim, e hoje dedica a vida à formação de goleiros na capital sul-mato-grossense. Com uma metodologia própria e turmas que reúnem mais de 40 alunos, Telo mira agora um novo objetivo: a construção de um centro de treinamento exclusivo para goleiros, o primeiro do Estado.
A relação com o futebol começou cedo. Aos oito anos, já defendia as traves em uma escolinha pública da cidade. Pouco depois, foi chamado para atuar no Cene, clube tradicional do futebol estadual. “Passei quatro anos da minha carreira lá. Um momento marcante foi quando subi para o profissional com apenas 15 anos, sendo o atleta mais novo do MS a subir para o profissional”, lembra. Na ocasião, o treinador da equipe era Wagner Veloso, ex-goleiro e ídolo do Palmeiras.
A oportunidade no time profissional abriu portas para Telo. Pouco tempo depois, ele ingressou nas categorias de base do Palmeiras. Lá, teve uma passagem curta, sendo logo emprestado ao Red Bull Brasil, onde permaneceu por quase três anos, entre o sub-15 e o sub-17. O currículo ainda inclui passagens por Mogi Mirim, Atlético Araçatuba e Comercial-MS. No Colorado, participou da preparação para a Copa São Paulo de Futebol Júnior, sob o comando do técnico Mauro Marino.
Mesmo com uma carreira promissora, Telo decidiu encerrar a trajetória como atleta por motivos pessoais. A decisão não o afastou do futebol, mas deu início a uma nova jornada: a de treinador. “Sempre fui apaixonado por futebol, especificamente pela posição de goleiro. Não me vejo fazendo outra coisa. Ser goleiro está no DNA”, afirma. Para se especializar, formou-se em Educação Física e concluiu o curso da CBF voltado ao treinamento de goleiros.
A experiência acumulada como atleta e o contato com grandes nomes do futebol ajudaram a moldar sua metodologia de trabalho. “Minha filosofia é baseada em tudo que aprendi quando jogava, tanto no Palmeiras quanto no Red Bull Bragantino. Eu até criei algumas nomenclaturas que hoje vejo alguns treinadores do nosso Estado utilizando. Não poderia deixar de citar o Juliano Marsaro, meu ex-treinador, que me ajudou muito com isso.”
Seu método é estruturado sobre três pilares. O primeiro são os aprendizados como atleta profissional; o segundo, a vivência militar — Telo serviu ao Exército —, que trouxe a disciplina para os treinamentos; e o terceiro, os conhecimentos adquiridos na graduação em Educação Física. “Disciplina é algo essencial, tanto na caserna quanto nos campos.”
Para ele, o maior desafio de quem trabalha com formação de goleiros hoje é encontrar atletas realmente comprometidos. “Tenho certeza que, se o atleta estiver 100% comprometido, isso facilita muito o nosso trabalho. Digo sempre a eles: o treinador é apenas 5%. Os goleiros têm que ser os outros 95%.”
Ao longo da trajetória como treinador, Telo já trabalhou com nomes importantes do futebol brasileiro. “Trabalhei com muitos nomes famosos como Mirandinha, da Seleção Brasileira, o próprio Veloso, o goleiro Júlio César, o Carlos Coronel — hoje na Seleção do Paraguai e no Red Bull New York —, e o Juliano, treinador da Seleção Brasileira de base. Tive também o prazer de formar o Bruninho Samudio, filho da Eliza Samudio.”
Bruninho, inclusive, é um dos principais nomes da nova geração de goleiros que passaram pela escola comandada por Telo. O garoto atua pelo Botafogo e está atualmente na Alemanha, disputando um torneio internacional. “Ele tem uma projeção sensacional e já é cogitado para a Seleção Brasileira Sub-15”, destaca. Além dele, outros atletas formados pelo treinador atuam em grandes clubes do Brasil e do exterior, como Pedro Lopes (Athletico-PR), Pedro Henrique (Avaí), Ismail Daleh (Internacional), Felipe Prieto (Corinthians) e Lucas Fernandes (Chelsea).
Com a bagagem adquirida e os resultados já colhidos, Telo agora foca em um projeto ainda mais ambicioso: a construção de um centro de treinamento exclusivo para goleiros em Campo Grande. A estrutura seria a primeira do tipo no Mato Grosso do Sul. “Quero construir uma academia de goleiros na cidade morena. Uma estrutura onde eu consiga proporcionar conforto e qualidade de trabalho aos atletas, e auxiliar, através das parcerias e contatos que temos, a saída deles para jogar pelo Brasil afora.”
Ele explica que já recebeu propostas para integrar comissões técnicas de clubes de Série A, como o Coritiba, mas optou por seguir com o trabalho em sua escola na capital. “Nenhum clube de base pagaria hoje o que eu ganho com a minha escola. Descartei várias possibilidades para continuar o meu trabalho com meus guerreiros aqui.”
Apesar da dedicação, Telo reconhece a dificuldade de manter atletas sonhando em atuar no futebol profissional dentro do Estado. “Infelizmente, o nosso cenário não é favorável. Nenhum dos nossos mais de 40 goleiros sonha em jogar profissionalmente no Mato Grosso do Sul. Isso é triste.”
Questionado sobre qual conselho daria a um jovem que sonha em se tornar goleiro profissional, ele é direto: “Trabalho. Não existe goleiro sem trabalho. Tem que ser o primeiro a chegar e o último a sair. Só o trabalho vence o talento. Os goleiros têm que querer mais do que os seus treinadores, e geralmente os treinadores já querem muito.”