O triatleta sul-mato-grossense Rafael De Marco viveu uma experiência transformadora ao participar do Ironman 70.3 no Panamá. A prova, que reúne atletas de diversas partes do mundo, foi sua estreia em competições de longa distância no triathlon e trouxe aprendizados que vão além do esporte. “Posso dizer que foi uma experiência que superou todas as minhas expectativas. O Panamá é um país incrível, com belas paisagens e com um povo muito acolhedor e vibrante, o que deu a essa prova uma energia e um brilho ainda maior”, relatou.
O desafio incluiu 1,9 km de natação, 90 km de ciclismo e 21,1 km de corrida, sob condições climáticas adversas, como calor intenso e alta umidade. No entanto, uma das maiores dificuldades que De Marco enfrentou aconteceu ainda no início do ciclismo. Aos 20 km do percurso, sua corrente caiu e ficou presa, impossibilitando a continuidade da prova com sua bicicleta. “Tentei de toda forma, mas não conseguia retirar”, lembrou.
Foi então que um gesto inesperado mudou o rumo da competição para ele. O colega de equipe Fernando Cury, atleta experiente com diversas provas de Ironman no currículo, percebeu a situação e tomou uma decisão pouco comum em competições desse nível. “Ele parou sua prova, desceu da bicicleta para me ajudar a tentar consertar a minha e, ao ver que não havia solução, me disse: ‘Cara, é sua primeira prova, de todo coração, pega minha bicicleta e vai até o final’. Me emociono cada vez que me lembro disso, pois foi um gesto de uma grandeza e de uma bondade que poucos, ou quase ninguém, estaria disposto a fazer.”
A adaptação ao novo equipamento foi desafiadora. “Deixei minha bike de lado e, com ela, perdi meu sistema de hidratação e meu GPS, que me dava as referências de potência e cadência”, explicou. Além disso, precisou se ajustar a altura do banco e se acostumar a um sistema de trocas de marcha que nunca havia utilizado antes. “Foi como aprender a pilotar o avião durante o voo, e ainda restavam aproximadamente 70 km de subidas e descidas para concluir a etapa de ciclismo.”
Apesar do esforço para se adaptar, ele sentiu as consequências físicas. “Realizei essa etapa com dores no pescoço e com assadura entre as pernas por causa do desconforto de estar pedalando em uma bicicleta sem minhas medidas”, contou. Ainda assim, ele seguiu adiante, determinado a concluir a prova. “Só conseguia agradecer por ter uma segunda chance e poder continuar na prova.”
Na última etapa, a corrida, os desafios continuaram. “Já comecei com cãibras por ter pedalado muito tempo na ponta dos pés e tive que negociar com o corpo até o final, colocando gelo e fazendo alguns alongamentos.” Para De Marco, porém, a possibilidade de cruzar a linha de chegada era mais importante do que qualquer dificuldade. “Desistir não era uma opção, pois eu sabia que a melhor forma de agradecer ao meu amigo seria concluindo a prova independentemente da situação em que eu conseguisse chegar.”
A preparação e o apoio fundamental
A participação no Ironman 70.3 do Panamá exigiu meses de preparação intensa. Como atleta amador, De Marco precisou conciliar os treinos com o trabalho. “Todos temos que adaptar nossa rotina de trabalho com a nossa rotina de treinos. Isso por si só já faz parte da preparação psicológica para resistir a uma prova como essa.” Durante quatro meses, ele seguiu um treinamento específico sob orientação da técnica Mariana Ramos. “Tenho que agradecer imensamente a Mari pela paciência, pela orientação e pela coragem que me deu para que eu pudesse continuar firme durante todo o ciclo.”
Além da disciplina nos treinos, ele também precisou ajustar sua alimentação e abdicar de momentos de lazer para focar na preparação. “Isso exige estar disposto a encarar os treinos mesmo quando não se está nos seus melhores dias.” O suporte da família teve papel essencial nesse processo. “Minha esposa, Cassiana, saía de bicicleta pela cidade ao meu lado para me entregar água enquanto eu fazia meus treinos longos de corrida, por exemplo.”
Do basquete ao triathlon
Antes de ingressar no triathlon, De Marco construiu uma trajetória no basquete, esporte que praticou dos 14 aos 35 anos. Ele começou no ensino médio, participou de campeonatos universitários e, nos últimos anos, disputou torneios dentro e fora do estado. Em 2023, durante a preparação para os Jogos Abertos, sofreu uma lesão no ombro que causou a ruptura de ligamentos e o afastou temporariamente das quadras. “Para me manter ativo, comecei a participar de provas de corrida de rua e de montanha, o que acabou me aproximando dos esportes de endurance e, consequentemente, do triathlon.”
A transição para a nova modalidade começou ao entrar em contato com a RB Assessoria Esportiva. “Confesso que no início pensei que era um esporte muito distante da minha realidade, mas ao procurar grupos de triathlon nas redes sociais, encontrei a página da RB Assessoria, com um nome que me chamou atenção: ‘Triathlon Você Pode’. Falei com o Raphael Bittencourt (proprietário da assessoria) por telefone e dei início à minha jornada nesse esporte.”
Desde então, ele participou de provas em diferentes distâncias, evoluindo da categoria Sprint para a Olímpica até chegar ao Ironman 70.3. No triathlon, ele encontrou novos desafios e uma comunidade de atletas que se apoia mutuamente. “Encontrei grandes amigos nesse esporte e com certeza esses treinamentos em grupo fizeram toda diferença em todo o processo.”
Próximos desafios
Após a experiência no Panamá, De Marco já tem novas metas. Em agosto, disputará o Ironman 70.3 no Rio de Janeiro. Em outubro, tem vaga garantida para representar o Brasil no Mundial de Triathlon na Austrália, na categoria Age Group (35 a 40 anos), na distância Short e Standard. “Ainda estou tentando viabilizar essa participação, pois é uma viagem que tem um custo alto e uma logística bem complicada.”
O objetivo a longo prazo é completar um Ironman Full, que inclui 3,8 km de natação, 180 km de ciclismo e 42 km de corrida. “Essa é uma das provas de resistência mais duras do mundo.”
O aprendizado do Ironman
Para De Marco, a experiência no Ironman 70.3 trouxe mais do que um resultado esportivo. “O Ironman, seja ele na distância 70.3 ou o Full, não é apenas uma linha de chegada, é algo sobre quem você era antes e o quanto você se fortaleceu para chegar lá.”
Para quem sonha em iniciar no triathlon e participar de provas como essa, ele reforça a importância do planejamento e do suporte técnico. “Não tente fazer isso sozinho, confie em seu treinador e tenha um bom time ao seu lado, pois tudo fica bem mais fácil quando você tem alguém dividindo esse sonho com você.”