Natural de Panorama, no interior de São Paulo, Raira Priscila de Freitas encontrou em Três Lagoas o espaço ideal para realizar um antigo sonho: usar o futebol como ferramenta de transformação social. Ex-jogadora de futsal, com passagens por equipes importantes e títulos como o Campeonato Paulista, ela decidiu criar uma escolinha de futebol que leva seu nome, com o objetivo de oferecer oportunidades para crianças e adolescentes de 7 a 14 anos.

“A ideia nasceu do meu amor pelo futebol e da vontade de oferecer oportunidades para crianças e adolescentes da minha cidade”, explica. “Depois de anos jogando futsal em alto nível, inclusive sendo campeã paulista, eu senti que era hora de retribuir e inspirar outras pessoas com o esporte. Criei a escolinha para formar atletas, mas principalmente cidadãos.”

Com treinos realizados semanalmente, a escolinha atende dezenas de jovens e segue uma proposta que vai além da técnica. Segundo Raira, o trabalho busca ensinar valores que servirão para toda a vida. “Disciplina, respeito, trabalho em equipe, humildade e comprometimento. O esporte ensina muito mais do que técnica, ele prepara para a vida”, afirma.

Essa visão de formação integral norteia toda a atuação de Raira como treinadora. Ela vê no futebol um importante instrumento de desenvolvimento social e pessoal. “O futebol ajuda na convivência, no autocontrole, na empatia e no foco. É uma ferramenta poderosa de inclusão social, ocupando o tempo com algo positivo e despertando sonhos”, diz.

Lidar com crianças e adolescentes de diferentes idades impõe desafios diários para a treinadora. Ela reconhece que cada faixa etária exige uma abordagem específica, tanto do ponto de vista técnico quanto emocional. “O principal desafio é lidar com as diferentes fases de desenvolvimento físico e emocional. Cada idade exige uma abordagem. É preciso paciência, escuta e adaptação para manter o equilíbrio entre ensinar, motivar e não pressionar”, analisa.

A rotina da escolinha é composta por treinos técnicos focados nos fundamentos do futebol. “Os treinos acontecem durante a semana, com foco em fundamentos como passe, domínio, condução de bola, finalização e posicionamento. Também damos atenção à coordenação motora, leitura de jogo e, acima de tudo, à parte lúdica, principalmente nas categorias menores”, detalha.

Raira observa que há diferenças no engajamento entre as idades. “As crianças mais novas vêm com mais energia e espontaneidade. Já os adolescentes passam por outras influências e precisam de estímulos mais específicos. O segredo é entender o momento de cada um e propor desafios adequados”, explica.

Desde a criação da escolinha, Raira tem se empenhado para proporcionar experiências que vão além do ambiente de treino. A participação em competições e eventos esportivos é parte importante do processo pedagógico. “Sempre buscamos levar os alunos para campeonatos regionais e estaduais, além de amistosos e festivais esportivos”, conta.

Atualmente, a escolinha mantém uma parceria fundamental com a Família OT. “Temos parceria com a Família OT, que abraçou esse projeto e nossos alunos. Tem sido fundamental para o sucesso dessa jornada”, destaca.

Essa colaboração tem ampliado as oportunidades para os jovens atletas e fortalecido o projeto como um espaço de socialização, desenvolvimento técnico e construção de cidadania.

A presença dos pais e responsáveis é considerada um elemento indispensável no processo formativo. “Eles são fundamentais. Incentivamos que acompanhem os treinos, jogos e participem ativamente da rotina esportiva. Mantemos diálogo constante, pois o apoio familiar influencia diretamente no rendimento e na evolução das crianças”, afirma.

O futuro da escolinha é desenhado com metas bem definidas. Raira quer ampliar a atuação, criar melhores condições de trabalho e aumentar o alcance social do projeto. “Quero ampliar as categorias, oferecer bolsas para atletas em situação de vulnerabilidade, ter uma sede própria com melhor estrutura, e ver atletas da escolinha sendo reconhecidos nacionalmente”, projeta. “Mas o maior sonho é continuar mudando vidas através do esporte.”

Como mulher à frente de um projeto esportivo, Raira Priscila de Freitas reconhece os desafios que enfrentou e ainda enfrenta, mas faz questão de deixar uma mensagem para outras mulheres que desejam seguir o mesmo caminho. “Não deixem que o preconceito defina seus limites. Sejam firmes, estudem, busquem conhecimento e não tenham medo de ocupar espaço”, aconselha.

Ela reforça a importância da representatividade no esporte. “O esporte precisa da força, sensibilidade e visão das mulheres. Representatividade importa, e muito”, conclui.