Wicleff Maycon Santos Bezerra, 34 anos, nasceu em Corumbá, Mato Grosso do Sul, e desde 2011 reside em Bonito. A mudança de cidade, que aconteceu após um episódio pessoal delicado, acabou sendo decisiva para sua trajetória nas artes marciais. "Minha vinda para Bonito foi de uma forma não muito agradável, mas como Deus planejou para mim… foi quando os agir de Deus começou na minha vida através das artes marciais", afirma o lutador.

Ele iniciou sua carreira em artes marciais com o Muay Thai em 2012 e, quatro meses depois, começou a treinar MMA com o mestre Cláudio Rocha. Desde então, Wicleff acumulou 22 lutas profissionais em seu cartel, com 12 vitórias, 7 derrotas, 1 empate e 1 luta sem resultado, devido à lesão de seu oponente. "Sempre fui e sou um cara muito agitado e brigava na minha adolescência. Fiz a primeira aula experimental no Muay Thai e ali vi um futuro. Gastava muita energia e comecei a me tornar um cara mais calmo e disciplinado no tatame e na vida no meu dia a dia", conta.

Para Wicleff, a prática das artes marciais trouxe aprendizado para além do esporte. "Percebi o valor e os lados bons das artes marciais: foco, disciplina, coordenação motora, comprometimento com horários", explica. Esse desenvolvimento pessoal também se refletiu na superação de obstáculos, especialmente a falta de apoio inicial de amigos e familiares. "Tentaram me desmotivar a continuar, dizendo que não era possível, que eu era ruim, que isso não levaria a nada. Então fui lá e mostrei que sim, isso era possível e eu era capaz", relata. Hoje, ele ocupa a 17ª posição entre os lutadores da categoria 66kg no Centro-Oeste, entre mais de 5 mil atletas.

Um dos marcos de sua carreira foi a primeira luta internacional, realizada na Suécia em 2022. Apesar de não ter saído vitorioso, ele considera a experiência um passo importante na trajetória. "Fui representar a minha academia e a cidade de Bonito, mesmo sem nenhum apoio financeiro da cidade ou da maioria dos empresários locais. Fizemos uma boa luta", lembra.

Conciliar trabalho, treino e paternidade é um desafio diário para Wicleff. Desde 2015, ele trabalha como gerente administrativo na Pousada Villas Bonito, dedicando cerca de 10 horas por dia ao trabalho. Após o expediente, mantém sua rotina de treinos, que inclui exercícios físicos de força, treinamento funcional e sessões de MMA de 1 a 2 horas. "Sou pai solteiro, cuido do meu filho, busco ele na creche e depois me preparo para o treino de MMA na academia do meu mestre", detalha.

A preparação mental também é um ponto central em sua rotina. Para ele, o dia da luta exige foco absoluto e controle da ansiedade. "Minhas lutas são apenas reflexos dos meus treinos. Tento estar sempre com a cabeça boa, desligando-me dos problemas pessoais para focar naquele momento. A adrenalina já nos tira uns 30% antes da luta, mas fora isso é só mais um treino onde posso realmente bater com potência total e expor meu lado 100% agressivo", afirma.

Representar Bonito e Mato Grosso do Sul em competições é motivo de orgulho para o lutador. "Para mim é sempre uma honra lutar em casa e, principalmente, fora de casa, levar o nome de nossa cidade para todos os lugares do estado e até mais longe ainda, na Europa. A primeira coisa que é anunciada é ‘Nossa cidade, Bonito, MS’, e depois o meu nome", explica. Ele ressalta, no entanto, que o esporte ainda carece de reconhecimento e apoio formal de autoridades e empresários locais.

Entre seus objetivos futuros, Wicleff deseja expandir sua carreira internacional e iniciar um projeto social voltado para crianças de 8 a 15 anos em situação de baixa renda, sempre com foco na educação. "O projeto vai inserir as crianças no mundo das artes marciais, mas a educação fica em primeiro lugar. Queremos formar cidadãos disciplinados e responsáveis, além de atletas", destaca.

Ao aconselhar jovens que sonham seguir carreira no MMA, Wicleff reforça a importância do início precoce e da disciplina. "Comece o quanto antes. As artes marciais são uma ferramenta importante na vida de uma pessoa. Além de aprender a lutar, a pessoa adquire autoconfiança, foco e disciplina. No mundo em que vivemos, lutar se torna uma obrigação — melhor você saber e nunca precisar do que precisar e não saber", recomenda. Ele conclui com a frase que guia sua vida e carreira: "Seja um guerreiro no jardim do que um jardineiro na guerra. Oss".