Fundar o próprio centro de treinamento era um passo natural para Cristiane Ávila Santana, de 37 anos. Após seis anos como sócia e professora principal de um centro de kickboxing em Dourados, decidiu trilhar um novo caminho e, em fevereiro de 2025, inaugurou o CT Cris Ávila Strikers Team. O espaço oferece aulas de kickboxing e boxe para turmas adultas, femininas e infantis.

“Devido a problemas na sociedade, decidi desfazer o negócio e abrir meu próprio Centro de Treinamento”, conta. Em menos de seis meses de funcionamento, a estrutura ainda está sendo consolidada, mas já tem atraído um número expressivo de alunos e alunas, em especial mulheres e crianças. “Hoje posso dizer que meu público, por exemplo, é de 65% formado por mulheres e meninas. No kids, a maioria também são meninas”.

A metodologia de ensino segue uma linha única entre adultos e mulheres, com adaptações pontuais. “Procuro passar as mesmas técnicas para os dois grupos. O que, às vezes, faço diferente para a turma feminina é a questão de alguns exercícios no aquecimento e alongamento, e o sparring tem menos intensidade”. Já no trabalho com crianças, o foco é o desenvolvimento técnico e motor, respeitando as limitações naturais da idade. “Na turma kids, vario bastante o aquecimento, com brincadeiras para envolver eles na atividade. A parte da técnica também é diferente, principalmente voltada ao Point Fight, que é a modalidade permitida para menores de 12 anos”.

O trabalho com o público infantil, que atende alunos entre 5 e 12 anos, exige preparo e didática específicos. “Os exercícios físicos são voltados para o que sei que vão conseguir desenvolver. Quantidade, tempo, intensidade, tudo pensado de acordo com as competências deles”, explica. “Procuro passar dinâmicas em que aprendem a ganhar e perder, a pensar em como resolver o problema”.

Além do desenvolvimento físico e técnico, Cris acredita que os esportes de combate contribuem diretamente na formação de valores e habilidades socioemocionais, especialmente na infância e adolescência. “Eles ensinam disciplina, hierarquia, respeito, ética. Mostram o quanto é necessário dedicação, esforço, determinação. Ajudam no controle da ansiedade, da frustração, desenvolvem a autoestima, o sentimento de perda e ganho. Enfim, são esportes de formação humana”.

Segundo ela, esse efeito transformador tem sido observado no dia a dia do centro. Alguns alunos a procuram com foco na saúde mental e encontram nos treinos uma forma de superar dificuldades emocionais. “Já tive alunos que queriam uma atividade para controle da ansiedade, sair de uma depressão, e conseguiram inclusive deixar a medicação”. Entre as crianças, há também resultados positivos com alunos neurodivergentes. “Tenho alunos com espectro autista e TDAH. Os pais procuram o esporte como forma de terapia cognitiva e de coordenação, e tem dado certo. Eles relatam melhoras”.

Nos treinos voltados à competição, Cris aplica o mesmo rigor que exige de si mesma. “Sim, participamos de competições. Inclusive eu sou uma das atletas da academia”, diz. “A preparação é contínua durante o ano todo. Não obrigo ninguém a competir, mas se se propuser a ir, tem que treinar sério”. Além dos treinos regulares, os atletas fazem atividades extras e seguem dieta específica, principalmente se for necessário bater peso. “Dependendo da modalidade que luta, pode chegar a fazer cinco ou seis lutas no mesmo dia. Então deve estar bem condicionado”, reforça.

Apesar da competitividade, ela ressalta que o principal objetivo da equipe é a construção de um ambiente saudável, onde cada um possa alcançar sua meta pessoal. “A transformação depende do objetivo de cada um. Tanto o kickboxing quanto o boxe podem ajudar muito a alcançar o que se deseja”.

Para manter os alunos motivados ao longo do tempo, Cris aposta no incentivo constante e no exemplo. “Mostrar que é possível, mesmo que não pareça. Um ajuste aqui, outro ali, e você pode alcançar o que pretende”, afirma. “Essa é uma das razões que me faz sempre estar treinando junto com eles, competindo, para motivar e inspirar”. Segundo ela, o domínio técnico também é essencial. “Você pode ser o melhor coach que for, mas se não dominar aquilo que ensina, não vai conseguir manter a motivação dos seus alunos”.

Com a academia recém-aberta, os planos de expansão ainda são moderados. “Quero ter uma equipe de competidores permanentes, mas sei que isso vai se estabelecer com o tempo e trabalho”. A meta a médio prazo é formar alunos graduados e estruturar uma equipe de professores. Hoje, Cris conta com o apoio de Marcos Almeida, faixa preta de kickboxing, como professor.

Ela acredita que, mais do que formar atletas, o centro tem cumprido um papel importante na promoção do bem-estar, da saúde física e mental, e da convivência coletiva. Para muitos, os treinos são também um espaço de acolhimento. “Vários fatores motivam a procura, como aprender autodefesa, elevar a autoestima, desenvolver a parte física e a socialização com outras mulheres. Muitas dizem que é quase uma terapia”.

Cris Ávila segue firme com o propósito de fazer do esporte uma ferramenta de transformação acessível a diferentes públicos. Com os pés no chão, ela aposta na construção sólida e contínua da equipe. “Estamos caminhando e estruturando mais o CT para poder fazer e dar o melhor aos nossos alunos. Seguindo um dia de cada vez e sempre com o pé no chão”.