Da Redação
A trajetória de Moisés da Silva Flores Júnior no jiu-jitsu começou longe de Mato Grosso do Sul, mas foi decisiva para moldar sua vida. Natural de Ponta Porã, nascido em 5 de setembro de 1979, ele se mudou para Madrid, na Espanha, em 2002, aos 22 anos, para trabalhar. Um ano depois, em 2003, aos 23, conheceu o atleta Fabrício Werdum no estádio Vicente Calderón. Foi ali que recebeu o convite que mudaria seu caminho.
“Ele me emprestou um kimono e comecei a treinar jiu-jitsu. Foi amor à primeira vista”, relembra. Hoje, aos 45 anos, ele soma 22 anos de prática e 15 anos como faixa-preta.
O início, porém, não foi simples. Moisés conta que, por ser o pioneiro na família a entrar no mundo das artes marciais, enfrentou dificuldades para receber apoio. “A tradição da minha família sempre foi se formar em alguma faculdade e prestar um concurso público. Apenas minha mãe pôde me apoiar moralmente, e uma tia minha de Florianópolis, que tinha mais condições, me ajudou financeiramente”, explica. Com o tempo, o reconhecimento chegou. “Quando consegui maior destaque como atleta, aí sim tive uma visão melhor dos familiares, que hoje me veem como exemplo.”
Até conquistar a faixa marrom, ele viveu intensamente como competidor. “Eu fazia de dois a quatro treinos por dia e todo mês viajava para algum lugar do mundo competir”, conta. Um dos momentos mais marcantes de sua carreira foi no Sul-Americano de 2010, em Florianópolis, quando se consagrou campeão na categoria e no absoluto. “Fui graduado faixa-preta no pódio”, relembra.
Ao longo de mais de duas décadas no tatame, Moisés acumulou mais de 120 títulos, incluindo conquistas como o Campeonato Brasileiro, Sul-Americano e Pan-Americano. Apesar da vasta experiência, ele ainda guarda um objetivo pessoal: “Tenho o sonho e objetivo de conquistar o título mundial na Califórnia.”
Como instrutor, ele busca ir além da técnica. “O jiu-jitsu é muito importante para o desenvolvimento dos meus alunos no dia a dia em todas as áreas, trazendo mais segurança como pessoa e uma postura mais decidida. Ajuda no equilíbrio. Se o aluno é mais acelerado, ele se acalma, e se é pacato, fica mais ousado.”
Além da disciplina, Moisés também insere no seu trabalho ensinamentos que carrega como cristão. “Gosto de compartilhar princípios bíblicos que também estão relacionados a ter melhor comunhão com a sociedade. Acredito ser fundamental e que acrescenta muito, principalmente em dias difíceis e de valores invertidos.”
Para ele, conhecer a história da arte é fundamental. “Todo aluno que está iniciando no jiu-jitsu precisa saber mais a fundo sobre sua origem e sobre a família Gracie, que são os fundadores do jiu-jitsu brasileiro”, defende. Antes de começar um trabalho com um novo praticante, procura entender seu propósito. “Quando um aluno me procura para treinar, busco saber qual o seu objetivo com a arte. Sendo ele competidor ou não, é importante ter o jiu-jitsu como defesa pessoal.”
O esporte, segundo Moisés, tem crescido em Mato Grosso do Sul, especialmente na organização de eventos e na valorização dos atletas. “Há mais competições bem estruturadas e premiações em dinheiro, o que incentiva a prática e a busca por resultados”, avalia.
No momento, ele concentra esforços para reabrir sua própria academia, ao lado dos sócios Édio e Bruna, proprietários da Help Camisetaria. “Vou trabalhar com todo tipo de público, mas quero formar grandes atletas de alto nível, a começar por minha filha, que escolheu seguir a carreira do pai e desbravar esse mundo afora.”
Apaixonado por lutas desde criança, Moisés vê no tatame um caminho de transformação. A experiência adquirida ao longo de mais de 20 anos como atleta e instrutor é a base para seu próximo passo. “Quero seguir competindo, continuar ensinando e ajudar a formar campeões, dentro e fora das competições.”